Histórico

Uma semana para esquecer

Jorge Moreira Nunes

A semana que passou foi pródiga em más notícias. Começamos com a morte estúpida de 298 pessoas no avião da Malaysian abatido em voo sobre a Ucrânia, atingido por um míssil disparado por rebeldes separatistas no país. A brutalidade da morte de gente que não tinha nada a ver com o conflito sobre o qual passava chocou o mundo inteiro, e os esforços para resgatar os corpos das vítimas só aumentaram a angústia de ver a crueza de uma tragédia inútil e sem sentido. Fica o aviso de que nem a 33 mil pés de altura estamos livres da estupidez humana.

No Oriente Médio, mais tragédias são anunciadas.

Da Faixa de Gaza, uma minúscula área incrustrada no território israelense devotada a abrigar os palestinos da região, partem foguetes disparados pelo Hamas, facção política que controla a Faixa, em direção a Israel, que revida bombardeando onde quer que julgue que se escondam as armas do Hamas, seja em escolas, hospitais ou residências. Centenas de civis morreram nos ataques, entre eles dezenas de crianças. A intransigência de ambos os lados pode levar a uma carnificina sem precedentes, já que o desequilíbrio de forças entre os dois inimigos é gritante, digna do combate bíblico entre David e Golias. E quem pensa que o conflito surgiu por causa do assassinato de três jovens israelenses pelo Hamas há algumas semanas, vingados em seguida pela morte não menos brutal de um jovem palestino pelos israelenses, se engana. As etnias da região, a maioria com antigos ancestrais comuns, digladiam-se por ali há pelo menos dois milênios, sem nenhuma perspectiva de acordo para por fim à matança. O conflito piorou depois que foi criado o estado de Israel, na Palestina, numa área minúscula que representa mais ou menos a metade do território da Costa Rica, através de uma resolução da ONU, em 1948. De lá pra cá a violência só aumentou, a despeito das inúmeras tentativas de acordos feitos por governos de todas as facções políticas e dos apelos internacionais pela paz. No final da semana, como os foguetes do Hamas já atingiam as proximidades do aeroporto de Tel-Aviv, várias companhias aéreas cancelaram indeterminadamente os voos para a capital israelense, e a poderosa FAA (Federal Aviation Administration), que controla as operações aéreas civis nos Estados Unidos, decidiu proibir todos os voos de companhias americanas para Israel por 48 horas. A tragédia ainda está longe de terminar.

Em contraponto mórbido com essas tragédias, vieram as mortes ilustres de João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna, Johnny Winter, Rubem Alves e James Garner, que só aumentaram a impressão de que a semana que passou teve um papel especial na história recente. As mortes ilustres, embora tristes, são perfeitamente naturais, mas o que fez delas mais tristes foi justamente esse encadeamento de más notícias que dominou o noticiário nos últimos dez dias.

Talvez essas tristezas reunidas sirvam para nos mostrar que embora os tantos avanços tecnológicos tenham se esforçado para nos provar que estamos evoluindo como espécie há ainda uma fragilidade na humanidade que nos faz sucumbir a ações estúpidas e sem sentido, que insistem em mostrar para nós mesmos o quanto ainda somos primitivos e do quanto ainda precisamos evoluir para sermos considerados uma espécie verdadeiramente inteligente.

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