Antonio Tozzi Esportes

Campeonato Carioca perdeu o charme

Claro que sou de outra geração, porém não dá para negar que os campeonatos estaduais se tornaram um estorvo para o calendário do futebol brasileiro. Por ser um país de dimensão continental e praticamente de monocultura esportiva, onde o futebol reina inconteste, o Brasil insiste em manter os campeonatos estaduais que contraria a lógica do futebol atual.

O Campeonato Paulista é o único do país que consegue ser rentável. Os demais servem apenas para as principais equipes colocar mais um troféu em suas galerias. Claro que de vez em quando alguma equipe pequena consegue conquistar o título surpreendendo os favoritos, mas em 90% dos casos predominam os favoritos. Assim, é comum ver como campeões os bichos papões de cada estado. Apenas em São Paulo há dois tabus: o Palmeiras não é campeão desde 2008 e o São Paulo está na fila desde 2005.

Esse preâmbulo, porém, serve para falar especificamente do Campeonato Carioca. Nas décadas de 60 e 70, quando íamos aos cinemas, havia um documentário chamado Canal 100, produzido por Carlos Niemeyer, exibido antes dos filmes. Eram imagens magníficas, muitas em slow motion, detalhando jogadas eternizadas por craques como Didi, Gerson, Nilton Santos e outros do fabuloso Botafogo. E como esquecer da Máquina Tricolor, com Rivelino, Doval e Carlos Alberto Pintinho? E não dá para suspirar ao lembrar do Vasco da Gama de Roberto Dinamite, Moisés, Zanata e Andrada. Os fãs de futebol sempre têm um lugarzinho coração para vibrar com o esquadrão de Zico, Junior, Adílio e Andrade, entre outros craques, mesmo que torçam para outras equipes.

Pois bem, assistir as jogadas destes “deuses dos gramados no tapete do Maracanã” nos fazia sonhar em estar na arquibancada do Estádio Mario Filho – O Maior Estádio do Mundo, capaz de colocar mais de cem mil torcedores em clássicos reunindo os quatro grandes do Rio de Janeiro e com coadjuvantes de respeito como América e Bangu. Ao fundo, tocava a música “Que bonito é”, apenas com o instrumental. E quando a Seleção Brasileira se exibia no palco do Maracanã nos deliciávamos com as fintas de Pelé, com os dribles de Garrincha e com os gols de Jairzinho.

Com a morte de Niemeyer em 20 de dezembro de 1999, a magia do Canal 100 esvaiu-se definitivamente, embora já viesse sendo esmaecida a partir do final da década de 80, quando o genial produtor cinematográfico foi se afastando das câmeras. Alexandre Niemeyer, seu filho, vem tentando resgatar o fantástico arquivo cinematográfico deixado pelo pai como um legado para a posteridade e para as gerações mais novas saberem como é possível fazer magia por trás das câmeras.

Fórmula confusa e equivocada

A época dourada do futebol carioca também se apoiou na criativa forma de disputa, na qual a Taça Guanabara (nome do antigo estado que abrigava a cidade do Rio de Janeiro, então Capital Federal do País) correspondia ao primeiro turno e a Taça Rio (que compreende todos os municípios do estado fluminense) significava a conquista do segundo turno. Assim, os dois vencedores faziam dois jogos finais lotando o Maracanã. A torcida do clube campeão deixava o estádio cantando e vibrando pela conquista do título enquanto os perdedores saíam cabisbaixos colocando a culpa na arbitragem, criticando algum jogador e suportando as gozações dos vencedores. Entretanto, tiros, agressões e espancamentos eram raros, até porque as torcidas organizadas se preocupavam mais em criar ações que contribuíam com o espetáculo, como fazia a torcida do Flu ao jogar talco no ar para justificar a fama de “clube pó de arroz”, do que agir como esquadrões de brigas.

Hoje, a Federação do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) criou um monstrengo. O Vasco da Gama, campeão da Taça Guanabara com 100% de aproveitamento, não garantiu presença na final. Disputará a Taça Rio junto com seus adversários e, mesmo se vencer, não ficará com o título de campeão. Neste caso, o Vasco participará com outros três melhores classificados. Haverá, então, duas semifinais e os vencedores farão a final do Cariocão em um jogo único. O ganhador será decretado campeão carioca. Ou seja, mesmo com uma campanha impressionante, o clube ganhador dos dois turnos deixa de ser campeão por ter jogado mal uma partida decisiva.

No caso de haver dois campeões diferentes, isto é, outro clube que não seja o Vasco vencer a Taça Rio, aí a fórmula será outra. Os campeões da Taça Guanabara e Taça Rio estarão classificados, juntamente com outros dois times de melhor classificação. Neste caso, a final será em dois jogos. É ou não é o samba do crioulo doido, como dizia Stanislaw Ponte Preta. Ou o ritmo do afrodescendente mentalmente deficiente, como exige hoje o manual do politicamente correto.

Portões fechados por causa de torcidas

E, para piorar, os cartolas não cansam de fazer lambanças. A final da Taça Guanabara reuniu o próprio Vasco (comandado por Alberto Valentim) e o Fluminense, que tem como técnico o revolucionário Fernando Diniz. Causou estranheza a ausência do Flamengo de Abel Braga da decisão, pois o Rubro-Negro possui o melhor elenco entre os clubes do Rio de Janeiro.

Para os leitores entender o motivo da briga na final da Taça Guanabara, vamos recorrer à história. Em 1950, ano em que o Maracanã foi inaugurado, o Vasco da Gama foi o clube campeão carioca. Nada a contestar, pois possuía mesmo o melhor time do Brasil, que serviu de base para a Seleção Brasileira. Os dirigentes vascaínos da época escolheram o Setor Sul para acomodar seus torcedores em contraposição ao Setor Norte onde fica alojada a torcida do Flamengo, conforme um acordo estabelecido naquela época.

Pois bem, isto perdurou até 2013, quando foi construído o novo estádio do Maracanã, construído pela Odebrecht. Os dirigentes da Ferj, na época, resolveram fazer um sorteio para definição de locais destinados às torcidas. Aí, quem ficou designado a usar o Setor Sul do Novo Maracanã foi a torcida do Fluminense. Como as duas torcidas reivindicavam o mesmo local na final da Taça Guanabara, o Flu recorreu à Ferj, que ratificou o direito do clube das Laranjeiras. O Vasco, por sua vez, argumentou que somente concordou em jogar a final da Taça Guanabara por ter direito a escolher o local onde ficariam seus torcedores. Caso contrário, seus dirigentes falaram, levariam a final para o Estádio de São Januário, sede do Gigante da Colina. Para defender aquilo que julgava ser seu direito, foi à Justiça. Os advogados do Fluminense também apelaram e o juiz decidiu então que a final da Taça Guanabara seria de portões fechados. Isto em um futebol dito profissional com dois clubes que estão com sérios problemas de caixa, ou seja, gastam mais do que arrecadam.

Entretanto, o Vasco da Gama já havia vendido alguns ingressos para seus torcedores. E as pessoas decidiram ir ao Maracanã assim mesmo. Lá, com ingressos nas mãos, foram recebidos a borrachadas pela polícia do Rio de Janeiro, incumbida de policiar a entrada do estádio e evitar brigas entre torcedores. Depois de uma rápida negociação, a Justiça autorizou a abertura dos portões e as pessoas (na maioria, torcedores vascaínos) puderam entrar e assistir a partida, que já estava com 30 minutos jogados. Pelo menos, puderam vibrar com o “gol espírita” feito pelo lateral Danilo Barcelos que tentou cruzar para alguém cabecear a bola na área e foi beneficiado pelo quique da bola que enganou o goleiro Rodolfo e decretou a vitória da equipe cruzmaltina.

Depois dessa odisseia de domingo (17), os jogadores do Fluminense se negaram a treinar na terça-feira (19), reclamando por causa dos atrasos em salários e direitos de imagem. Depois de uma rápida negociação e determinação da Justiça para cumprir os contratos, eles retornaram aos treinamentos de olho na conquista da Taça Rio – agora, com reforços de Paulo Henrique Ganso e Allan. Ou seja, perderam uma grande oportunidade de faturar um bom dinheiro no jogo mais importante para os dois clubes por causa de picuinha de dirigentes. Dá para levar a sério o profissionalismo do futebol brasileiro?

Ah que saudade dos tempos do Canal 100 de Niemeyer…

Atlético-MG praticamente carimba passagem para Libertadores

Uma vitória por 2 a 0 fora de casa é um salto para um clube que busca qualquer classificação em mata-mata. Foi o que fez o Atlético ao bater o Defensor em Montevidéu, pela terceira e última fase antes da disputa na fase de grupos, com gols de Réver e Cazares. Levir Culpi reconheceu a grande vantagem do Galo. Mas, experiente como é, o treinador sempre deixa um recado para que jogadores não entrem não percam o foco.

Levir classifica como “ótima” a situação do Atlético. O time pode até perder o jogo de volta, quarta-feira que vem (27), no Independência, por um gol de diferença, que ainda assim avança à fase de grupos. Uma derrota por 2 a 0 leva a decisão da vaga para os pênaltis. “Foi uma vitória merecida e que nos deixa em uma situação ótima para o jogo de volta. Mas é um time uruguaio e deve ser respeitado porque é Libertadores. É muito importante a presença do nosso torcedor. Agora, vamos dar o retorno. Fomos bem tratados aqui, vamos tratá-los bem lá. Vamos jogar para fechar a classificação” A única preocupação da torcida do Galo é uma possível irregularidade na inscrição da lista de jogadores, de acordo com o regulamento da Conmebol (associação que comanda o futebol sul-americano).

Corinthians toma susto, mas se classifica na Copa do Brasil

Depois de ser surpreendido em pleno Itaquerão pelo Avenida de Santa Cruz do Sul (RS) e tomar 2 a 0, gols de Yuri e Tito. Entretanto, Henrique marcou no final do segundo tempo e recolocou o Timão no jogo. Na segunda etapa, o Corinthians sacramentou a vitória com gols de Danilo Avelar, Júnior Urso e Gustagol, classificando-se para a próxima fase da Copa do Brasil.

A vitória por 4 a 2 sobre o modesto Avenida, décimo colocado entre 12 times do Campeonato Gaúcho, foi o maior desafio do Corinthians na temporada – maior até do que Palmeiras ou São Paulo, dois rivais locais que o Timão venceu em clássicos pelo Paulistão.

Afinal, em vez de jogar como gosta, sem a bola e investindo em transições rápidas, contra-ataques e triangulações, o Corinthians saiu perdendo por 2 a 0 e teve de deixar a zona de conforto. Fábio Carille se viu na obrigação de agir, fez mudanças (de peças e táticas) durante o jogo e descobriu boas opções para o ataque, que fez quatro gols. Pedrinho jogou bem, Vagner Love foi o motor da reação corintiana, Sornoza deu mais uma assistência, e Gustagol, claro, marcou mais um. Mas, se o duelo da segunda fase da Copa do Brasil apresentou alternativas ofensivas, reforçou que a defesa precisa de ajustes – e de trocas, por que não? Manoel e Henrique, juntos, não têm funcionado, e até Cássio falhou no primeiro gol do Avenida.

O adversário da terceira fase do torneio nacional sairá do duelo entre Foz do Iguaçu e Ceará, quarta-feira que vem (27). Enquanto isso, o foco volta ao Paulistão: tem jogo contra o Botafogo, em Ribeirão Preto, no domingo (24).

Vasco vence Serra com tranquilidade no Espírito Santo

O Vasco foi a Cariacica, no Espírito Santo, para ser o visitante diante do Serra-ES, mas parecia jogar em casa. Com o apoio da torcida no estádio Kleber Andrade, o Cruz-Maltino venceu os donos da casa por 2 a 0 e avançou à terceira fase da Copa do Brasil. Lucas Mineiro, no primeiro tempo, e Ribamar, no fim, marcaram os gols do time comandado por Alberto Valentim.

Contratado no início da temporada, Lucas Mineiro o volante tem sido, até agora, a maior surpresa do Vasco em 2019. O jogador se destacou mais uma vez diante do Serra-ES, com bons passes na saída de jogo e auxilio na criação das jogadas. Além de toda a participação no meio de campo, fez o gol da vitória, de cabeça. Também contratado no início da temporada, Bruno César teve sua melhor atuação com a camisa do Vasco na quarta-feira (2), diante do Serra-ES.

Na terceira fase da Copa do Brasil, o Vasco ainda não tem adversário definido. As partidas serão disputadas no fim de março e no início de abril.

Botafogo atropela Defensa y Justicia e avança na Sul-Americana

O Botafogo entrou no Estádio Norberto “Tito” Tomaghello em vantagem para enfrentar o Defensa y Justicia, pela partida de volta da primeira fase da Sul-Americana. E foi perfeito na estratégia que garantiu sua classificação à próxima etapa. Com dois de Erik e golaço de Alex Santana, o Alvinegro venceu por 3 a 0 e eliminou o atual vice-líder invicto do Campeonato Argentino.

Erik mais uma vez mostrou que veio para ser protagonista no Botafogo. O atacante roubou a cena e levou o time à classificação. Aos 7 da segunda etapa, recebeu belo lançamento de Jean, disparou em velocidade e mandou para as redes. Gol que desequilibrou o Defensa. Aos 29, cobrou pênalti sofrido por Pimpão com perfeição: goleiro para um lado, bola para o outro. Foi o melhor jogador em campo.

Avançar de fase na Sul-Americana significa certo alívio financeiro para o Botafogo. Por jogar a primeira etapa da competição, o Alvinegro recebeu 300 mil dólares. Classificado para a segunda fase, o time receberá mais 375 mil dólares. O Botafogo aguarda sorteio para saber quem enfrentará na segunda fase da Sul-Americana. A primeira fase só termina no dia 2 de maio.

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