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Dos EUA ao Brasil de carro: a viagem dos sonhos de Moré e Rui (parte II)

Após 40 dias pelos Estados Unidos e de serem bem recebidos pelos mexicanos, graças às camisetas da Seleção do Brasil, Moré e Rui desceram para a América Central

“Moro num país tropical/Abençoado por Deus/E bonito por natureza…”. As estrofes de um dos clássicos da MPB, “País Tropical”, de Jorge Benjor, descrevem com propriedade o Brasil. Que brasileiro não tem orgulho das belezas naturais de nosso país?

Mas, temos de admitir, beleza natural não é privilégio do Brasil. Todos os países possuem paisagens lindas, cenários fantásticos e pessoas amistosas. E a América é um continente privilegiado, com belas praias, vulcões, montanhas, contrastes climáticos.

A dupla Darci Moré e Rui Machado fez uma viagem maravilhosa dos Estados Unidos para o Brasil em 80 dias. Acompanhar a aventura deles é algo fascinante e faz com que um misto de inveja e admiração tome conta de nós.

Depois de percorrer 28 estados americanos em 40 dias, saindo de Miami e chegando ao Texas, Moré e Rui fizeram um périplo e ficaram apaixonados pelos EUA: “Este país é maravilhoso. Foram 40 dias de segurança, boas estradas, banhos quentes em postos de gasolina, cadeias de fast food, mini shopping, souvenirs, igrejas, dormindo na em estacionamentos. Tudo isto embalado pela trilha sonora de Zezé Di Camargo & Luciano, Leonardo e Solimões & Rio Negro, além da música tradicional gaúcha – a preferida do Rui”, afirma Moré.

Dali, eles seguiram para o México, onde foram brindados com cenários incríveis, que incluem pirâmides astecas, praias paradisíacas, desertos e hospitalidade. Claro que não dá para estranhar o contraste entre a riqueza dos EUA e a parcimônia mexicana. Nada, porém, que um papo sobre futebol brasileiro, camiseta da seleção, uma boa dose de tequila ou uma cerveja gelada não atenuasse.

Chegando à América Central – O México serviu como preâmbulo para a entrada na América Central, a partir da Guatemala. A definição de Moré para a Guatemala é a de um país pequeno, mas com muita chuva, abundância em frutas e cereais. Visitaram a Cidade da Guatemala, capital do país, e viram de perto um belíssimo vulcão inativo, no qual a população semeia milho, banana e mandioca em suas encostas.

Contrastando com as belezas naturais, há a corrupção e a pobreza. Moré conta que viu uma equipe canadense ser barrada na fronteira, por causa do suborno dos guardas de fronteira. Eles também viveram uma situação inusitada, com pessoas miseráveis literalmente subindo em cima da van para ver se ganhavam um trocado. “Tive de sair com um bastão de beisebol na mão para espantar o pessoal, porque senão ficaríamos presos ali”, revela o brasileiro.

A experiência em Honduras foi marcante. Lá, a dieta foi quase toda composta por bananas: “De manhã, à tarde ou à noite, comíamos bananas. Nunca comi tanta banana na minha vida”, reconhece Moré, que, no entanto, admitiu ter sido contemplado com a mais linda praia da América Central e ter saboreado o netscal, uma aguardente local.

Em El Salvador, Rui e Moré viveram uma aventura fantástica. Através de contatos e conhecimentos acabaram hospedando-se na casa de um deputado local, por sinal, riquíssimo. Lá também pelo jeito os parlamentares não gostam de pobreza. As acomodações eram suntuosas e o preço irrisório. Pagavam apenas três dólares por dia para desfrutar da casa de frente para o mar, na praia de San Diego, direito a piscina, ar condicionado e banho quente.

Guerrilheiros – Mais do que tudo, o que valeu pela permanência em El Salvador foi o caseiro do tal deputado. O homem, hoje um pastor evangélico, integrou o grupo guerrilheiro de esquerda FLMN (Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional), que entrou na luta armada para depor o governo de José Napoleón Duarte, do Partido da Democracia Cristã. Segundo os guerrilheiros, a eleição de Duarte foi um jogo de cartas marcadas que alijou os simpatizantes da guerrilha, que começou suas atividades em 1977.

O caseiro contou para eles suas atividades como ex-guerrilheiro, lembrou as atrocidades e as barbaridades daquela época. Admitiu ter matado muitas pessoas durante o período de combates entre os grupos esquerdistas, os paramilitares de direita e forças do governo. O saldo da guerra civil salvadorenha é trágico e deixou 70 mil mortos. Hoje, a FMLN é reconhecida como partido político e o clima no país está mais tranqüilo.

A dupla de aventureiros passou rapidamente pela Nicarágua em virtude das fortes chuvas, das estradas e pontes alagadas. No entanto, apesar do pouco tempo, puderam conhecer um ex-sargento sandinista, que só falava em guerras e declamava poesias. “Um louco!”, definiu Moré.

Paralelamente ao que ocorreu em El Salvador, a FSLN (Frente Sandinista de Libertação Nacional) também foi bastante ativa por quase duas décadas (1961-1979). Fundada em homenagem ao líder rebelde Augusto Sandino, a guerrilha pegou em armas para depor o governo corrupto de Anastásio Somoza. A exemplo da FMLN, a FSLN também transformou-se em partido político e chegou até mesmo a vencer as eleições em 1984, com Daniel Ortega tornando-se presidente da Nicarágua. Em 1990, ele foi derrotado nas urnas por Violeta Chamorro e perdeu as eleições de 1996 e 2001. Hoje, o poder dos sandinistas diminuiu bastante naquele país centro-americano.

A dupla brasileira conheceu um casal de suecos, ainda mais aventureiros do que eles. Os dois estavam viajando pelas Américas carregando apenas mochilas nas costas. Deram sorte! Rui e Moré os levaram até a capital do Panamá.

Vulcão em atividade e Canal do Panamá – A Costa Rica proporcionou à Rui e Moré um belíssimo espetáculo da natureza: a eclosão do vulcão Arenal em atividade. “É uma coisa linda e ao mesmo tempo assustadora. As imagens do vulcão em atividade e da lava escorrendo ficarão para sempre na minha memória”, garante Moré.

O país, conhecido como a Suíça da América Central, destaca-se por sua beleza natural e também pela estabilidade política e econômica, onde a pobreza não é tão acentuada como outros países do continente. Não é à toa que as grandes redes hoteleiras têm muitos hotéis na Costa Rica.

Além das imagens do vulcão Arenal em atividade, encontraram um grupo de brasileiros navegando em um veleiro, pescaram peixes espadas, comeram siris e Moré foi protagonista de um episódio engraçado, conforme narra: “Estávamos debaixo de uma árvore e joguei uns amendoins para os macacos que estavam em cima da árvore. Tinha uma macaca com um filhote que temeu ser atacada por nós. Ela então defecou em cima de mim. Tomei banho imediatamente, mas o cheiro de fezes demorou para ir embora. Agora, dou risadas, mas na hora fiquei louco da vida”.

O Panamá, segundo Moré, é um país de contrastes: “A Cidade do Panamá tem um lado riquíssimo e outro muito pobre. Visitamos o Canal do Panamá, que tem 80 quilômetros de extensão, e une os oceanos Pacífico e Atlântico. Um sistema com uma espécie de cremalheira transporta os navios de um oceano para o outro. É uma tremenda obras de engenharia”.

E o Panamá também é passagem obrigatória para se chegar à América do Sul. Moré conta que eles ficaram um tempão esperando para colocar a van no trajeto para a Colômbia: “Chegamos no meio de um feriado nacional e tivemos de esperar aquele famoso ‘feriadão’. Aí aconteceu algo inesperado. Fomos para Barranquilla, na Colômbia, e o carro foi para Guayaquil, Equador. Tivemos que voltar um bocado para pegar o carro”.

Ao desembarcar no Equador, eles entraram oficialmente na América do Sul.

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