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Haiti: a diferença que faz uma padaria num país miserável e devastado pela natureza

Padaria no Haiti
Padaria no Haiti

Texto e fotos de Ronira Fruhstuck

Numa manhã qualquer, recebi o telefonema de minha amiga Rossana Sebastiani dizendo que estava indo com sua filha para o Haiti. Ela me perguntou se eu poderia ajudá-la a arrecadar donativos para uma instituição administrada por frades franciscanos brasileiros na periferia de Porto Príncipe, chamada Lar São Francisco Haiti. Concordei imediatamente em ajudá-la, mas antes de desligar ela me perguntou se eu gostaria de ir junto. Respondi que nao tinha tempo, pois tinha muito trabalho que quem sabe na próxima eu iria, bla bla bla…por alguma razão, o convite não me saía da cabeça. Horas mais tarde, me vi procurando por passagem quando encontrei enviei uma mensagem de texto para Rossana dizendo: tem lugar para eu dormir? Estou indo! Ela por sua vez, sem nem saber se havia ou nao lugar, me respondeu: Sim! Vem!

Assim começou nosso pequeno projeto humanitário que com ajuda de amigos e desconhecidos da comunidade brasileira que vive no sul da Flórida, arrecadou roupas, brinquedos, materiais médicos e quase $2 mil em cash que levamos conosco.

Eu poderia escrever páginas e páginas descrevendo a miséria que presenciei: as milhares de crianças órfãs, a carência afetiva, o esgoto a céu aberto, a falta de luz e assim por diante (coisa ruim não falta, acreditem!) No entanto, vou contar a história da pequena padaria instalada por Frei Gabriel nos fundos da casa principal. Quando ele chegou no Haiti em 2010, explica que viu uma miséria inimaginável e confessa que chorou muito. Mas o que mais o impressionou foi um biscoito de terra feito com argila, banha, água suja e sal. Esta mistura depois de coada sobre panos velhos, é seca sob o sol. Em pouco mais de uma hora, os biscoitos já estão prontos para serem vendidos e consumidos para matar a fome. Deparando com esta realidade, os frades tiveram que mudar seus planos originais de construir um hospital, pois não há doença que se cure quando as pessoas estão morrendo de fome. Surgiu então a ideia de montar uma padaria que virou realidade depois de muito esforço e dedicação. O maquinário foi doado por padres do Santuário Nossa Senhora Aparecida, de Aparecida (SP).

Depois de muitas tentativas e erros, Frei Gabriel finalmente conseguiu por a padaria em funcionamento. Hoje em dia eles conseguem fazer dois mil pães diariamente. Esses pães são distribuídos para aproximadamente 500 crianças que vão ao Lar duas vezes ao dia. Para a maioria dessas crianças é a única refeição do dia. Com o tempo, Frei Gabriel começou a ensinar algumas mães a fazer os pães. A ideia cresceu. Além de fazer os pães, elas trabalham vendendo os pães pelas ruas do bairro. Com o trabalho, elas recebem $5 dólares por dia, e tem uma fonte de renda razoável para os padrões do Haiti.

Fora do portão da casa, dezenas de outras mulheres esperam todos os dias pela oportunidade de fazerem o mesmo. Infelizmente a pequena padaria não tem estrutura para produzir mais por falta de equipamento. Não importa quantas vezes Frei Gabriel explica a situação para elas que estão no portão à espera por uma oportunidade.

Estamos em processo de organizar uma nova campanha para viabilizar este projeto e ajudar na compra dos equipamentos. Se você quiser ajudar, por favor entre em contato aqui: ronira@ronira.com.

Para saber mais: www.facebook.com/LarSãoFranciscoHaiti.

Mais pães, mais trabalho, menos fome e mais dignidade!

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