Literatura

Jornalista brasileira é destaque na 33ª Miami Book Fair

Fernanda Santos é repórter do New York Times e está lançando um livro sobre incêndio que matou 19 bombeiros no Arizona

A jornalista Fernanda Santos lança o livro The Fire Line
A jornalista Fernanda Santos lança o livro The Fire Line

DA REDAÇÃO – Do dia 13 a ao dia 20 de novembro, a cidade de Miami vai respirar literatura em um dos maiores festivais literários do mundo. A Miami Book Fair, evento organizado pela faculdade Miami Dade College, chega este ano à sua 33ª edição, movimentando a cena cultural da cidade e transformando, por alguns dias, Miami em uma capital do pensar literário.

Capa do livro “The Fire Line”, de Fernanda Santos
Capa do livro “The Fire Line”, de Fernanda Santos

Mais de 450 escritores estarão lançando livros durante a feira e a escritora baiana Fernanda Santos está entre eles. Fernanda é repórter do jornal “The New York Times” e cobriu, durante muitos dias, o incêndio florestal que devastou a pequena cidade de Yarnell, no coração do Arizona em 2013, e matou 19 bombeiros de uma mesma equipe chamada Granite Mountain Hotshots. Sobre o assunto, ela lançou o livro ‘The Fire Line’ que ela estará apresentando em Miami no dia no dia 20 de novembro às 1pm, no Miami Dade College, Wolfson Campus.( 300 NE Second Ave., Building 3, Room 3208-09).

“Eu queria saber quem eram esses homens, o que os levou a trabalharem como bombeiros florestais, a vida que levavam, as famílias que deixaram para trás. Enfim, queria mesmo explorar o lado humano desta tragédia e torná-la, assim, uma história de interesse universal. Gosto de dizer que o meu livro relata um drama humano que tem um incêndio como cenário. É um relato sobre um grupo de homens que amavam uns aos outros, amavam o trabalho que faziam e, quando se viram cara a cara com uma verdadeira parede de chamas de mais de 12 metros de altura, decidiram permanecer juntos. É uma história sobre lealdade acima de tudo e sobre o valor do trabalho em equipe, dois conceitos que parecem meio esquecidos hoje em dia”, explicou a escritora.

Confira o bate-papo que Fernanda bateu com a equipe do AcheiUSA:

AcheiUSA – Fale um pouco sobre sua carreira com jornalista nos EUA. Quais foram suas principais dificuldades e desafios na profissão?

Fernanda Santos – A principal dificuldade foi exatamente superar o complexo de inferioridade que nós imigrantes muitas vezes sentimos por falarmos inglês com sotaque, por não escrevermos tão fluentemente como os americanos, por não sermos mais iguais a eles. Felizmente, cresci, amadureci e me dei conta de que o meu charme, digamos assim, aquilo que me destaca é exatamente o fato de eu não ser daqui e, por isso, não ser como as pessoas que são daqui. Os Estados Unidos estão passando por um momento de profunda transformação demográfica. Em 2040, as minorias raciais e étnicas serão maioria por aqui, portanto o que ofereço – e o que todos nós imigrantes oferecemos – será cada vez mais valorizado e de maior importância para este país.

Eu comecei de baixo, mesmo. Vim em 1998 para fazer mestrado em jornalismo na Boston University, sem nenhuma vontade de ficar. Nasci em Salvador, cresci no Rio e tenho toda a minha família e amigos de infância no Brasil – por que deixá-los, né? Fui a uma feira de empregos enquanto ainda estava na universidade para procurar um estágio. Meu plano era de passar o verão de 1999 estagiando e voltar para o Rio depois para trabalhar em uma redação de jornal. Pois nesta feira de empregos conheci um cara, o editor de um jornal no interior de Massachusetts, por quem me apaixonei. Nos casamos dois anos mais tarde e estamos juntos até hoje. De Massachusetts, fomos a Nova York, onde trabalhei para o Daily News e Revista People; passei alguns meses na Colômbia num projeto independente, fazendo reportagens sobre a queda do índice de crimes violentos na capital, Bogotá; e, ao regressar, fui trabalhar no New York Times, onde escrevi e ainda escrevo sobre um pouco de tudo: política, crime, educação, imigração, serviços sociais.  

Moramos em Phoenix desde 2012 com a nossa filha de 7 anos, Flora, que fala português fluente e fica zangada quando eu sem querer me dirijo a ela em inglês. Acho que ensinarmos o nosso idioma aos nossos filhos é uma das melhores coisas que podemos fazer por eles, não só por serem brasileiros também, mas porque o bilingualismo os ajudará muito na sua vida profissional. Eu, por exemplo, falo também espanhol e francês fluentes, e acredito que tenha sido essa uma das principais razões pelas quais o New York Times se interessou em mim.

AU – Como é trabalhar num dos mais importantes jornais do mundo?

FS – É muito bom e muito ruim ao mesmo tempo porque a pressão e a competição interna são constantes. É também uma grande honra: Após 11 anos no jornal, sou até hoje a única brasileira a trabalhar como repórter por lá, o que me dá muito orgulho. Até hoje sinto como se tivesse que provar que mereço estar por lá – por ser imigrante, por não ter o inglês como o meu idioma nativo, por até hoje me encontrar buscando as palavras certas para relatar algo que cobri. Por outro lado, sei que minha contribuição para o jornal é importante e valorizada, por isso estou há quatro anos exercendo um cargo de responsabilidade como encarregada pela nossa cobertura da região Sudoeste dos Estados Unidos.  

AU – De onde você é no Brasil? E como é sua relação com a comunidade brasileira que vive em NY?

FS –Nasci em Salvador e me mudei com a minha família para o Rio de Janeiro quando tinha 11 anos. Vim para os Estados Unidos aos 25 anos. Tanto em Nova York como em Phoenix, onde moro, tenho amigos brasileiros e também amigos de toda parte, pois escolho os amigos pelo coração que têm e afinidade que temos, e não necessariamente por nacionalidade. Mas as minhas melhores amigas tanto em NY como no Arizona são do Brasil, o que é bem interessante. Talvez seja prova de que nós brasileiros somos definitivamente muito gente boa.

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