Reportagens Especiais

A fé na comunidade – VI

Budismo, uma filosofia de vida

Por Antonio Tozzi

Como toda religião oriental, o budismo desperta a curiosidade dos ocidentais, sobretudo entre aqueles que se identificam com a espiritualidade cultivada pelos povos asiáticos. No Brasil, onde a presença da colonização nipônica é muito forte, vários imigrantes levaram consigo os preceitos das religiões praticadas no seu país de origem, sobretudo o budismo e o xintoísmo. Muitos japoneses que foram para o Brasil, no entanto, já eram praticantes do cristianismo.

Assim como no protestantismo, o budismo subdivide-se em facções.

Talvez o mais conhecido pelos leigos seja o zen-budismo – que pratica essencialmente a meditação, isto é, a pessoa isola-se mentalmente, medita e depois retorna à sua vida rotineira. Muitos filósofos e religiosos discordam desta atitude passiva diante da realidade do mundo.

Como surgiu o budismo – Aliás, a própria essência do budismo prega o contrário. O budismo é a denominação dada aos ensinamentos de Buda, ser que representa a pessoa que despertou para o aspecto real da vida e do universo. Literalmente, Buda significa iluminado.

O primeiro Buda da história é Sidarta Gautama, príncipe do clã Sakya, na antiga Índia, filho do rei Sidodana e da rainha Maya, que acredita-se tenha vivido entre os séculos IV e V a.C. Muito inteligente e sensível, Sidarta começou a sofrer de uma grande angústia espiritual na juventude. Chegou à conclusão de que todas as pessoas, incluindo ele, estavam irremediavelmente condenadas aos quatro sofrimentos da vida: nascimento, velhice, doença e morte. Questionava sempre a razão pela qual as pessoas passavam por esses quatro sofrimentos. Assim, partiu de sua terra deixando sua esposa, seu filho e toda sua riqueza em busca da resposta.

Após muita procura e profunda meditação, Sidarta percebeu que o universo e os seres humanos passam a cada instante pelo ciclo de nascimento e morte, ou seja, nascem, crescem, envelhecem e morrem, para depois renascerem. Com isto, alcançou o domínio sobre a natureza mística da vida, convencendo-se de que poderia desenvolver sua condição de vida ilimitadamente. Depois da iluminação para a verdade da vida, passou a ser chamado de Sakyamuni, o sábio dos Sakya. Sakya, de Sakyamuni, é o nome herdado de seu clã e muni designa “aquele que despertou”.

O budismo de Nitiren Daishonin – Sakyamuni expôs seus ensinamentos por meio de parábolas por vários anos. Entretanto, naquela época as pessoas não estavam preparadas para compreender o profundo significado de suas palavras, o que somente veio a ocorrer com o Buda Nitiren Daishonin, que viveu entre 1222 e 1282 no Japão.

Em 1233, entrou para o sacerdócio no templo Seityo e começou a estudar o budismo. Na infância, recebeu o nome de Zennimitaro, mas após entrar para o sacerdócio mudou o nome para Yakuo Maro e depois para Rentyo. Em Quioto, centro do budismo, estudou exaustivamente os sutras (ensinamentos) de Sakyamuni e concluiu que o Sutra de Lótus é seu supremo ensinamento. Após dez anos de estudo, Rentyo recitou pela primeira vez o Nam-myoho-rengue-kyo, expôs seu ensino e adotou o nome de Nitiren (Niti significa “sol”, ren, “Lótus”)

Sakyamuni profetizou no Sutra de Lótus que, após o declínio de seu budismo, surgiria o verdadeiro budismo. De acordo com a profecia do Sutra de Lótus, o verdadeiro budismo foi estabelecido por outro iluminado, neste caso por Nitiren Daishonin, autor de Dai-Gohonzon, que contém integralmente sua iluminação, destinando-o como objeto de devoção para todos os povos.

O budismo de Nitiren Daishonin, segundo seus seguidores, traz a salvação para toda a humanidade, igualando todas as pessoas numa mesma categoria: elas têm as condições de atingirem a suprema felicidade, ou seja, o estado de Buda, na forma e no ambiente em que vivem. Esse budismo nega a necessidade de auto-sacrifício ou de isolamento para a meditação, e possibilita às pessoas tornarem-se felizes em meio à realidade diária.

Embasado na lei de causa e efeito, o verdadeiro budismo prega que as pessoas devem buscar a reforma interior, elevando sua condição interna de vida. Ensina também que existe uma relação de interdependência entre todos os seres do universo e que a razão de seus sofrimentos reside em suas próprias ações. Tudo segue um ciclo de nascimento e morte pelas três existências da vida – passado, presente e futuro. O momento presente é considerado a base para analisarmos as causas passadas e definir o futuro.

O budismo de Nitiren Daishonin mostra que as circunstâncias da vida são decorrentes de causas que a própria pessoa fez nesta e em outras existências, e seu efeito somente será amenizado ou transformado por meio da recitação do Nam-myoho-rengue-kyo. Esse conceito nos proporciona um claro entendimento do porquê das diferenças entre as pessoas desde o nascimento.

O budismo proclama que cada pessoa é responsável pelo seu próprio destino e, ao mesmo tempo, possui condições de mudá-lo para melhor. Isso significa que uma pessoa não deve resignar-se a seu destino: ao perceber o próprio ponto fraco, deve procurar a transformação.

Para propagar os ensinamentos de Nitiren Daishonin, foi fundada em 1930 a Soka Gakkai (Sociedade de Criação de Valores) pelo educador Tsunessaburo Makiguti, que teve como sucessor Jossei Toda. Em 1975, foi fundada a Soka Gakkai Internacional por Daisaku Ikeda, terceiro e atual presidente da entidade.

Budistas brasileiros na Flórida – Com base nesta filosofia pregada por Nitiren Daishonin, um grupo de quase 200 brasileiros pratica os ensinamentos do mestre. É comum uma parte dos seguidores reunir-se semanalmente na casa de um dos adeptos. Miriam Silva, uma das integrantes do grupo, abriu as portas de seu apartamento para a reportagem do AcheiUSA, e convidou Lana Fávero e Nadia Nardini, também simpatizantes da religião.

Miriam já havia tido contato com o budismo no Brasil, onde sua mãe era praticante. “Para dizer a verdade, até implicava um pouco com a devoção de minha mãe. Lá, era católica não praticante. Quando vim para os EUA é que descobri o budismo Nitiren Daishonin como religião.
Para mim, foi muito importante porque me mostrou uma visão de que todos nós podemos mudar as coisas, basta estar consciente disto. E quando entoamos o Nam-myoho-rengue-kyo nossa energia se funde com a do universo”, explicou.

A religião calca-se em três pilares básicos: fé, prática e estudo. Portanto, diariamente, o budista precisa recitar o Gongyo da manhã e o Gongyo da noite, que são orações destinada a nutrir as forças protetoras do universo. O budismo não acredita num ser supremo como a figura de Deus, Alá ou Jeová, presentes no cristianismo, judaísmo e islamismo. Os budistas crêem na energia e estão certos de que ela toma várias formas de vida.

Todos os meses, os simpatizantes do budismo de Nitiren Daishonin reúnem-se no Kaikan, em Weston, para orar e socializar-se. Anualmente, o local sedia um encontro chamado de Iluminação, para o qual vêm budistas de todo o mundo para a Flórida. O mais recente ocorreu em setembro passado.

As atividades não se limitam a adultos. Há programação para crianças, adolescentes e jovens. Aliás, 2006 será o ano do jovem e do crescimento dinâmico para os budistas. E uma grande festa no dia 1º de janeiro de 2006 deve reunir cerca de 1.500 pessoas para saudar a chegada do novo ano. O budismo não cobra dízimo de seus seguidores, mas aceita doação de dinheiro e trabalho voluntário, como é o caso de Lana Fávero, responsável pela edição em português do World Tribune, jornal que divulga as atividades da Sokka Gakkai.
Até mesmo o preço da assinatura é simbólico: $35 pelo ano inteiro, com direito a duas edições mensais.

Quem quiser saber mais sobre o budismo de Nitiren Daishonin, pode entrar em contato com a FNCC através do telefone (954) 349-5200, ou falar com Miriam Silva (305) 904-0857 ou Lana Fávero (305) 919-7752, ou acessar o website www.sgi-usa.org.

Entenda o Budismo Nitiren Daishonin

Kossen-rufu – Kossen quer dizer ensinar a filosofia budista a todas as pessoas, e rufu significa ser bem conhecido e praticado com sinceridade pelas pessoas na sociedade. Em outras palavras, kossen indica a propagação do budismo e rufu a condição que resulta desta propagação. Utiliza-se também o termo Kossen-rufu como o significado de “paz mundial”.

Chakubuku – O Chakubuku é o método de propagação do budismo e consiste em mostrar seu real significado, refutando os conceitos e procurando fazer com que as pessoas mudem sua atitude e venham a praticá-lo com sinceridade, e que gradualmente entendam, por si só, a verdade máxima da vida.

Nam-myoho-rengue-kyo – Nam-myoho-rengue-kyo é a expressão da verdade máxima da vida e também evidencia sua realidade essencial.

Gohonzon – O Gohonzon é o objeto de devoção dos praticantes do budismo de Nitiren Daishonin. Em japonês, um objeto de devoção é denominado de honzon, que significa objeto de respeito fundamental. Go é um título honorífico. Nitiren Daishonin definiu a lei máxima que permeia o universo como Nam-myoho-rengue-kyo e a incorporação na forma de um mandala perfeitamente dotado de todos os dez estados: inferno, fome, animalidade, ira, tranqüilidade, alegria, erudição, absorção, bodhisattva e buda – eles simbolizam as manifestações comportamentais das pessoas em seu dia-a-dia.

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