Brasil Geral

Bolsonaro diz que Brasil terá situação pior que os EUA se não houver voto impresso em 2022

Em conversa com apoiadores, em Brasília, presidente brasileiro reiterou laços com Trump e voltou a afirmar que as eleições americanas foram fraudadas

Presidente brasileiro insiste que as eleições americanas foram fraudadas REUTERS/Ueslei Marcelino

Por Eduardo Simões

(Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feria que o Brasil enfrentará um cenário pior que o vivido pelos Estados Unidos, onde na véspera apoiadores do presidente Donald Trump invadiram o prédio do Congresso, caso o país não adote o voto impresso na eleição presidencial de 2022.

Em conversa com apoiadores ao deixar o Palácio da Alvorada pela manhã, Bolsonaro repetiu alegações sem apresentar qualquer evidência que as fundamentassem de que o processo eleitoral no Brasil é fraudado, assim como voltou a afirmar, novamente sem apresentar fundamentos, que houve fraude na eleição que resultou na derrota de Trump e na eleição do democrata Joe Biden nos EUA.

“Pessoal tem que analisar o que aconteceu nas eleições americanas agora. Basicamente qual foi o problema, a causa dessa crise toda? Falta de confiança no voto. Então lá o pessoal votou, e potencializaram o voto pelo correio por causa da tal da pandemia e houve gente que votou três, quatro vezes, mortos votaram. Foi uma festa lá. Ninguém pode negar isso aí”, disse Bolsonaro sem apresentar indícios que confirmassem a veracidade de suas afirmações.

“Se nós não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos”, afirmou.

O voto em urna eletrônica no Brasil foi adotado em 1996 e, desde então, nunca foi registrada uma denúncia fundamentada de fraude contra o sistema e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) garante que o resultado das eleições podem ser auditados.

No ano passado, Bolsonaro afirmou que a eleição de 2018, na qual foi eleito, foi fraudada e que ele deveria ter vencido no primeiro turno. Na ocasião, prometeu que apresentaria provas das alegações, o que nunca fez.

ALERTA AO BRASIL

Em nota divulgada nesta quinta, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, afirmou que a violência cometida contra o Congresso norte-americano “deve colocar em alerta a democracia brasileira”.

“Na truculência da invasão do Capitólio, a sociedade e o próprio Estado parecem se desalojar de uma região civilizatória para habitar um proposital terreno da barbárie. A alternância de poder não pode ser motivo de rompimento, pois participa do conceito de República”, disse.

Para Fachin, que será o presidente do TSE nas eleições presidenciais de 2022, há uma estratégia para minar a democracia.

“Em outubro de 2022 o Brasil irá às urnas nas eleições presidenciais. Eleições periódicas de acordo com as regras estabelecidas na Constituição e uma Justiça Eleitoral combatendo a desinformação são imprescindíveis para a democracia e para o respeito dos direitos das gerações futuras”, disse.

“Quem desestabiliza a renovação do poder ou que falsamente confronte a integridade das eleições deve ser responsabilizado em um processo público e transparente. A democracia não tem lugar para os que dela abusam”, reforçou.

Em nota divulgada na véspera, após Bolsonaro ter dito a apoiadores que sua vitória em 2018 foi fraudada, o atual presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, rebateu-o.

“O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, lida com fatos e provas, que devem ser apresentadas pela via própria. Eventuais provas, se apresentadas, serão examinadas com toda seriedade pelo tribunal”, disse o ministro, em nota repassada por sua assessoria.

(Com reportagem adicional de Ricardo Brito em Brasília)

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