Literatura

Livro escrito por brasileira conta história de garotinho braso-americano

‘Minha Família’ aborda a questão da multiculturalidade na infância nos EUA

A escritora e imigrante brasileira Ana Cristina Gluck junto as filhas Juliana e Marina
A escritora e imigrante brasileira Ana Cristina Gluck junto as filhas Juliana e Marina

DA REDAÇÃO – Poderia ser a história de várias crianças filhas de imigrantes brasileiros que vieram aos Estados Unidos tentar uma vida melhor e por aqui ficaram. Mas, no caso do livro “Minha Família”, a história mesmo é do menino John, personagem criado pela escritora brasileira Ana Cristina Gluck. John é filho de mãe brasileira e de pai americano. Assim, fala tanto português em casa quanto inglês na escola e vive uma realidade culturalmente mais rica, experimentando dos costumes e hábitos de ambos os países de seus pais.

Capa do livro Minha Familia, assinado pela escritora brasileira Ana Cristina Gluck

O livro —que, como o titulo indica, é escrito em português— está disponível para compra no site Amazon.com e é da editora ABC Multicultural (pode ser encontrado no site da empresa também, em abcmulticultural.com).

Veja a seguir uma breve conversa do AcheiUSA com Ana Cristina, que fala como sua própria vida incentivou a criação do personagem e da recepção que o livro tem tido no mercado americano. “A importância desta história é de mostrar aos brasileirinhos dos Estados Unidos e aos seus pais que ser bilíngue é algo especial e superlegal!”, afirma.

AcheiUSA – O que inspirou a criação da história do John?

Ana Cristina – Fui inspirada pelas minhas próprias filhas e por todos os brasileirinhos nos Estados Unidos. O John é um personagem representativo das crianças américo-brasileiras e bilíngues. Vindos de uma família com pai americano e mãe brasileira, John sempre esteve exposto ao inglês e ao português. Ele aprendeu desde cedo que o bilinguismo é algo especial e super legal. Porém, como criança, John também nota que algumas pessoas acham estranho ou se “incomodam” quando ele fala em português com sua mãe. Assim como o John, outras crianças, do mundo real, também percebem este certo incômodo que uma língua estrangeira (no caso o português) às vezes provoca na sociedade na qual elas convivem. John sente este “olhar diferente” sobre ele e sua mãe, assim como quase toda criança bilíngue sente. Porém, John é um menino com uma noção muito clara da sua identidade, e por isto ele dá uma resposta a sociedade que é meramente explicativa: “Sou americano e brasileiro também. Eu e minha mãe sabemos falar os dois idiomas muito bem!” John se orgulha de ser americano e se orgulha de ser brasileiro também! Falar duas línguas para ele é algo do cotidiano, porém é especial, porque ele sabe que o português é a sua língua de herança por parte da mãe.

AU – Você é uma imigrante? Aonde vive?

AC – Sim. Sou uma imigrante, de Belo Horizonte, Minas Gerais. Morei em Long Island, New York por 7 anos e desde 2007 moro no estado de New Jersey. A minha história é bem típica do imigrante brasileiro nos Estados Unidos: cheguei em 1999 para estudar inglês e “tentar a vida”. O dinheiro que trouxe acabou em menos de 4 meses, quando decidi “me virar” para ficar e me sustentar, além de ajudar a família no Brasil: fui faxineira por 3 anos e babá por quase 2 anos. Fui para a faculdade e me formei em “Commercial Arts/Digital Technologies”. Construí, com muito trabalho e dedicação, uma carreira na área de criação e marketing. Hoje sou diretora de arte no departamento de marketing de uma empresa de tecnologia em NYC. Sou casada e sou mãe. Nos momentos livres—quero dizer: durante a minha viagem de trem de ida-volta de NJ para NY, nas madrugadas, etc.—eu ainda trabalho arduamente, mas com muito amor, nos projetos da ABC Multicultural, empresa que fundei em 2013.

AU – Você tem filhos? Se sim, como faz para manter vivas as tradições do Brasil mesmo estando longe de casa? 

AC – Bom, “casa” é aqui mesmo, onde construí a minha vida, com dignidade e muito trabalho, e formei a minha família. Sim. Tenho duas filhas: Juliana (5 anos) e Marina (2 anos). Sou casada com americano judeu e mantemos as tradições das duas culturas. Aqui em casa, celebramos Natal e Hanukkah. Ouvimos músicas de cantores brasileiros e americanos. Lemos livros (principalmente para as crianças) em português e inglês. Fazemos churrasco e barbecue. E, principalmente, conversamos em português e em inglês. Afinal de contas, nossas filhas são americanas e brasileiras também! A língua de herança delas (o português) é a forma mais natural e efetiva de manter viva a cultura brasileira e os relacionamentos familiares no Brasil. Temos amigos americanos e brasileiros, assim como amigos de várias outras nacionalidades. Estamos criando nossas filhas para que sejam cidadãs globais e possam apreciar e entender as diversidades culturais.

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