Para começar, a atitude da torcedora gremista que chamou o goleiro santista Aranha de “macaco” durante uma partida pela Copa do Brasil na semana passada é racista. Ponto. Ela repete várias outras atitudes parecidas em diversas partes do mundo e que têm despertado a indignação geral. Como tal, ela deve ser punida para que não se repita esse tipo de ofensa nos nossos estádios. Ponto também.
Patrícia Moreira, de 23 anos, prestou depoimento à polícia em Porto Alegre na quinta-feira, quando declarou que vai pedir desculpas públicas ao jogador santista. Ela também afirmou que não é racista e que só ofendeu o goleiro porque outras pessoas também estavam gritando a mesma ofensa. O crime é de injúria, com pena de um a três anos para os condenados.
Tarde demais, porque além de Patrícia ter sofrido represálias penais e sociais pelo seu deslize, o time do Grêmio foi punido com a expulsão da Copa do Brasil. O caso ganhou repercussão nacional, indo parar, obviamente, nas infindáveis discussões das mídias sociais. Depois de identificada, a torcedora começou a sofrer todo tipo de perseguição, desde apedrejamentos à sua casa e ameaças de estupro até a perda do seu emprego de auxiliar de dentista.
Há os que não defendem a atitude da moça, mas que justificam esse tipo de xingamento como acidental, assim solto no calor da arquibancada, onde muitas vezes somos flagrados por nós mesmos com emoções exacerbadas, meio ensandecidos na catarse da torcida por um time de futebol. Há os que defendem que também deveriam ser punidos da mesma forma os que invariavelmente recebem os árbitros nos campos de futebol com insinuações sobre a honestidade das mães deles, dos que questionam aos berros a masculinidade de alguns jogadores, e assim outros politicamente incorretos. Porque, afinal de contas, essas também são ofensas a minorias.
Há ainda os que se queixam do racismo ao contrário, quando ofensas proporcionais a outras raças não ganham indignação semelhante à que pode levar a torcedora santista para a cadeia.
O que sobra de tudo isso, além da tristeza por um episódio tão lamentável, é o exemplo que o drama vivido pela torcedora gremista está deixando. Independente de ela ser racista ou não, ou de ter sido flagrada num momento passageiro de descontrole emocional que ultrapassou o limite do aceitável, Patrícia vai virar um exemplo a ser evitado daqui por diante. Seu linchamento público, talvez tão exagerado quanto a sua própria atitude impensada durante o jogo, vai servir como um alerta a torcedores e clubes de futebol no que diz respeito aos limites até onde podem chegar as manifestações verbalmente agressivas das torcidas nas arquibancadas. Ponto.