Histórico

Fidel Castro, líder de Cuba, submete-se à cirurgia e deixa o poder para o irmão

Em meio a rumores da morte do ditador cubano, a comunidade cubana de Miami comemora a valer em Miami e em todo o sul da Flórida

O presidente cubano Fidel Castro submeteu-se a uma cirurgia delicada em virtude de sangramento interno motivado por problemas gastrointestinais. Em função de seu afastamento, o irmão mais novo do ditador, Raúl Castro, assumiu o poder, conforme divulgaram o próprio Raúl e outros dirigentes do governo cubano à televisão estatal nesta segunda-feira (31).

A razão de sua fadiga e do “extremo stress” foi causada por uma recente viagem à Argentina e por causa das comemorações de 26 de julho, data do início da revolução. Num comunicado, Castro disse que as extenuantes atividades provocaram “uma crise intestinal aguda” que exigiu uma complicada cirurgia. Por este motivo, ele se afastou de suas atribuições como chefe de Estado e nomeou seu irmão Raúl Castro para o posto de presidente interino.

“É uma grande surpresa; nunca havia acontecido antes”, disse William LeoGrande, especialista em Cuba na American University em Washington, D.C. “Não importa quanto tempo Castro esteve fora de Cuba viajando ou em qualquer outra situação, jamais houve antes uma transferência de poder.”

O anúncio, feito às vésperas de seu 80º aniversário, desperta suspeita de que sua saúde está debilitada. No ano passado, Castro ironizou as notícias que diziam estar ele sofrendo de mal de Parkinson.

“Ele tem sido visto como uma figura quase indestrutível”, disse um ex-diplomata cubano, que não quis identificar-se. “Imagino que pode haver alguns reforços nas forças armadas por causa das comunicações do governo americano. Eles disseram que não aceitam Raúl Castro como sucessor de Fidel. Todos estão atônitos. Todos estão especulando sobre o que aconteceu com Fidel Castro e acham que a coisa é muito séria.”

Alfredo Mesa, diretor executivo da Fundação Nacional Cubano-Americana, um poderoso grupo de exilados com base em Miami, comentou que as condições de Castro devem ser preocupantes para disparar a estratégia de sucessão do governo cubano. “É muito importante que todos permaneçam calmos”, aconselhou. “Os que estão no poder precisam saber que a fundação está pronta para apoiar uma transição pacífica e verdadeira para a democracia.”

As notícias sobre as condições de Castro provocaram preocupação e tristeza na ilha de 11 milhões de habitantes, onde muitos aguardam por uma mudança política enquanto outros temem possíveis mudanças. Uma das principais dissidentes de Cuba e ex-prisioneira política, Martha Beatriz Roque, disse que as ruas de Havana estavam calmas nesta segunda-feira à noite. “Tudo depende do governo; ninguém quer atirar a primeira pedra”, disse Roque. “Isto vem sendo preparado a algum tempo. Raul Castro estava na televisão, houve conversas sobre sucessão, … Mas ninguém pensava que isto aconteceria tão rapidamente.”

Como um dos mais importantes líderes latino-americanos do século 20, a revolução de Castro, em 1959, e suas quatro décadas de confronto com os Estados Unidos lhe deram um lugar de destaque no continente e entre muitos cubanos.

“Ele é como um segundo pai para mim”, lamentou Rosa Perez, 52, guarda de segurança, quando assistia Castro discursar na última quarta-feira na cidade de Bayamo. “Ele nos deu trabalho, educação e saúde.”

Mas o desresperito aos direitos humanos por parte de Castro e sua incapacidade de liberar a economia fortemente controlada de Cuba têm feito com que alguns cubanos esperem que sua saída permita um sistema econômico mais aberto e uma democracia. “Eu tolerei isto durante toda minha vida, mas não quero que meu filho sofra o que eu sofri”, confessou um morador de Havana na semana passada. “Precisamos de mudanças.”

Num relatório recente, o president Bush disse que não apoiaria uma sucessão que não contemplasse eleições livres no país. Ele também rejeitou um modelo ao estilo chinês onde o poder permanece nas mãos de um único partido, mesmo com a liberalização do sistema econômico.

Castro tomou o poder em 1º de janeiro de 1959, após ter deposto o então presidente Fulgencio Batista. Ele é o líder mundial que está no poder há mais tempo. Entrou em conflito quase imediatamente com os Estados Unidos, que rompeu relações diplomáticas e impôs um embargo comercial que dura quatro dácadas contra a ilha.

Castro tem recentemente falado publicamente sobre sua própria mortalidade, um assunto tabu, e tem tomado uma série de medidas para atrair o apoio dos cidadãos ao governo. Ele mobilizou milhares de jovens trabalhadores para combater a corrupção rampante e segurar as medidas de reformas econômicas limitadas. Castro também reativou o Secretariado no Partido Comunista Cubano num esforço para melhorar as condições de governabilidade.

Ao mesmo tempo, a mídia estatal cubana tem publicado uma série de artigos simpáticos sobre Raúl Castro, que é menos conhecido e tem menos carismo do que seu irmão mais velho.

Em seu comunicado, Castro disse que as comemorações de seu aniversário em 13 de agosto deveriam ser adiadas para 2 de dezembro, durante o 50º aniversário das Forças Armadas de Cuba.

Mas ele também fez um chamamento ao povo cubano , dizendo que eles precisarão defender a revoluçao “até a última gota de sangue.”

“O imperialismo nunca será capaz de destruir Cuba”, disse Castro.

No entanto, os cubanos que vivem no exílio, sobretudo em Miami, estão comemorando as notícias e já prevêem a morte do ditador. Assim, imaginam, será possível derrubar o regime comunista instalado na ilha e implantar a democracia, com o apoio do governo americano.

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