Histórico

Brasileiro estuda gene que pode explicar o autismo

Estudo para soluções de problemas mentais

Um grupo de pesquisadores do Instituto Salk, da Califórnia, quer provar que um tipo especial de gene, capaz de saltar de um lugar para outro nos cromossomos, pode estar relacionado a problemas mentais ainda pouco compreendidos, como autismo e esquizofrenia. Um experimento que está sendo conduzido pelo grupo do biólogo brasileiro Alysson Muotri deve trazer pistas importantes sobre o papel da genética nessas doenças.
A idéia é criar camundongos com defeito naquilo que deve ser um fator crucial na composição genética dos neurônios: os transposons, pedaços de DNA capazes de criar cópias de si mesmos saltando ao longo do genoma. Trabalhos anteriores de Muotri mostram que esse DNA-canguru ajuda a conduzir a especialização das células cerebrais e dar a cada neurônio traços únicos. No limite, é possível até mesmo dizer que cada neurônio de um indivíduo possui um genoma diferente.
Ainda não está claro por que isso ocorre, mas acredita-se que os transposons ajudem a dar aos humanos habilidades únicas em relação a outros animais “A idéia que a gente gosta de associar a isso é a de que uma maior diversidade neural leva a uma maior capacidade de cognição”, diz Muotri.
Ora, se os transposons têm forte relação com cognição, qualquer perturbação no seu funcionamento deve então ter conseqüências psíquicas visíveis. É isso que o grupo do Salk quer provar com os roedores modificados. “Já criamos os camundongos, e agora estamos expandindo a colônia para fazer os testes de comportamento”, diz Muotri. Os animais receberam doses de moléculas especiais feitas para estimular transposons a “pular” mais.
Anormal
Mas o que exatamente aconteceria se o número de DNAs pulantes aumentasse além do normal em um indivíduo? “Pode ser que surja uma série de neurônios que têm variabilidade extra; eles vão então entrar no cérebro e, se forem selecionados `não cometerem “suicídio”`, vão ter uma atividade anormal.” Alguns animais tiveram os transposons reprimidos, ao invés de estimulados, para dar aos pesquisadores uma base de comparação.
Falar de doenças psiquiátricas em camundongos parece algo meio fora de propósito; afinal, não há como perguntar aos animais se eles ouvem vozes, por exemplo. Mas os pesquisadores também se baseiam em outros modelos para testar a correlação. “Autópsias de pacientes autistas e com esquizofrenia mostram uma maior expressão de transposons no cérebro”, diz Muotri. Modelos animais para experimentos psiquiátricos podem servir para medir parâmetros como memória, ansiedade e capacidade de interação social.
O experimento do Salk com os camundongos ainda deve levar um tempo para ficar pronto, mas Muotri deve publicar em breve um estudo com idéias preliminares. “Já conseguimos analisar retrotransposição em modelo animal para autismo.”
Ele afirma, porém, não esperar que os transposons baguncem a estrutura cerebral dos animais de forma exagerada. “Achamos que eles fazem algum ajuste fino nas redes neurais”, especula o brasileiro.
A expectativa vai de encontro à idéia de que a divergência genética que mais influencia a diferença de capacidade cognitiva entre humanos e animais não está em genes codificadores de proteínas, as “operárias” do organismo, mas em partes do genoma envolvidas na regulação delas e na miríade de moléculas de RNA (molécula auxiliar do DNA) cuja função os cientistas desconhecem.

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