Um dos mais talentosos cantores brasileiros morreu esta semana, vítima de um acidente vascular cerebral
Tonia Elizabeth
O corpo do cantor foi velado na Câmara de Vereadores, na Cinelândia, no Rio de Janeiro, e o enterro realilzado na quinta-feira (21), no Cemitério Memorial do Carmo, no túmulo que Emílio comprou em 2006 para a mãe.
Ele tinha uma ligação sentimental com o sul da Flórida, local para onde vinha sempre que queria descansar. Ele fez muitos amigos aqui e chegou até mesmo a ter um imóvel na região. Muitas pessoas da comunidade tiveram o privilégio de privar de sua amizade e aqueles que o conheceram sempre enalteceram sua camaradagem e alto astral.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1946, formou-se em Direito, instado por seus pais, pela Faculdade Nacional de Direito. Mas a música falou mais alto. Em casa, seu ouvido apurado selecionava o que havia de melhor na época, na voz dos cantores Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e Anísio Silva, entre outros. Depois, João Gilberto e a bossa nova conquistam de vez o jovem bacharel.
Seus amigos o incentivavam a participar dos festivais que então fervilhavam e Emílio foi vencedor na maioria deles. Participou também de um programa de grande audiência e prestígio na época: “A Grande Chance”, apresentado por Flávio Cavalcanti, conquistando a todos com sua voz grave e a suavidade de sua interpretação. Daí para o primeiro disco foi um pulo: gravou “Transas de Amor”, um compacto para a Polydor, gravadora que o contratou e onde gravou 11 discos. Nesse ínterim, gravou para a CID seu primeiro disco, produzido por Durval Ferreira, que foi o passaporte para sua projeção nacional.
Cantou na noite, em várias casas do Rio e de São Paulo, o que lhe deu “tarimba” e que confirmou, de maneira definitiva, a sua escolha pela música em vez da carreira de advogado. Fazendo shows por todo o Brasil, seu nome crescia e Emílio se afirmava como cantor de diferentes estilos, das baladas aos sambas suingados. Foi, em 1988, então, convidado por Roberto Menescal e Heleno Oliveira para fazer o primeiro disco da série “Aquarela Brasileira”, releitura de clássicos brasileiros que se tornou sucesso imediato e surpreendeu a todos, pois o cantor colocou voz em 20 músicas em menos de seis horas. Começou, também, a colecionar prêmios, discos de ouro e de platina e a ter canções de grandes compositores como tema de novelas, sendo isso reservado aos cantores de maior sucesso no país.
Sofisticação e bom gosto
A partir das “Aquarelas”, dois elementos ficaram bem claros na carreira de Emílio Santiago: a sua voz inigualável e a capacidade de escolher um repertório sofisticado e de extremo bom gosto.
E o terceiro belo álbum de Emílio Santiago, gravado em 1977 e ora reeditado pelo selo Dubas Música, “Feito para Ouvir” é dos títulos mais classudos da discografia de Emilio Santiago. A (boa) ideia foi de Roberto Menescal, na época diretor artístico da gravadora Philips. Menescal sabia que o intérprete começara sua carreira cantando na noite carioca como crooner de boates como a Flag, na qual se apresentava na companhia de trio liderado pelo pianista Laércio de Freitas e quis que Emilio fizesse um disco que captasse essa atmosfera íntima da noite. “Feito para Ouvir”, como conta o próprio Emílio em texto escrito para a oportuna reedição do álbum, foi gravado praticamente ao vivo, em dois ou três dias de estúdio. O fino repertório mesclou temas já entoados pelo intérprete na noite casos do samba-canção Rua Deserta (Dorival Caymmi, Hugo Lima e Carlos Guinle) e de Olha Maria (Tom Jobim, Chico Buarque e Vinicius de Moraes) com músicas selecionadas sem obviedade ou preguiça por Menescal e pelo produtor do disco, Roberto Santanna.
O mais recente álbum de Emílio Santiago, o primeiro pelo selo de sua propriedade, a Santiago Music, intitula-se “Só Danço Samba”. Produzido por José Milton em 2010, o CD é uma homenagem ao “Rei dos Bailes” Ed Lincoln, e serve também para comemorar seus 40 anos de carreira. Com standards da era do sambalanço e clássicos da música brasileira, como “Samba de Verão” (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle), “Só Danço Samba” (Tom e Vinícius), “Falaram Tanto de Você” (Durval Ferreira/ Orlandivo),”Sambou, Sambou” (João Donato/João Melo), “Vou Rir de Você” ( Helton Menezes) e “Na Onda do Berimbau” (Oswaldo Nunes) que remetem ao tempo dos bailes e foram hits em sua época.
O disco, por todos estes predicados, ganhou formato audiovisual e virou DVD, que já está nas lojas via gravadora Biscoito Fino em parceria com a Santiago Music. O DVD, que também traz hits dos cantor e standards internacionais, foi gravado no Citibank Hall de São Paulo.