As enchentes que atingiram o Texas nos dias 3 e 4 de julho deixaram mais de 120 mortos e cerca de 170 pessoas ainda desaparecidas. As chuvas torrenciais provocaram o transbordamento repentino dos rios Blanco e Guadalupe, afetando especialmente a região do Hill Country. O caso mais trágico ocorreu em um acampamento de verão em Kerr County, onde dezenas de crianças morreram ou continuam desaparecidas.
Desde os primeiros dias após o desastre, surgiram questionamentos sobre a falta de alertas efetivos para evacuação, especialmente em áreas rurais e em campings. O National Weather Service (NWS) havia emitido alertas de enchente, mas muitos moradores relatam não ter recebido notificação nenhuma pelas autoridades locais, como sirenes ou mensagens de texto em tempo real. A previsão inicial indicava até 7 polegadas de chuva, mas certas áreas receberam mais que o dobro em poucas horas. Críticos apontam que, embora o NWS tenha feito seu papel, a resposta e a comunicação por parte dos condados e das prefeituras foi lenta, ou inexistente.
As críticas se intensificaram quando usuários nas redes sociais e figuras políticas passaram a responsabilizar o governo pela redução de investimentos em órgãos como o NWS e a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) — justamente em um momento de grande frequência de eventos climáticos extremos. Especialistas apontam que essas reduções comprometem a capacidade técnica de prever e monitorar desastres, mesmo que os orçamentos gerais não tenham sofrido cortes drásticos. Checagens independentes, como as do PolitiFact, porém, destacam que a narrativa de um “desmonte completo” é exagerada. Ainda assim, a percepção pública do enfraquecimento institucional ganhou força após a tragédia, intensificando o debate sobre a prioridade política dada às estruturas essenciais para resposta a emergências.
Outro ponto de tensão envolve a resposta federal coordenada pela FEMA. Autoridades locais relataram lentidão no envio de recursos e na presença de lideranças no local. O diretor da agência, David Richardson, nomeado sem experiência prévia em emergências, não visitou as áreas afetadas até dias depois das enchentes. A secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, autorizou uma nova política que exige aprovação para qualquer gasto acima de $100 mil, o que, segundo voluntários e membros da National Guard, acabou gerando atrasos operacionais considerados críticos logo nos primeiros dias de resgate.
O governo federal, por sua vez, argumenta que a magnitude e a rapidez do desastre superaram qualquer expectativa, e ainda assim, que os alertas foram emitidos com antecedência adequada. Noem minimizou as críticas e afirmou que o atual modelo da FEMA precisa ser reformado, defendendo maior descentralização e responsabilidade dos estados na resposta a desastres. Já a Casa Branca alega que o resgate tem funcionado “dentro do planejado”, e que a colaboração com autoridades locais “está em andamento”.