COLABORAÇÃO / No Ângulo do Gol / Leonardo Macedo @noangulodogol
Realizado na última terça-feira, 4 de novembro, o 2º Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol ficou marcado por um episódio jurássico e zero surpreendente, porém simultaneamente constrangedor e que se trata de uma outra mancha ao nosso futebol, pelo menos para aqueles que desejam a sua recuperação. Para piorar, tudo se passou ao lado de Carlo Ancelotti, que chegou à seleção para muitos como o nosso “salvador da pátria”, e que, sendo um não fluente do nosso idioma, possivelmente não tenha compreendido tanta baboseira.
Fui hiperbólico na introdução, mas declarações como as de Emerson Leão e Oswaldo de Oliveira, técnicos desempregados há anos (apesar de serem, sim, vitoriosos), infelizmente não têm sido escassas desde o sucesso de Jorge Jesus no Flamengo. Trata-se de discursos arrogantes e xenofóbicos de quem não procurou se reciclar no mercado e que pensa que o futebol não expandiu horizontes. Coincidentemente também portugueses, Abel Ferreira, o mais longevo em nosso território, e Artur Jorge, campeão nacional e continental em 2024, já foram alvos de críticas em meio a seus sucessos. Evidentemente um ou outro estrangeiro fracassou no Brasil, porém as constantes contratações de gringos passam muito pela inaptidão de diversos treinadores brasileiros.
Não se pode cometer a irresponsabilidade de declarar a falência do treinador brasileiro. Afinal, Fernando Diniz conquistou merecidamente a Copa Libertadores 2023 pelo Fluminense, inclusive eliminando na semifinal o Internacional, na época dirigido pelo argentino Eduardo Coudet. Atualmente temos três clubes comandados por brasileiros entre os cinco primeiros da elite nacional. Mas some isso ao restante: das últimas seis edições do Brasileirão e da Libertadores (todas vencidas pelo Brasil), apenas duas de cada foram conquistadas sob a batuta de um brasileiro.
Para completar, a situação acabou chegando à seleção. E apesar da resistência e desaprovação de Oswaldo, Leão e de outros técnicos nacionais, havia a ala, tanto da mídia quanto da torcida, que desejava uma mudança de ares após consecutivos anos de desastre, mesmo sob o comando de Dorival Júnior, então visto como o melhor técnico brasileiro. Se há inocentes, estes são os estrangeiros, incluindo Carlo Ancelotti, e submetê-lo a ouvir tamanhos absurdos foi de um grau imenso de indelicadeza e deselegância, algo digno até de saída imediata do palco. Uma nova mancha no nosso combalido futebol que amarga vexames da base ao profissional. No fim, Oswaldo declarou que um técnico brasileiro tem que assumir o Brasil após a saída de Ancelotti.
Não, Oswaldo. No dia que ele deixar a seleção, o técnico a chegar terá que ser o melhor disponível, independentemente da nacionalidade. O objetivo é evoluir e levantar taças, e tanto você quanto o Leão, que já trabalharam no exterior, sabem bem disso.
