Comunidade

Alunos brasileiros contam como é a vida universitária nos EUA

Estudar e viver no exterior é o sonho de muitos jovens, mas nem tudo é um conto de fadas; conheça a experiência de jovens da UF

Estudantes membros de Bate-Papo se reúnem toda semana para praticar a língua portuguesa
Estudantes membros de Bate-Papo se reúnem toda semana para praticar a língua portuguesa

DA REDAÇÃO – “Que vida fácil! Está estudando na ‘Disney!’” Que atire a primeira pedra o estudante brasileiro que nunca escutou frase parecida por estar estudando na Flórida. Estudar em um País estrangeiro vai muito além do esforço em aprender uma nova língua, implica ao aluno dias, meses e até mesmo anos de preparação antes da tão esperada data da viagem. Estudantes que acabam de chegar a um novo País se encontram na fase da lua-de-mel, em que o entusiasmo e a vontade de explorar o novo lar são enormes.

Porém, nem tudo é um mar de rosas. Brasileiros recém-formados do ensino médio que visam concluir o ensino superior na Flórida encontram obstáculos pessoais todos os dias. A vida numa faculdade como a Universidade da Flórida – UF–, em Gainesville, oferece o charme de cidade pequena e a diversidade cultural de uma cidade grande. Eleita a melhor instituição de ensino superior no estado da Flórida, a UF atrai muitos alunos de outros países, estabelecendo uma vida dinâmica, receptiva a estrangeiros, e no final das contas, aconchegante.

Mesmo assim, realmente vale a pena deixar seus familiares e amigos para estudar fora de casa? Quais são as vantagens de optar por uma educação aqui, e como os brasileiros lidam com os desafios de morar num lugar desconhecido sem seus entes queridos?

Lara David, de anos 21, natural de São Paulo, ela é estudante de Engenharia Civil na UF. Ela saiu de casa com 19 anos para realizar seu sonho de ir aos EUA sozinha. Ela descreveu sua vida antes de vir para cá: uma vida confortável, com a ajuda da família em todos os aspectos, incluindo casa, comida e roupa lavada. Tudo isso mudou quando ela iniciou os seus estudos aqui. “Valeu a pena. Quando as pessoas te ajudam, você acaba não percebendo qual é a importância de você ir atrás das coisas e fazer tudo sozinha. No final, apesar de ter sido difícil, acho que valeu a pena.”

Os alunos entrevistados deixaram claro que não falta apoio dos brasileiros que residem na Flórida e também de americanos amigáveis numa cidade universitária como Gainesville. Eles criaram uma “pseudo-família” de professores, amigos, colegas, e contatos, que funciona como base de segurança social apesar de terem vindo para cá sozinhos.

O paulistano Felipe Gatos, 19, admite, “é meio ruim falar assim, mas acabo me preocupando bastante com minha vida aqui da faculdade e meus amigos nos EUA”. O costume de manter uma rotina acelerada–de aulas, projetos, organizações, clubes estudantis, e tudo mais–acaba sendo uma distração produtiva para ele. Felipe é presidente da organização BRASA na UF, a Associação de Estudantes Brasileiros, que auxilia alunos brasileiros a estabelecerem contatos pessoais e profissionais, desde companheiros de quarto a oportunidades de estágio e emprego.

A família é um fator de extrema importância para a maioria dos brasileiros, e ao sentir o choque de estar sozinho em um país estrangeiro, a saudade de entes próximos e queridos fica ainda maior. Gabriel Coutinho, 21, se mudou em 2011 para o Sul da Flórida com os seus pais e a sua irmã mais velha, mas confessa que sente muita falta do Brasil, principalmente de parentes e amigos de infância. “Sinto muita falta da convivência como um todo. Mesmo durante as dificuldades que passei no Brasil, nunca me senti completamente só.”

Bate-Papo

Natural de Recife, capital de Pernambuco, Gabriel estuda engenharia industrial e de sistemas na University of Florida (UF), Gainesville, e diz que a melhor maneira de formar laços é perder o medo e a vergonha. “Muitas pessoas não o fazem. Então se você conseguir, você está fazendo alguma coisa certa.” Nas horas de lazer, Gabriel faz parte de Bate-Papo, um grupo formado por pessoas interessadas na língua portuguesa e na cultura brasileira. Consiste em uma roda de alunos de diferentes países que discutem assuntos variados em Português. O grupo se reune duas vezes por semana no campus da UF e obtém a ajuda de brasileiros como Gabriel para responder dúvidas e ajudar na prática do idioma.

Muitos participantes do grupo buscam ajuda para relembrar momentos e pessoas queridas que ficaram no Brasil, como o caso da Megan. Megan Radney, 19, é natural de Jacksonville, Flórida, e foi para João Pessoa, na Paraíba em 2016, através do Rotary Youth Exchange–um programa de intercâmbio para jovens. Megan sonha em dominar a língua portuguesa e se esforça para eliminar seu sotaque na hora de pronunciar as palavras. “Eu acho que Bate-Papo é uma oportunidade fantástica para os brasileiros compartilharem um pouco da sua cultura, enquanto mantêm uma conexão com seu próprio país.” Megan conversa com sua família brasileira todos os dias, e garante que às vezes conversa mais com sua “mãe” brasileira do que com a sua própria mãe.

Para Laura Henschel, natural de Fort Lauderdade e que já fez intercâmbio no Brasil, a experiência com brasileiros é muito enriquecedora. “Eu, como ex-intercambista do Rotary no Brasil, tive esses mesmos obstáculos que os entrevistados e quando eu completei meu intercâmbio senti saudades enormes da vida brasileira. Eu sentia a falta da comida, da minha família paraibana, e da cultural do Brasil em geral. Só queria saber de voltar. Nunca imaginei que acharia uma comunidade brasileira fora do Brasil. Eu busquei, no meu país de origem, o mesmo carinho, apoio e amizade que eu vivenciei na interação com os meus amigos lá”, disse Laura.

Já Giovanna Breda Kubota afirma que “Saudade” é um sentimento brasileiro. A palavra que representa um sentimento puro de carinho e afeto não pode ser traduzida em nenhuma outra língua do mundo, e é com essa sensação que muitos brasileiros devem aprender a lidar ao se mudar para um país estrangeiro. Não é fácil viver em um lugar onde a cultura é diferente da sua, onde as porções individuais de comida servem três, e seus vizinhos não são tão simpáticos como nos filmes de Hollywood. Porém, todo mundo sabe que passará por dificuldades ao tomar a decisão de ir estudar fora do país. Comigo não foi diferente.

Texto produzido por Laura Henschel e Giovanna Kubota, alunas da UF (University of Florida), com supervisão da redação

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