A Organização das Nações Unidas (ONU) enfrenta uma das mais severas crises orçamentárias de sua história. Pressionada por atrasos no pagamento de contribuições obrigatórias por parte de seus Estados-membros e por cortes drásticos no financiamento voluntário, a organização já demitiu milhares de funcionários e fechou operações humanitárias em diversas partes do mundo.
A situação foi agravada pela redução significativa das contribuições dos Estados Unidos, historicamente o maior financiador da ONU. O governo de Donald Trump cortou até 40% de seus repasses para agências-chave, fragilizando ainda mais a capacidade de resposta da organização em meio a múltiplas crises humanitárias globais.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) — principal agência humanitária da ONU — anunciou a demissão de cerca de 3.500 funcionários nos próximos meses. Os Estados Unidos eram responsáveis por mais de 40% das contribuições recebidas pela agência, que, segundo o chefe da entidade, Filippo Grandi, somavam cerca de 2 bilhões de dólares por ano.
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) também confirmou a dispensa de aproximadamente 500 colaboradores — cerca de 20% de sua força de trabalho —, além da redução de sua presença em países como Iraque, Camarões e Colômbia.
O ACNUR e o Programa Mundial de Alimentos (PMA) anunciaram ainda cortes de até 30% em seus orçamentos para 2025. No caso do PMA, a medida poderá representar a maior redução de pessoal em 25 anos, impactando diretamente programas de alimentação em regiões críticas como Sudão, Gaza e Afeganistão. Já o ACNUR se prepara para fechar escritórios e encerrar serviços essenciais, como fornecimento de água potável e assistência a refugiados em campos superlotados.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) sofreu uma queda de 30% em seu orçamento, o que resultará no corte de 6 mil postos de trabalho, o equivalente a 20% de seu efetivo global.
Os reflexos dessas medidas já são sentidos em campo. Equipes relatam a suspensão de programas de alimentação, saúde e educação para milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade. Em países devastados por guerras e mudanças climáticas — como Sudão do Sul, Etiópia, Iêmen e Síria —, a ausência da ONU pode gerar um vácuo perigoso, favorecendo a instabilidade e o avanço de crises migratórias.
Especialistas alertam que os cortes não só colocam vidas em risco imediato, como também comprometem o papel histórico da ONU como mediadora da paz e garantidora dos direitos humanos. A falta de recursos ameaça até mesmo o funcionamento de missões de paz e o apoio a países em recuperação de catástrofes naturais e conflitos.