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Ativistas acusam ICE de usar gangues como pretexto para prender indocumentados

Imigração tem anunciado a prisão de ‘integrantes de gangues’, mas não tem como comprovar o vínculo dos suspeitos em grande parte dos casos; vale lembrar que ser membro de gangue não é crime

Nem sempre os presos cometeram crimes
Nem sempre os presos cometeram crimes

O U.S. Immigration and Customs Enforcement (ICE) anunciou, na última semana, os resultados de uma operação que o órgão considerou uma vitória no cumprimento das leis. Em setembro e outubro, o governo federal prendeu 267 consideradas membros ou associados à gangue de rua Mara Salvatrucha (MS-13). Ativistas de imigração questionam, porém, o motivo das prisões e, em grande parte dos casos, os presos são indocumentados sem vínculos com as chamadas ‘gangues’.

Em reportagem exibida pelo canal de TV CBS, na mesma manhã em que o ICE anunciou a “Operation Raging Bull”, o agente Jason Molina admitiu durante uma batida realizada antes do amanhecer que o único crime conhecido que um suposto membro de gangue havia cometido era ser indocumentado. Vale frisar que, legalmente, somente pertencer a uma gangue não é crime.

A quadrilha foco da operação, com milhares de membros espalhados pelo continente americano, opera uma rede criminosa internacional. Nos EUA, seus membros têm sido presos por uma onda recente de homicídios hediondos em Boston (MA), Long Island (NY) e Virgínia e a administração Trump destacou a gangue como a pior ameaça à segurança pública no país.

Ao intensificar a temerosa reputação da MS-13 para utilizá-la como pretexto político, o ICE e os órgãos colaboradores são capazes de identificar, criminalizar, deter e eventualmente deportar grande número de imigrantes latinos. Na quinta-feira (23), o pronunciamento do ICE sobre a “Operation Raging Bull”, como foi batizada a série de batidas, teve o objetivo claro de exibir ações decorrentes das ameaças feitas pela administração Trump.

Em março desse ano, por exemplo, agentes do ICE invadiram a residência de Wilmer Catalan Ramirez, a esposa e o filho de 3 anos. Ele foi brutalmente preso depois que a polícia o identificou como membro de uma gangue em Chicago (IL); embora não tivesse qualquer ligação com quadrilhas de rua na cidade. O incidente resultou numa ação judicial movida pelo National Immigration Project of the National Lawyers Guild em nome da família de Ramirez.

Wilmer, que estava se recuperando de ferimentos anteriores, acabou depois da prisão com o ombro esquerdo fraturado e a perda da visão do olho esquerdo. Oito meses depois, ele permanece sob a custódia do ICE. O processo alega que os agentes entraram ilegalmente na casa de Ramirez sem a permissão da esposa ou mandado de busca, o uso excessivo de força e que desde que foi preso não tem recebido os cuidados médicos necessários aos ferimentos.

Um dos piores aspectos dos arquivos de gangues, explicou Tânia Unzueta, diretora da ONG Mijente em Chicago, é que as pessoas não têm como saber se foram incluídas nesse banco de dados e, mesmo que elas saibam, não têm o poder de questionar a inclusão e nem o direito de se removerem da lista.  Isso ocorre não somente em Chicago, mas também no Distrito de Columbia (MD) e Virgínia, que abrigam grandes concentrações de imigrantes centro-americanos e a MS-13 é conhecida por atuar nessas áreas. Quatro das prisões ocorridas durante a “Operation Raging Bulls” foram em Baltimore.

Ativistas defensores dos direitos dos imigrantes questionam como essas listas são mantidas. “Um rapaz me disse que a polícia disse que ele estava numa espécie de lista de membros de gangues”, disse George Escobar, diretor da ONG CASA de Maryland. Entretanto, o jovem disse ao ativista “tudo o que eu fiz foi estar sentado em minha varanda”.

“Nós realmente estamos enfurecidos pelo fato de como essas pessoas são descritas e classificadas como membros de gangues. Para início de conversa, não há consistência, há tanto segredo e informações conflitantes nesses bancos de dados de gangues”, concluiu ele.

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