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Cento e trinta e nove brasileiros foram deportados desde que Trump assumiu o governo, afirma Itamaraty

Número é o dobro do registrado em 2016; pesquisa encomendada pelo jornal O Globo mostra as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes brasileiros em Massachusetts desde que Trump assumiu o governo

Polícia de imigração leva até o avião homem para ser deportado
No ano passado, mais de 18 mil brasileiros foram detidos na travessia da fronteira com o México

DA REDAÇÃO, COM O GLOBO – O Itamaraty informou que neste ano, até o dia 27 de novembro, 139 brasileiros foram deportados, quase o dobro do registrado em todo 2016, quando 73 pessoas foram expulsas e enviadas ao Brasil por viverem sem os vistos corretos nos EUA. Isso sem contar as dezenas de presos que ainda aguardam o juiz bater o martelo sobre o seu futuro no País.

As informações são de pesquisa encomendada pelo jornal O Globo e realizada pela Ideia Big Data entre os dias 19 e 21 de novembro com 302 brasileiros em Framingham, Somerville e Cambridge, no estado de Massachusetts

De acordo com os dados levantados na região, oito em cada dez brasileiros que vivem na região de Boston — onde se concentra a maior comunidade do país nos Estados Unidos, com cerca de 400 mil pessoas — afirmam que a vida piorou desde que Donald Trump assumiu a Casa Branca. Outro número de destaque: 95% dos entrevistados têm pelo menos um parente sem documentação legal no país.

A pesquisa indicou que o tema dos imigrantes sem documentação afeta muito mais os brasileiros que se costuma imaginar. Na região de Boston, amigos e parentes dos primeiros a chegar continuam a se mudar para os EUA, mesmo sem a devida autorização. Nessa área do país, já há cinco gerações de imigrantes brasileiros.

“Para os ilegais e seus parentes, o medo de ser expulso importa mais do que a situação econômica”, conta Maurício Moura, presidente da Ideia, que fez a pesquisa.

Framingham, que em 2018 se tornará cidade e terá seu primeiro prefeito (eleito em novembro), debate se vai se transformar em “santuário” (onde governos locais decidem não colaborar com o esforço anti-imigração do governo federal) ou não. A localidade de 70 mil habitantes — 20 mil deles brasileiros — avalia se compensa proteger os imigrantes e, com isso, entrar no radar do governo federal.

“O clima aqui está muito ruim. Muitos brasileiros têm abandonado tudo e voltado ao Brasil. Mas, ao mesmo tempo, não param de chegar imigrantes sem documentação do Brasil aqui — salienta Liliane Costa, diretora do Brazilian American Center (Brace). Sabemos de pessoas que foram detidas ao tentar renovar a autorização para viver nos EUA. Pessoas que estão na fila de deportação mesmo tendo filho nascido nos EUA ou cônjuge em situação legal. Estão todos mais vulneráveis”.

Com medo, muitos imigrantes preferem ficar na sombra, o que favorece a criação de guetos e dificulta ainda mais a integração na sociedade americana. Muitos brasileiros evitam até mesmo falar publicamente dos problemas, como em entrevistas, para não assustar suas famílias no Brasil.

“Aflorou o preconceito. Com Trump, há mais perseguição, dificuldades. Sabemos de mais abusos de empregadores, mais riscos para os brasileiros. Os agentes de imigração impõem agora normas que não eram aplicadas, e com um rigor incomum, levando mais pessoas para a detenção. Soube de uma brasileira, que tinha toda a vida aqui, que foi deportada sem passar por um juiz americano, o que é inadmissível”, conta Natalicia Tracy, diretora do Centro do Trabalhador Brasileiro em Boston.

A advogada Renata Castro afirma que a nova orientação do governo assusta até mesmo os estrangeiros em situação legal nos EUA. Segundo ela, até o governo de Barack Obama, o foco dos agentes migratórios era os estrangeiros que cometiam crimes, mas agora todos estão passíveis de problemas.

“Nem mesmo a cidadania americana ou o green card têm evitado problemas. Pessoas nessa situação estão tendo dificuldades para que seus parentes consigam vistos, por exemplo. Soube de um caso de uma pessoa que estava pedindo a cidadania americana e agentes da imigração decidiram rever todo o seu processo de green card. Queriam saber se ela estava de fato casada ou havia apenas feito um casamento de fachada. Isso não ocorria antes, não havia tantos obstáculos”, destacou a advogada.

FONTE: O GLOBO
FONTE: O GLOBO
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