Negócios

Opinião: Economia Verde é lenta, mas inevitável

Estudo realizado por pesquisadores aponta a evolução significativa das fontes de energia renováveis nos EUA e no Brasil, assim como no mundo todo

Brasil e Estados Unidos têm um rico histórico de cooperação para preservação ambiental e investimentos em energias renováveis (Foto: energytransition.umn.edu)
Brasil e Estados Unidos têm um rico histórico de cooperação para preservação ambiental e investimentos em energias renováveis (Foto: energytransition.umn.edu)

COLABORAÇÃO de Rodrigo Fonseca

Economia Verde ou Economia Limpa, qual seja a denominação que se prefira usar, o fato é que a humanidade passa por uma mudança de mentalidade na qual já não cabe mais aumentar a produção de gêneros não se importando com as consequências. É necessário produzir cada vez mais, mas dentro de parâmetros que há poucas décadas não tinham a menor relevância.

Acima das discussões político-ideológicas, a cultura da sociedade em diversos países vem elevando a importância da preservação do meio ambiente. Essa é uma boa notícia do ponto de vista econômico e social, não apenas do óbvio aspecto ambiental.

Os dois países mais populosos do continente americano, Brasil e Estados Unidos, têm números significativos a apresentar. No livro de J. Caldeira; J. M. Sekula; e L. Schabib, batizado de “Brasil: paraíso restaurável. Rio de Janeiro: Estação Brasil , 2020”, os autores citam que os investimentos em energias renováveis vêm crescendo consistentemente ao longo dos anos.

Os investimentos em energias renováveis realizados no Brasil superavam a marca de $200 bilhões, enquanto nos EUA o montante atingiu $50 bilhões em 2014.

A linha de evolução dos EUA pode parecer tímida, mas o investimento foi mais do que triplicado no período. O investimento feito pelo Brasil é favorecido por condições naturais e econômicas específicas que impulsionam esses números.

Ao contrário da Europa e da América do Norte, as reservas de carvão mineral no Brasil são baixas e de menor potencial energético. Era necessário ao Brasil aproveitar a vantagem de possuir muitos rios e construir sua matriz energética baseada em hidroeletricidade. Das dez maiores hidrelétricas do mundo, três estão no Brasil: Itaipu, Belo Monte e Tucuruí.

À medida que a geração de energia elétrica proveniente de barragens crescia, em velocidade muito maior, outras fontes renováveis avançavam na matriz energética brasileira. Até 1981, as hidrelétricas respondiam por 81% das fontes de energia do Brasil, seguido por gás (6%), biomassa (4%) e petróleo (3%), mas dez anos depois o percentual das hidrelétricas caiu para 66.7%, seguido por gás (9%), biomassa (8%), eólica (8%), carvão (4%), petróleo (2%), nuclear (2%), e solar (0.5%). 

Apesar de ainda haver um longo caminho a percorrer, os EUA estão na direção certa e as mudanças na matriz energética mostram sinais inequívocos de que a energia renovável tomará cada vez mais espaço.

A propósito, o Brasil e os Estados Unidos têm um rico histórico de cooperação para preservação ambiental e investimentos em energias renováveis. Vários acordos para troca de tecnologias, regulamentação conjunta para favorecer o mercado de combustíveis renováveis, comércio bilateral e outras ações são firmados há décadas entre as duas nações. Recentemente, os EUA assumiram o compromisso de o governo norte-americano contribuir com $500 milhões para o Fundo Amazônia, que seleciona projetos de preservação ambiental e desenvolvimento humano sustentável naquela região.

O mérito não é apenas desses dois países. Florescem pelo mundo iniciativas, pesados investimentos e criação de leis no sentido de tornar a economia, a produção de bens, menos agressiva ao meio ambiente. O Acordo de Paris, assinado em 2015, passou a contar com 195 países signatários comprometidos com o objetivo de reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Dentro do conjunto de ações, destaca-se a significativa velocidade de crescimento da geração das modalidades eólica e fotovoltaica no mundo. No ano 2000, a energia eólica apenas engatinhava, e em 2018 as participações das energias eólica e solar cresceram exponencialmente.

O movimento de tornar a economia ambientalmente amigável é robusto e irreversível. Ele é proveniente da mudança de pensamento, de cultura e de maior fluxo de informação que eleva a consciência das pessoas para a necessidade de remodelar o modo como a humanidade produz e consome os artigos necessários para viver bem. Na esteira dessa corrente, novas tecnologias são desenvolvidas, novos postos de trabalho são criados e o conhecimento humano expande proporcionando evolução em áreas correlatas. Ocorre devagar, como muitos dos esforços ao longo da história humana, e há muito ainda a ser feito, mas a corrente é consistente e as conquistas até aqui precisam ser reconhecidas. Tudo isso é lento, é verdade, mas é inevitável.

Compartilhar Post:

Baixe nosso aplicativo