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Sem ajuda do governo, indocumentados sofrem com falta de trabalho nos EUA

Crise provocada pelo coronavírus deixou milhões de trabalhadores sem trabalho, situação que piora quando se trata dos imigrantes sem documentos; “Preciso escolher entre pagar o aluguel ou colocar comida na mesa”, afirma uma leitora

Milhões de estabelecimentos fecharam e imigrantes indocumetados estão sem trabalho (Foto Wallpaper Flare)

Muito tem se falado sobre a ajuda do governo americano para milhões de pessoas que perderam o emprego nas últimas semanas, quando eclodiu a crise do coronavírus no País. O governo vai enviar cheques de $1.2 mil para portadores de Social Security e também oferece seguro-desemprego e incentivos a pequenos empresários, que tiveram que fechar as portas para evitar a propagação do coronavírus. Mas e o imigrante indocumentado? Como fica nesta situação?

Segundo o USA Today, cerca de 10.7 milhões de imigrantes indocumentados nos EUA não terão acesso ao pacote de medidas do governo e nem ao seguro desemprego.

“A sensação é de completo desamparo. O aluguel vencendo, o proprietário do imóvel se recusa a negociar e eu tenho que escolher: pago o aluguel ou coloco comida na mesa?”, lamenta Maria, que mora em Coconut Creek e tem visto de estudante, sem autorização legal para trabalhar.

Maria – nome trocado a pedido da entrevistada – está em casa de quarentena com o marido e o filho, que também perderam o trabalho. “É fato que os indocumentados que pagam impostos não serão beneficiados pelo pacote de incentivos do governo. Entretanto, eu mesma já recebi um recado de que se não pagar o aluguel, serei convidada a sair. Eu perguntei se eles poderiam usar o meu depósito como pagamento, mas a resposta foi que eu teria que pagar metade agora e a outra metade no final do mês. Para quem está sem salário isso não ajuda em nada?”, questiona.

O aluguel é o que mais pesa no orçamento e é essa despesa que tem tirado o sono dos imigrantes indocumentados. “Eu sei que assim como eu, outros milhares se encontram na mesma situação, mas com medo de se expor devido a seu status, não o fazem. E pior, muitos ainda vão trabalhar expondo a família a um contágio certo, para poder honrar com seus pagamentos”.

José mora em Pompano Beach e vive nos EUA há mais de 20 anos. Ele trabalha no ramo de construção e afirma que “está tudo parado”. José é divorciado e tem dois filhos. “Por enquanto está dando para se virar, para este mês consegui pagar as contas, mas e no mês que vem? Os condomínios não estão deixando entrar para fazer as obras, os clientes estão cancelando e suspendendo. E uma coisa é verdade: hoje em dia quase ninguém tem dinheiro guardado”.

Para esses momentos difíceis, as igrejas têm distribuído cestas com alimentos sem questionarem se a pessoa está ou não empregada. Mas, infelizmente, as outras contas estão vencendo: prestação do carro, telefone e muitas outras despesas. “As cestas básicas ajudam, mas temos muitas outras despesas. Sinceramente, o que me deixa sem dormir, é não saber quando tudo isso vai acabar”, comenta José.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, anunciou que ninguém poderá ser despejado por 45 dias e nem o banco poderá tomar a casa de quem não pagar a prestação, a partir do dia 2 de abril. A medida visa proteger as pessoas que têm imóveis alugados ou financiados. Mas isso não quer dizer que a dívida será perdoada. “Isso não elimina o pagamento do aluguel, você continua devendo. Essa medida do governo protege apenas as pessoas que alugam por esse curto período de tempo na Flórida. Depois desse prazo, ele poderá ser despejado”, informa Jeffrey Hearne, diretor do Legal Services of Greater Miami, que ajuda locatários de baixa renda. 

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