Antonio Tozzi Esportes

Temas áridos, mas necessários

Há dois grupos interessados em administrar o futebol brasileiro: Libra e Futebol Forte

Fundo de investimentos Mubadala quer se tornar o braço financeiro da Liga Brasileira de Futebol (Libra) (Foto: Canva)
Fundo de investimentos Mubadala quer se tornar o braço financeiro da Liga Brasileira de Futebol (Libra) (Foto: Canva)

Caro leitor, você que está acostumado a acompanhar os feitos esportivos nesta coluna. Mas esta semana vamos vestir o figurino de financista. E isto se reflete no campo esportivo, com certeza.

Em primeiro lugar, vamos analisar a saga da formação de uma liga profissional para gerir o futebol brasileiro. Entretanto, apesar da vontade de tornar este sonho em realidade, o acordo para se chegar a uma denominação comum enfrenta muitos percalços.

A fim de situar o leitor, há dois grupos interessados em administrar o futebol brasileiro: Libra e Futebol Forte. Inicialmente, 18 clubes haviam se comprometido a integrar a Libra, porém Botafogo, Vasco e Cruzeiro decidiram deixar este grupo, insatisfeitos com a proposta do fundo de investimentos Mubadala, que é ligado a um grupo árabe.

Após essa desistência, o Mubadala formalizou a dirigentes da Libra, na noite de segunda-feira (12), mais uma proposta pela formação de um bloco comercial. A oferta foi enviada a dirigentes com uma alteração em relação à versão anterior: agora, para que ela seja assinada, basta que Corinthians, Flamengo, Palmeiras e São Paulo a assinem. 

A diferença está na quantidade de clubes tida como condição para sacramentar o negócio. Na versão mais recente, o investidor exigia que houvesse adesão de pelo menos 18 clubes. Com a recusa de Botafogo, Cruzeiro e Vasco em aceitar as condições, o Mubadala refez a proposta.

A atual oferta não forma uma liga de clubes, como é de interesse do fundo de investimentos dos Emirados Árabes, mas, sim, um bloco comercial para a negociação dos direitos de transmissão, tido como etapa preliminar até que dirigentes se entendam em relação à criação da liga.

Nessa proposta, o Mubadala pretende comprar 12,5% dos direitos de mídia dos clubes, referentes ao Campeonato Brasileiro, por um período de 50 anos. O valor a ser transferido corresponde à metade do investimento que o fundo faria inicialmente, para adquirir uma participação sobre a liga de clubes. As quantias de cada clube são:

ClubeValor
FlamengoR$ 158 milhões
CorinthiansR$ 148 milhões
PalmeirasR$ 128,5 milhões
São PauloR$ 128,5 milhões
CruzeiroR$ 99,5 milhões
GrêmioR$ 99,5 milhões
SantosR$ 99,5 milhões
VascoR$ 99,5 milhões
BotafogoR$ 80 milhões
BahiaR$ 60 milhões
VitóriaR$ 60 milhões
Ponte PretaR$ 40,5 milhões
GuaraniR$ 31 milhões
BragantinoR$ 31 milhões
ItuanoR$ 11 milhões
MirassolR$ 11 milhões
NovorizontinoR$ 11 milhões
Sampaio CorrêaR$ 11 milhões
TotalR$ 1,3 bilhão

Além do pagamento previsto para a compra dos direitos, o investidor afirma que antecipará R$ 3 milhões a cada clube, como um gesto de boa vontade, em depósito a ser realizado em 29 de junho.

Tanto o sinal quanto a alteração da proposta representam nova tentativa do Mubadala de fechar negócio com os clubes. Por um lado, o fundo pressiona Botafogo, Cruzeiro e Vasco a reverem a decisão de não assinar a oferta. Por outro, a empresa incentiva dirigentes do outro grupo, chamado Forte Futebol, a trocar de lado e fazer parte da Libra.

As maiores dívidas do futebol brasileiro

Embora o Brasil seja referência mundial no futebol, o país também conta com algumas das maiores dívidas de times brasileiros já registradas. Assim, a falta de pagamento de impostos e o acúmulo de contas são alguns dos motivos que levaram a um montante bilionário devido para instituições, patrocinadores e para o Governo Federal.

Diante do aumento do número de críticas provenientes dessa situação, muitos clubes já buscam mecanismos para reverter o endividamento, e analisam alternativas para reduzir o valor. No entanto, muitos torcedores podem não conhecer o contexto dentro da associação que acompanham, e não entendem as mudanças na estrutura corporativa que acontecem para evitar consequências mais graves.

Nesse caso, vale a pena conhecer mais sobre as dívidas de times brasileiros, quais os clubes mais comprometidos e as opções mais populares para reverter parte dessa condição. Aqui estão as dívidas e a relação entre dívida e receita.

Em 2021, um levantamento realizado pela consultoria EY e divulgada pela ESPN e pela Forbes divulgou os 25 times brasileiros que mais possuem dívidas. No total, o endividamento ultrapassa R$ 10 bilhões, e atingiu um volume recorde no ano anterior. Em 2020, o montante era de R$ 11 bilhões, mas a retomada das atividades em larga escala aumentou esse número.

É comum que a volta das temporadas esportivas promovam a volta de negociações de jogadores, contratação de publicidades e campanhas de participação. No entanto, essas práticas levam à presença dos torcedores nos estádios e a contratação de pay per view para futebol, o que contrabalanceia o orçamento gasto.

Por outro lado, uma vez que os principais times já possuíam pendências consideráveis referentes aos anos anteriores, o valor não foi suficiente para cobrir os novos gastos e os pagamentos que deveriam ser feitos. Dessa forma, poucas dívidas de times brasileiros foram reduzidas no encerramento de 2021.

Assim, a lista geral conta com alguns dos nomes mais populares do cenário nacional, e os valores foram avaliados por meio de demonstrações financeiras que devem ser disponibilizadas pelas diretorias dos clubes. Ademais, os dados contemplam um período de 10 anos, e indicam o avanço do endividamento ao longo da década. Confira o ranking com todos os clubes que mais acumulam montante devido e os respectivos valores, segundo divulgações:

ClubeValor da dívidaDívida x Receita
1. Atlético-MGR$ 1,31 bilhão2,6x maior
2. CruzeiroR$ 1,02 bilhão7,12x maior
3. CorinthiansR$ 928 milhões1,85x maior
4. BotafogoR$ 863 milhões7,08x maior
5. VascoR$ 710 milhões3,81x maior
6. FluminenseR$ 664 milhões1,99x maior
7. São PauloR$ 642 milhões1,35x maior
8. InternacionalR$ 631 milhões1,65x maior
9. SantosR$ 509 milhões1,25x maior
10. PalmeirasR$ 434 milhões0,44x maior
11. GrêmioR$ 402 milhões0,81x maior
12. FlamengoR$ 323 milhões0,30x maior
13. CoritibaR$ 288 milhões3,41x maior
14. VitóriaR$ 259 milhões4,35x maior
15. SportR$ 231 milhões2,45x maior
16. BahiaR$ 202 milhões0,97x maior
17. AthleticoR$ 191 milhões0,68x maior
18. Ponte PretaR$ 172 milhões4,63x maior
19. AvaíR$ 108 milhões4,27x maior
20. América-MGR$ 91 milhões 0,89x maior
21. GoiásR$ 68 milhões 1,34x maior
22. FortalezaR$ 36 milhões0,21x maior
23. CearáR$ 32 milhões0,20x maior
24. CuiabáR$ 15 milhões0,21x maior
25. Atlético-GOR$9 milhões0,08x maior

Diversos clubes já estão em processo de negociação, e os valores podem ter aumentado com o início da temporada de 2022.

Ao analisar esse quadro, percebe-se que os times com menor endividamento são aqueles que estão obtendo melhores resultados esportivos (Flamengo e Palmeiras), enquanto os demais vão masl esportiva e financeiramente. A única exceção é o Atlético Mineiro que consegue manter um bom elenco, entretanto é o dono da maior dívida do futebol brasileiro.

Atualmente, o clube com a maior dívida é o Atlético Mineiro, com total de R$ 1,3 bilhão. Já o segundo e terceiro lugar ficam com o time do Cruzeiro, que soma R$ 1 bilhão em débitos, e o Corinthians, com R$ 928 milhões.

 Os clubes possuem divisões distintas das categorias mais devidas. Por exemplo, o Corinthians é o clube que mais reúne débitos de empréstimos. Entretanto, o montante total de pendências é o valor considerado no ranqueamento dos principais times brasileiros com dívidas.

Existem algumas alternativas disponíveis para quitar as dívidas de times brasileiros, ou, ao menos, negociá-las para propor uma redução. Isso porque a somatória dos débitos é superior à receita das associações. Alguns clubes possuem contas 7 vezes maior do que os seus recebimentos. De acordo com o levantamento divulgado pela Forbes, o Vasco, por exemplo, demoraria cerca de 15 anos para pagar tudo que é devido pela corporação.

Esse valor é calculado com base nos lucros médios dos últimos anos, e traz uma média parecida na maioria dos times. O Corinthians, que está entre os clubes mais devedores, demoraria 10 anos para zerar seu montante, caso destine 20% de seu faturamento dedicado à redução das dívidas. Já o Palmeiras zeraria suas dívidas em três anos e o Flamengo em apenas um ano e meio.

Como se percebe, não é à toa que Flamengo e Palmeiras estão mandando no futebol do Brasil e da América do Sul.

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