Imigração

Medo do ICE afasta imigrantes de atendimento médico em L.A.

Mesmo com leis de proteção, comunidades imigrantes evitam atendimento em clínicas e hospitais.

Comunidades indocumentadas se afastam dos cuidados médicos. Foto: Freepik

Corredores de hospitais e clínicas em Los Angeles, sempre movimentados, andam silenciosos. Muitos imigrantes, sobretudo os indocumentados, têm evitado buscar atendimento médico por medo de serem detidos por agentes do U.S. Immigration and Customs Enforcement. Esse receio, que, de tempos em tempos é reavivado, voltou com força total, com a possibilidade de operações mais intensas de fiscalização, afetando diretamente o acesso à saúde em comunidades, na maioria das vezes, já vulneráveis.

Apesar de serem considerados “locais sensíveis” — onde, por diretriz federal, o ICE evita realizar operações —, o medo persiste. O Departamento do Serviço de Saúde do Los Angeles County reforça que não compartilha informações de pacientes com autoridades migratórias e segue o California Values Act, que limita a cooperação com o ICE. Mas, segundo profissionais de saúde, o que vale mesmo agora é a percepção de risco. Anna, 45 anos, trabalha numa clínica comunitária em Downtown LA, e diz que “a situação de medo é visível”. Segundo ela, pacientes que antes iam regularmente por causa de doenças como hipertensão e asma, que exigem acompanhamento contínuo, preferiram pausar o cuidado preventivo. “São pessoas com condições tratáveis, mas cujos casos podem de repente se tornar emergências médicas”, conta. Anna não divulgou seu sobrenome por segurança: seu marido é um imigrante em processo de ajuste de status.

Essa percepção de risco tem consequências reais. Segundo uma pesquisa da Kaiser Family Foundation, 31% dos imigrantes disseram que preocupações com o status migratório — próprio ou de familiares — afetam negativamente sua saúde. O estudo também mostra que 20% enfrentam dificuldades com sono e alimentação, enquanto 31% relatam aumento no estresse e na ansiedade. Redes como a St. John’s Community Health, que atende cerca de 25 mil pacientes indocumentados em Los Angeles, têm presenciado casos graves, como o de uma mulher com diabetes que parou de ir ao mercado com medo de ser abordada e estava se alimentando apenas de tortillas e café.

Profissionais relatam ainda que, além de pacientes cancelando consultas de rotina, outros têm deixado de comparecer mesmo a emergências leves. Ana Ruth Varela, da St. John’s Community Health, contou à Laist que muitos têm medo até de sair de casa.

Diante desse cenário, organizações comunitárias têm intensificado esforços para informar imigrantes sobre seus direitos. Grupos como a Community Self-Defense Coalition fazem patrulhas em bairros vulneráveis, usando sirenes e megafones para alertar sobre possíveis operações migratórias.

Compartilhar Post:

Baixe nosso aplicativo