Estados Unidos Geral

Atirador de Buffalo publicou manifesto alegando que brancos serão substituídos por raças inferiores

Em documento publicado na internet, Payton Gendron convoca americanos brancos para "acordarem" para o que ele chama de "genocídio da raça branca"

Suspeito abriu fogo no Tops Friendly Market e matou 10 pessoas, maioria negra (foto: LA Times)
Suspeito abriu fogo no Tops Friendly Market e matou 10 pessoas, maioria negra (foto: LA Times)

O suposto responsável pelo massacre em um supermercado em Buffalo, no estado de New York, escolheu aqueles que seriam o alvo de sua fúria. Das 13 pessoas baleadas, 11 eram negras. A motivação, segundo o FBI, foi discriminação e ódio racial. Payton Gendron, de 18 anos, planejou cada detalhe do ataque e publicou na internet em forma de manifesto. No documento de 180 páginas, ele explica de onde veio a inspiração para cometer o crime.

Segundo as autoridades que tiveram acesso ao texto, Gendron revela que participava de fóruns online onde são propagadas teorias conspiratórias. Entre elas, a teoria da “Grande Substituição” (The Great Replacement conspiracy theory, em inglês). O conteúdo argumenta que os americanos brancos serão substituídos por pessoas de cor e cultura inferiores “como negros e imigrantes”. Também aborda o fuzil usado matar as vítimas, e descreve a área de estacionamento em que ele abriria fogo antes de entrar no supermercado, além da rede social Twitch, na qual transmitiria o ato de violência em tempo real. 

Em um determinado ponto do manifesto, Gendron convoca seus compatriotas para “acordarem” para o que ele chama de “genocídio branco”.

Criada em 2012 pelo francês Renaud Camus, a Great Replacement Theory passou a ser difundida entre nacionalistas e conservadores, ganhando vários adeptos nos EUA. Uma pesquisa realizada em maio deste ano pela Associated Press-NORC Center for Public Affairs Research, indica que um em cada três americanos adultos acreditam na  teoria da substituição.

A tese, que não tem base histórica nem sociológica, já foi usada por outros extremistas. Em 2019, o australiano Brenton Tarrant, também transmitiu sua chacina em uma mesquita na Nova Zelândia. Antes de entrar no templo e executar mais de 50 imigrantes muçulmanos, ele postou um manifesto de 74 páginas nas redes sociais sob o nome “The Great Replacement Theory”.

A mudança demográfica registrada nos últimos anos tem sido usada para reforçar o ideal dos extremistas. Entre 2010 e 2020, a porcentagem de americanos que se identificaram como “somente brancos” caiu 10%, passando de 72% para 62% do total da população. Durante essa mesma década, vários países da Europa Ocidental que também reduziram o número de habitantes auto-declarados brancos, viram fluxos recordes de imigrantes. 

De acordo com a professora Cynthia Miller-Idriss, do Polarization and Extremism Research and Innovation Lab, da American University, o retrato traçado por essa mudança demográfica é o que a retórica da substituição tenta combater. “Esses grupos, que tendem a ser homens brancos, geralmente com baixa escolaridade, se sentem ignorados pela política e acreditam que mais atenção está sendo dada aos problemas de outras pessoas do que aos seus próprios”, explica Miller-Idriss.

Payton Gendron se declarou inocente no sábado à noite da acusação de assassinato em primeiro grau. Ele está sob custódia sem fiança e sob vigilância de suicídio.

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