Jorge Nunes

Banco no Brasil

A porta giratória trava. Do lado de dentro, o guardinha me olha de soslaio. Forço a porta e ela não se mexe. O guardinha me olha feio, se aproxima e põe a mão na arma. Abro os braços, como explicando que não sei o que se passa. Ele me olha de cima abaixo e aponta para uma gavetinha ao lado da porta. Abro os braços ainda mais e ele faz sinal para que eu coloque meus objetos pessoais dentro da gavetinha que, agora reparo, tem uma entrada do lado de fora e uma saída do lado de dentro, ou vice-versa. Esvazio os bolsos, tiro o cinto, a carteira, o relógio, celular e pergunto ao guardinha se preciso tirar os sapatos também, como num checkpoint de segurança no aerporto. Ele faz sinal que não com um dedo. Empurro a gavetinha separado de todos os meus pertences, me sentindo meio desguarnecido. O guardinha aperta um clique e a porta destrava. Aliviado, entro no banco e recolho meus pertences da gavetinha. O guardinha perde imediatamente o interesse na minha pessoa e dirige a atenção para uma morena que agora passa em frente ao banco.

Dentro do banco, há poucas informações e muito menos alguém que as forneça. Depois de uma rápida pesquisa, noto uma placa escrito “CAIXAS”, junto com uma setinha para cima, ao pé de uma escada. Satisfeito com a descoberta, subo as escadas e chego a um grande salão com uma série de cadeiras ocupadas e vários guichês, alguns vazios. Dirijo-me ao mais próximo e apresento ao caixa o objeto daquela visita à agência: um formulário de cobrança e o respectivo dinheiro para pagá-lo. Imóvel, o caixa me encara com olhar gelado. Balbucio que gostaria de pagar aquela conta. Ele aponta para uma telinha na parede com uns números e compreendo que é preciso pegar uma senha para o atendimento. Há umas vinte pessoas sentadas esperando, cada uma com sua senha. Desanimado, pergunto ao caixa onde pegar a senha, e ele me responde que é com um outro guardinha, ao pé da escada.

Desço e peço uma senha ao outro guardinha que, sentado a uma mesinha, tem a única função de distribuir os papeizinhos numerados aos infelizes clientes do banco. Para meu desespero, minha senha tem um número alto, perto de três dígitos. Subo a escada novamente e percebo, mais aliviado, que minha senha está só uns vinte números atrás da corrente. Há vários caixas abertos, deve demorar pouco, penso. Mas logo descubro que muitos dos caixas não atendem ninguém, absortos em misteriosas atividades.

Passados uns vinte minutos, meu número brilha no painel de senhas, indicando também qual o caixa ao qual deveria me dirigir. Apresento novamente o boleto e o dinheiro. O caixa pega o boleto e o dinheiro e imediatamente passa a digitar furiosamente alguma coisa no seu computador. A consulta leva alguns minutos e no final ele pede o meu CPF. Não faço ideia da razão, mas acedo ao pedido. Ele escreve o meu CPF no boleto e volta a consultar a tela do computador. De repente se levanta e desaparece atrás de uma divisória sem mais satisfações. Perplexo, não sei o que fazer senão esperar. Alguns minutos depois ele retorna e diz que infelizmente não pode receber o boleto porque é uma versão antiga. Mais perplexo ainda, argumento que baixei o boleto do próprio website do banco. Implacável, ele diz que o boleto teve uma atualização que ainda não foi para o website. Já me sentindo no meio de uma novela kafkiana, pergunto onde posso então obter um boleto atualizado no banco. Ele responde que só pelo website, que é preciso esperar a atualização e que não tem ideia de quando vão atualizar. Imploro ao caixa que me dê uma alternativa, pois viajaria naquele mesmo dia para fora do país e precisava pagar aquela conta. Ele não se comove com meu drama, diz que não pode fazer nada, e me devolve o boleto e o dinheiro. Sinto muito, ele diz, e aperta o botão para receber uma nova senha.

Uma das minhas características positivas é permanecer calmo em situações desesperadoras. Respiro fundo e peço para falar com o gerente. O caixa diz para eu voltar para as cadeiras e aguardar.

Dez minutos depois um engravatado faz sinal para mim por detrás de uma mesa. Era o gerente, ou coisa que o valha. Explico o caso para ele e consigo comovê-lo. Uma solução foi dada: ele pagaria da sua própria conta o constante do boleto e eu lhe passaria o dinheiro. Depois ele transferiria tudo para o meu nome e me mandaria o recibo quitado por email. Não entendi muito bem o processo, mas concordei de imediato e sumi dali o mais rápido possível.

É assim um banco no Brasil.

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