Ida Sem Volta Turismo

‘Bienvenidos a la Ciudad de México!’

Nova colunista do AcheiUSA, a jornalista Aline Nader (@ida_sem_volta) dá dicas de turismo na Cidade do México, capital mais populosa do Hemisfério Norte

Nasci no interior de Minas Gerais, lá em Araguari. Dizem que sou da região dos três “B’s” do Triângulo Mineiro. Sim, “Berlândia” “Beraba” e, para mim, a “Beleza de Araguari”. Cresci entre plantações de cafés e mais de 100 cachoeiras. Mas, quando eu achei que eu precisava conhecer mais desse mundão, resolvi me mudar para os Estados Unidos, e venho chamando Los Angeles de casa desde 2017. Antes, passei uma breve temporada na Flórida, interrompida pela assustadora passagem do Furacão Irma, quando cruzei o país e cheguei na West Coast dedidida a ficar. Mas como dizem por aí, eu tenho rodinha nos pés, e não perco uma oportunidade de fazer as malas e explorar mundo afora.

Esse mês, foi um fim de semana na Cidade do Mexico, que rendeu muita história para contar. Três noites e dois dias são perfeitos para escapar de Los Angeles num final de semana prolongado. Mas não o suficiente para explorar a profusão de sabores, cores, cheiros misturados com a riqueza arquitetônica, cultural e gastronômica que a Cidade do México oferece.

A cosmopolita capital mexicana, ou CDMX, é a mais populosa do Hemisfério Norte. Tem quase 10 milhões de habitantes e oferece opções infinitas que agradam a todos.

Depois de duas horas e meias de vôo, peguei um Uber e segui para o Airbnb que fica em La Condesa, um bairro que impressiona com seu ar artístico e oferece a sensação de imersão cultural, sem nenhum esforço.

Ainda dentro do carro, percebi os inúmeros pontos de internet sem fio espalhados pela cidade, reparei na limpeza das ruas e que, a cidade é bem acessível, apesar do trânsito caótico, e eu confesso que, pela quantidade de carros, eu ficava com medo de atravessar a rua.

O ritmo descontraído de La Condesa e seu bairro vizinho Roma me encantou. Uma área charmosa com muitas árvores nas ruas e cheia de restaurantes, cafés e butiques.

O apartamento é recém-decorado com muita personalidade por um grupo de amigas que reformam móveis da década de 50. Tudo por lá é feito a mão. Inclusive as canecas e os pratos do apartamento, que são esculpidas no segundo andar do mesmo prédio nas aulas de cerâmicas às sextas e sábados.

De frente ao prédio, umas mesinhas coloridas na calçada com um sol ilustrado e os dizeres “Hoy será un día mágico, místico y milagroso”. O restaurante era Groovys, uma taqueria vegana bem “Buena Vibra” com decoração em tons pastéis que projetam aconchego imediato. Pelo sabor delicioso, é quase que impossível perceber que todo o cardápio é vegano e com certeza, conseguirá agradar a qualquer um, independente de suas restrições alimentares.

Eu não estava preparada para arranhar meu espanhol, mas muitos atendentes dos restaurantes não falam inglês. E eu também percebi que o ritmo da cidade é outro, então, o jeito era desacelerar e me deixar levar.

Quanto aos planos para conhecer os atrativos da cidade, em meio a tantas opções, foi preciso priorizar. A casa da Frida Kahlo está nos meus planos há muitos anos, então, sem dúvida, foi a primeira opção.

Comprei os ingressos online ainda em Los Angeles, umas duas semanas antes da viagem, com horário agendado para evitar filas já que o tempo estava contado. O valor do ingresso é 250 pesos por pessoa e a permissão para tirar fotos sem flash custa 30 pesos. Segui para Coyoacán, o tradicional bairro cheio de artistas nas ruas, bares e restaurantes lotados, conhecido pela vida boêmia.

Depois de visitar o Museu da Acuarela no mesmo bairro, segui para a casa da Frida Kahlo. Conhecida como Casa Azul, o museu é o espaço cultural mais representativo da artista mexicana, além de abrigar parte importante de seu legado artístico e conceitual.

Frida Kahlo (1907-1954) viveu na Casa Azul durante a maior parte de sua vida; inicialmente, com sua família e anos depois com o muralista Diego Rivera (1886-1957), onde frequentemente recebiam visitas de artistas e intelectuais da primeira metade do século XX. É possível ver pinturas de autoria de ambos os artistas, notáveis obras de arte popular, esculturas pré-colombianas e elementos do cotidiano de Frida.

Ler as páginas dos seus cadernos, observar a tinta oxidada na paleta, a cadeira de roda de frente ao cavalete, a disposição da cozinha e as centenas de miniaturas de cerâmicas penduradas na parede, o espelho na cama, o bordado da almofada me emocionou. Os detalhes dos espaços mais íntimos de Frida Kahlo, me trazem a sensação de que estou num encontro pessoal com a artista. Eu pude entender que existe uma concordância entre o seu mundo pictórico e a realidade em que ela vivia. Foi pura inspiração.

Finalizamos a noite na concorrida Churreria El Moro, e claro, me esbaldei com churros com as coberturas de chocolate, leite condensado e caramelo.

No outro dia, não tinha compromisso com nenhum outro atrativo turístico. Então desacelerei, e passei a apreciar o andar sem rumo, a brisa do parque, um café às 9 da manhã ouvindo sopranos e tenores cantando ópera pelas ruas. Entrei em uma das milhares de padarias da cidade, folheei livros de ilustrações nas livrarias.

Andei pelo Bosque de Chapultepec, que tem o dobro do tamanho do Central Park, em Nova York. Explorei os arredores do Castelo de mesmo nome e o Museo de Antropologia. É lá que está a famosa Piedra del Sol, também conhecida como calendário asteca. Também descobri até um zoológico dentro do parque.

Parei no meio do dia para uma margarita, uma cerveja artesanal no fim da tarde e a noite, sentei no El Parnita, bar badalado de Roma. Enquanto aguardava na fila, a banda de mariachis com seus ternos bordados coloridos tocava violão, violinos e trompetes pelas ruas tentando ganhar alguns trocados dos clientes dos bares ao redor.

Observei que as pessoas fumam muito cigarro em todos os lugares na Cidade do Mexico. E não só nas portas dos bares, é possível sentir o cheiro de fumaça nos parques e praças o dia todo. Inclusive, um dos motoristas de Uber estava fumando dentro do carro quando entrei.

Terceiro e último dia na cidade do México. Pelas minhas contas, andei em média uns 9 quilômetros por dia.

Em viagens, eu estou sempre disposta a bater pernas porque acredito que não há melhor forma de conhecer uma cidade nova.

O que eu não sabia, é que seria tão cansativo porque não estava contando com o “Mal de altitude”. A cidade está localizada a 2300 metros acima do nível do mar. O ar rarefeito faz com que a respiração fique mais rápida e o coração acelerado. Eu sentia muito cansaço. Mas não sabia se era pela altitude ou por estar me recuperando de uma gripe. Acho que pelos dois motivos.

Com uma dor de cabeça que não passava, precisei de um remédio e parei numa farmácia. A maioria dos medicamentos no México são muito acessíveis e baratos e até antibióticos podem ser comprados em pequenos supermercados sem prescrição médica.

No último dia, pela manhã, andamos até a famosa Panaderia Rosetta. Era sábado e todas as mesas estavam ocupadas, muitos turistas na fila e a lista de espera era de 45 minutos. Pedi no balcão, o que foi bem conveniente. Difícil foi escolher dentre todas as opções do cardápio. Até hoje não esqueci o cheiro da rosca de goiaba e a de canela, que são as mais solicitadas. Também pedi um pão de cardamomo e um de doce de leite . Tudo era tão delicioso que me esqueci de tacos por um momento.

O México é realmente um país colorido e me encanta a riqueza do artesanato tradicional e da arte folclórica. Andamos por horas nos corredores do Mercado de Artesanías La Ciudadela pechinchando e comprando lembranças. Me perdi e me achei diversas vezes pelos corredores e saí de lá cheia de sacolas nas mãos.

Rumo à região central da cidade, conhecida como Zócalo, entro no Mercado San Juan, um tradicional mercado mexicano no centro histórico que se tornou o único especializado em comidas gourmet e exóticas. Encontramos todo os tipos de barracas: as mais tradicionais, que vendem frutas e verduras; outras que vendem variedades de queijos e presuntos e temperos; e as tendas mais exóticas, que vendem insetos. Inclusive foi lá que matei a minha curiosidade e experimentei pela primeira vez um escorpião frito, finalizando a experiência gastronômica com uma dose de mezcal. Proteína Pura. E para os curiosos, é muito crocante e salgadinho.

Saí do mercado e percebi que tinha muita gente na rua. Milhares de ônibus de diversas partes do país estavam estacionados, polícia por todo os lados e agentes de trânsito fechando as avenidas mais movimentadas. Eu ainda não tinha nem chegado na Plaza de la Constituición.

Era feriado de comemoração aos 85 anos da expropriação do petróleo no país, e pelo jeito não era o melhor dia para conhecer o Palacio Royal, o Palacio Bellas Artes, a Casa de los Azulejos, paradas obrigatórias pelos guias de turismo, porque a única coisa que conseguia ver, era uma multidão de 500 mil pessoas, celebrando ou protestando o governo mexicanos. E eu no meio de tudo isso, desviando das pessoas, correndo para me esconder da chuva e procurando sem sucesso um tuc-tuc para me tirar do meio desse mar de gente , quando eu só queria mesmo era ver o mural de Diego Rivera , comer mais uns tacos e finalizar a noite com mais uma Margarita.

Cidade do México é isso, uma metrópole que mescla ancestralidade com o contemporâneo, é essa mistura de passado, presente e futuro, onde o caos e o silêncio se encontram. A pura experiência de viver a cidade já é um respiro, e por isso, Yo volveré.

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