Notícias

Border Patrol dá versões contraditórias sobre a morte da jovem guatemalteca

O órgão federal primeiro disse que seu funcionário havia sido atacado com objetos contundentes, porém, depois atenuou a versão de forma inconsistente. As autoridades legistas confirmaram a identidade da jovem de 20 anos que faleceu por causa de um disparo na semana passada. Sua família exige justiça

Claudia Patricia
Claudia Patricia morreu junto a fronteira em território americano

Yosimar Morales, de 18 anos, não se reencontrará com sua namorado, Claudia Patricia Gómez González. Agora ele sabe com certeza, pois o consulado da Guatemala no Texas confirmou que ela é a jovem morta na quarta-feira (23) após receber um tiro na cabeça disparado por um agente da Patrulha Fronteiriça (CBP).

A Patrulha Fronteiriça mudou levemente sua versão sobre o ocorrido. A da última quarta-feira dizia quem um agente respondeu à uma denúncia de “atividade ilegal” no Rio Bravo, Texas. Ao chegar, se encontrou com um grupo de pessoas aos quais mandou ficar quietos e deitar-se no chão. Eram 12h22 da tarde. Segundo este comunicado, não acataram suas ordens e começaram a atacá-lo com “objetos contundentes”. Isto teria obrigado o agente a sacar sua arma e disparar um tiro em direção à uma pessoa.

Os demais fugiram. O agente, com 15 anos de experiência, então pegou seu rádio, pediu reforços e ajuda para a jovem, porém ela já estava morta.

Na sexta-feira (25), uma parte da história mudou. Asseguram que após ordem do agente para ficarem quietos, o grupo de imigrantes “ignorou suas ordens e se atirou sobre ele”. Então, ele disparou. Na segunda declaração não mencionaram nenhum ataque com objetos contundentes.

Sara Meléndez, porta-voz de imprensa do CBP no setor de Laredo, disse estar o agente em licença administrativa enquanto as autoridades encerram as investigações.

Claudia Gómez completou 20 anos em fevereiro. Era originária da Guatemala. Antes de tentar cruzar a fronteira vivia nesse país na Aldea La Unión, em San Juan Ostuncalco, estado de Quetzaltenango, zona agrícola onde a batata, o milho e o feijão são as culturas mais importantes. Nesta área do centro norte de Guatemala se fala espanhol, porém também falam a língua indígena Maya Mam, o idioma materno de quase todos e também desta jovem.

As autoridades do consulado da Guatemala em Del Río viajaram para Laredo. Em um comunicado emitido por esta sede diplomática condenam a “violência e o excesso no uso da força da patrulha fronteiriça” e pedem que “sejam respeitados o tempo todo os direitos de nossos conterrâneos, qualquer que seja seu status imigratório”; e enfatizam o respeito “ao direito à vida”. Além disto, pediram uma investigação “exaustiva e imparcial” sobre o caso.

Três imigrantes foram detidos pelo mesmo caso – aqueles que fugiram do agente fronteiriço. Também são de origem guatemalteca: Eder Cabrera Sánchez, de 18 anos; Carlos Pérez Vicente, de 20; e Damián Pérez Peñalonso, de 18. Todos voltaram ao local com o FBI e os Texas Rangers para reconstruir os fatos.

Uma vizinha do setor, Martha Martínez, gravou com seu celular o que ocorreu logo depois da morte da jovem guatemalteca. Ela ouviu os disparos e saiu de sua casa para ver o que acontecia. Nunca imaginou o alcance que teria seu vídeo.

Enquanto seu celular registrava operação da Patrulha Fronteiriça encontrou uma pessoa morta: era Claudia Gómez. Ela lembra o rosto banhado de sangue da jovem. “Fui até a área onde ouvi o disparo, porque foi ao lado de minha janela, mas nunca pensei que haviam matado alguém. Ocorreu a poucos passos de minha janela, em um terreno baldio”.

Martha Martínez vive há mais de 20 anos nesta comunidade, onde a grande maioria dos habitantes são hispânicos e falam em espanhol. Sua casa fica a poucas quadras do rio Grande e frequentemente ela e sua família presenciam agentes da Patrulha Fronteiriça perseguir imigrantes que acabam de cruzar para o território americano.

Martínez conta que depois do incidente alguns agentes do FBI foram à sua casa e perguntaram se podiam ver suas gravações. “Respondi que os vídeos estavam no Facebook e eles viram”.

Até agora ninguém mais a contatou e sua única preocupação depois de ter gravado o vídeo foi uma mensagem enviada pelo aplicativo Messenger com alguém dizendo que “iria processá-la”.

Compartilhar Post:

Baixe nosso aplicativo