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Brasileiro é vítima de esquema que prometia green card em troca de $500 mil

O dinheiro seria destinado para uma variedade de projetos, incluindo uma estação de esqui, hotéis e uma empresa de pesquisa de biotecnologia em Newport; vítimas são de mais de 74 países

Visto EB-5

DA REDAÇÃO (com New York Times) – O sonho de viver nos Estados Unidos tem povoado a cabeça de um número cada vez maior de brasileiros. Crise econômica no Brasil, mais segurança para a família, entre outros fatores, fizeram com que esse número saltasse nos últimos anos. Porém, o sonho pode rapidamente se transformar em pesadelo, como no caso do empresário Felipe Accioly. Ele investiu $500 mil em um projeto “furado” e hoje vive o medo de perder o green card e ser deportado.

A história começou quando dois empresários, Ariel Quiros e William Stenger, ofereceram a oportunidade de investimento em um megaprojeto na  pequena cidade de Newport (Vermont), próximo à fronteira dos Estados Unidos com o Canadá. Em um local abandonado, seriam construídas lojas e apartamentos. Seria o “renascimento” econômico da região, mas o que se vê hoje é um buraco com alicerces de concreto e nada mais. “Chamamos isso Beirute, pois parece que o local foi bombardeado”, disse uma das vítimas dos dois. 

Eles prometeram injetar $850 milhões e geraria o maior desenvolvimento econômico na história de Vermont. O projeto era construir salas comerciais e apartamentos com a ajuda de um programa federal que permite aos cidadãos estrangeiros ricos investirem a quantia de $500 mil em projetos em áreas carentes em troca de green card, o famoso visto EB5.

Em vez disso, os dois são acusados de cometer a maior fraude na história de Vermont, bem como na história desse programa de visto. Quiros e Stenger levantaram $350 milhões por meio do programa, a partir de centenas de investidores estrangeiros de pelo menos 74 países. O dinheiro seria destinado para uma variedade de projetos, incluindo uma estação de esqui, hotéis e uma empresa de pesquisa de biotecnologia.

Mas não foi bem isso que aconteceu e, de acordo com 52 queixas civis apresentadas no mês passado pela Securities and Exchange Commission (SEC) e 15 queixas cível movida pelo estado de Vermont, eles desenvolveram um “enorme esquema fraudulento durante oito anos”, que “saqueou milhões de dólares de investidores estrangeiros”.

Segundo as queixas, os dois usaram um esquema “parecido com pirâmide financeira” para desviar $200 milhões que seriam destinados para projetos futuros. A quantia foi depositada em contas fraudulentas criadas para tentar manter os projetos anteriores à tona. Alguns foram concluídos, outros não. Além disso, Quiros foi acusado de desviar $50 milhões para seu uso pessoal, que incluía a compra de um condomínio de luxo no Trump Place New York.

A SEC disse que os dois deixaram um rastro de dívidas e as suas ações puseram em risco o status de imigração de seus investidores, que já estão nos Estados Unidos, e tem posto em dúvida o futuro do programa de vistos. Além disso, eles não cumpriram a promessa de revitalizar e promover o renascimento econômico da Main Street em Newport, a construção da empresa de biotecnologia, um hotel, marina e um centro de conferências.

Brasileiro entre as vítimas

Como foi citado acima, uma das vítimas é o brasileiro Felipe Accioly Vieira, 50, um analista de negócios que se mudou com sua família para Vermont em 2013. Ele investiu nas moradias oferecidas pela dupla de empresários em busca de obter o green card.

Assim como os demais investidores imigrantes, o brasileiro teme que seu green card esteja comprometido por este esquema. Ele se sente preso financeiramente e vive o medo de ser deportado. “Minha principal preocupação agora é permanecer nos EUA e se eu voltar ao Brasil, sentirei um enorme fracasso pessoal”, disse.

Em documentos judiciais, Quiros e Stenger  negaram as acusações. E em uma entrevista, Stenger defendeu o trabalho que, segundo ele, está em andamento, citando partes de uma estância de esqui, e expressou pesar sobre o que permanece inacabado. Um tribunal federal nomeou um receptor para tomar posse de todos os bens e ativos, que ele possa vender.

O nome mais citado é de Stenger, uma pessoa bastante conhecida na região e amigos de todos e por isso alguns o chama de traidor. Ele não foi acusado de desvio de dinheiro para seu uso pessoal, mas a SEC disse que “foi extremamente imprudente quando cedeu o controle dos fundos de investidores para Quiros” e “fez quase nada para gerir o dinheiro dos investidores, mesmo quando confrontados com alertas do uso indevido do dinheiro por parte do sócio”.

Stenger disse que chamá-lo de traidor é um termo forte e que compreendo a decepção de todos e está terrivelmente desapontado por não ser capaz de terminar um trabalho que começou. Ainda assim, ele disse que os projetos têm gerado 6.500 empregos diretos e indiretos dos 10.000 prometeu. Ele estima que 650 de cerca de 800 investidores já têm ou teriam seus Green Cards.

Mesmo enquanto contemplam perdas financeiras, alguns investidores disseram que poderia colocar mais dinheiro nos projetos inacabados; criar pelo menos 10 postos de trabalho é uma condição para a obtenção de um cartão verde.

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