Local

Conexão UF | Estresse acadêmico – Como lidar com a pressão escolar e as demandas de fim de semestre

Lorena Reis
Lorena Reis

Lorena Reis (refúgio na religião e dança)

Acho que todos podemos concordar que a vida não é um caminho fácil. Como seres humanos nesta sociedade, temos responsabilidades em vários aspectos das nossas vidas. Eu estou envolvida em várias atividades aqui em Gainesville, por causa dos meus interesses diversos e, também, em parte, da pressão que a nossa universidade (Universidade da Flórida – UF) impõe nos estudantes de serem “bem-sucedidos.” Por exemplo, eu amo dançar e faço parte de uma organização de dança na UF. Isso não é algo requerido para ser “bem-sucedido” no ramo profissional, mas sei que é bom para o meu bem-estar, tanto físico quanto mental. Também estou cursando Saúde Pública e quero fazer um mestrado na área. É importante que tenha algum tipo de experiência prática, como pesquisa, voluntariado ou uma posição de ensino na área para que possa dar continuidade aos meus estudos e para seja uma candidata qualificada. Junto aos meus interesses, quero manter uma vida social ativa. O problema é que se adicionarmos o tempo que leva manter uma vida social, estudar para tirar boas notas nas minhas aulas, desfrutar de atividades extracurriculares, e dormir pelo menos 7 horas cada noite, isto resulta em mais do que as 24 horas do dia. Quando chega a época de provas finais, sinto muita pressão para completar todas minhas responsabilidades da maneira mais perfeito possível. Durante os meus três anos de faculdade, eu aprendi muito sobre mim e descobri quais são os melhores mecanismos para me ajudar com o estresse de fim de período letivo.

Quando sinto que estou ficando desmotivada e perco de vista o propósito da minha vida universitária, eu caminho à minha igreja do outro lado da rua do campus. Eu gosto de ir quando não tem ninguém. Eu me sento no banco na igreja, sozinha, e começo a me desapegar de todas as expectativas que eu mesma me impus. Sou levada a rezar, e deixo meus encargos nas minhas orações a Deus. Cada vez que faço isto, volta a lembrar que o meu valor e a minha identidade não estão vinculados às minhas responsabilidades ou ao meu trabalho, e sim à identidade de Deus. Além das orações, é importante que converse com minhas amigas sobre o que estou sentindo, especialmente as que estão estudando na mesma universidade.  Esta solidariedade me faz lembrar que comunidade é uma benção, e saber que outras pessoas passam pelos mesmos desafios sempre me ajuda a entender que não estou sozinha. Podemos compartilhar conselhos e nos conectar ainda mais por estarmos passando pelo mesmo estágio de vida que nos desafia emocionalmente, mentalmente e fisicamente. Por fim, eu tenho o privilégio de poder buscar alívio para este estresse na dança. Normalmente quando estou preocupada e ansiosa, eu alugo uma sala de dança e começo a dançar a minha música favorita. Através da dança posso sentir e viver todas as minhas emoções de forma saudável. Posso me concentrar na execução, com cada movimento sinto cada o peso da responsabilidade deslizar do meu corpo, e vou ficando cada vez mais leve. Isto me faz lembrar o que realmente importa e que não devo tratar minhas preocupações como prioridade, e sim lidar com elas de forma produtiva.

John Hutton (táticas de gerenciamento emocional)

John Hutton
John Hutton

Todo mundo já sentiu aquela ansiedade antes de fazer uma prova difícil. Você já ficou muitas horas estudando, fez tudo que pôde para se preparar, mas agora o momento chegou e você ainda se sente despreparado. Será que você vai esquecer tudo? O que vai acontecer se você não passar a prova? Estas dúvidas vêm e desviam a atenção, piorando a situação. É sempre mais difícil fazer uma prova quando você está estressado, mas como se acalmar?

No final do semestre, muitos alunos sofrem assim. Eu sempre ouço estes pensamentos vocalizados ao meu redor antes das provas finais. Fica complicado distinguir entre o que seria o estresse normal que acompanha as responsabilidades de fim de semestre e o estresse que prejudica nossa saúde mental.

Descobri que o que me acalma nestes momentos é respirar fundo e confiar que eu vou lembrar das informações necessárias para ter um bom desempenho. Uma estratégia que eu aprendi recentemente, e acho muito útil, é identificar e nomear as emoções que eu sinto. Por exemplo, antes da prova eu dizia para mim mesmo, “eu me sinto ansioso” ou “tenho muitas dúvidas”. Só o fato de nomear a emoção já dá uma sensação de controle que, por vez, ajuda a trazer tranquilidade num momento tenso. Não devemos reprimir nossas emoções e sim tentar viver em equilíbrio com elas.

Há duas semanas, assisti a um documentário chamado Won’t you be my neighbor. O filme relata a vida de Fred Rogers, o apresentador famoso e amado de um programa infantil de TV aqui nos Estados Unidos. Neste programa de TV ele ensinava crianças a como lidar com suas emoções de uma maneira carinhosa e gentil. Na minha opinião, estas lições são tão relevantes para adultos quanto para crianças. Um momento especialmente impactante foi um dueto entre dois dos personagens recorrentes, um fantoche de um tigre tímido e uma senhora. O fantoche pergunta “eu sou um erro?” e canta sobre a ansiedade que tem, inquirindo por que ele é diferente dos outros tigres. A senhora responde no segundo verso que ele está bem como está, que ele é amado. Em vez do tigre responder que agora ele está se sentindo melhor, ele canta o primeiro verso sobre a sua ansiedade ao mesmo tempo que a senhora canta seus conselhos. É lindo como mostra a dificuldade de superar a tristeza e a insegurança, e que o processo de trabalhar sentimentos assim é longo. Estas emoções não são algo para conquistar, devemos aceitá-las e alimentar outras emoções como amor próprio e autoestima. Achei o dueto uma boa maneira de pensar sobre o estresse, a ansiedade e outras emoções que tendem a aparecer todo fim de semestre. Podemos ter mais de um sentimento simultaneamente, sem estarem em conflito e sim em harmonia. Isso serve também para a forma com que pensamos sobre as provas finais e a vida. Devemos então ver nossa ansiedade como algo natural e, também, acreditar em nós mesmos. 

Nicole Calderón (mudança de perspectiva para aliviar a pressão acadêmica)

Nicole Calderón
Nicole Calderón

O estresse pode vir em várias formas e por vários motivos. Muitos dos alunos na Universidade da Flórida ficam estressados durante a época de provas finais. Meus companheiros John Hutton e Lorena Reis deram dicas importantes para proteger a nossa saúde mental durante estes dias. Mas além do estresse causado pelas provas ou projetos, eu achei vital incluir o estresse que se manifesta em nossos corações por causa da incerteza sobre o futuro. 

Eu sou uma pessoa muito relaxada, raramente me estresso. Porém, assim que chego em casa, minha família sabe como me estressar com uma facilidade impressionante. Tendo em base algumas das experiências de meus companheiros, assim como as minhas, visitas a nossos pais durante os fins de semana ou durante as férias podem promover o mesmo nível de estresse que provas finais. Dentre as queixas mais comuns estão o medo de responder perguntas sobre o futuro: “Quando você vai se formar? O que vai fazer depois da formatura? Vai conseguir um emprego? Vai conseguir um mestrado? Com que dinheiro vai seguir estudando? Onde vai morar?” E a minha favorita, “Cadê seu namorado?”. Embora sejam perguntas que eu respondi milhares de vezes, todas são bem-intencionadas. Mas perguntas assim me fazem questionar meus próprios pensamentos e decisões, e como as minhas escolhas do presente afetarão o meu futuro. Para mim, e para vários de meus companheiros na UF, meu futuro é a questão mais estressante da minha vida, sobretudo porque sei que meu tempo para tomar decisões e me preparar para o mundo profissional está se acabando. E, o que me estressa ainda mais é que a minha resposta para muitas dessas perguntas feitas pelos meus pais é “Não sei”. 

Então, como lidar com o estresse causado pelas incertezas sobre o futuro? Em primeiro lugar, temos que mudar nossa mentalidade sobre a abordagem de cada incerteza. Cada um de nós tem algum tipo de sonho ou meta. Porém, em vez de observar nossas vidas como um caminho até uma meta final, é muito mais realístico e saudável criar planos em curto prazo. Cada meta final está composta por vários passos, e cada passo tem lições a ensinar. Visualizar o trabalho que requer cumprir uma meta final intimida bastante, e é justo aqui que nasce a maior parte do nosso estresse. Porém, se a gente se esforçar e visualizar um curto passo de cada vez, não é tão assustador. Se focarmos em cada passo, chegaremos mais perto de alcançar nossas metas e também aprenderemos com os erros cometidos sem carregar a culpa nas costas. Afinal de contas, erros são parte da vida. 

Penso que apreciar cada momento da vida é muito importante. Cada desafio ou fracasso tem muito para nós ensinar. Eu aprendi isso com o meu pai; ele passou por muitos desafios na sua vida. O mais interessante é que os grandes planos que ele traçou na juventude foram por água abaixo e, mesmo assim, hoje ele é o homem mais feliz que eu conheço. Por isso é que meu conselho é dar dois passos para trás e olhar cada momento com calma. Nossas notas na faculdade e nossos empregos não determinam nosso valor como pessoa. Você não perde seu valor por fracassar; pelo contrário, você ganha experiência e sabedoria. O mais importante é lembrar que sempre existe um próximo passo. A vida não vai acabar se você não conseguir aquele emprego que tanto queria ou se não entrar na faculdade dos seus sonhos. Sempre há um próximo passo que vai te levar para onde você quer chegar.  

[Veja artigo completo em acheiusa.com] Texto produzido por Lorena Reis, John Hutton e Nicole Calderón (University of Florida) –, com supervisão da Professora Andréa Ferreira e da redação.

Compartilhar Post:

Baixe nosso aplicativo