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Da cadeia ao green card

Perseguição por gangues no país natal garante asilo nos EUA a equatoriana

Família de Deisy com Kevin e Regiane
Família de Deisy com Kevin e Regiane

Após ficar seis meses presa na cadeia imigratória, Deysi Alexandra Guaman Acero ganhou a liberdade e seu pedido de asilo, graças à ajuda do advogado Kevin Glory.

Desde muito jovem, Deisy sofria de abusos em sua cidade natal de Canar, no Equador. Era perseguida por gangues e milícias. Numa das situações mais graves, Daisy foi amarrada e abusada por membros de uma gangue que matou enforcada a sua melhor amiga. Foi o bastante para ela decidir sair do país. Deysi era menor de idade na época.

“Comprei uma passagem para Nova York, em março de 2016”, conta Deysi. “Mas os agentes do aeroporto Kennedy me detiveram na chegada e fui levada para a custódia da imigração. Fiquei presa até o dia de 25 de agosto. Entrei em contato com a equipe da Total Help procurando ajuda”.

Com a vida em perigo na sua cidade natal, aterrorizada pela gangue, o retorno ao Equador significava morte certa para ela.

“Em 2009 eles assassinaram uma amiga minha e estupraram minha prima. Descobri que eu era o próximo alvo, porque eles desconfiaram que eu tinha passado informações para a polícia sobre o assassinato da minha amiga”, disse a equatoriana. Por ter origem indígena, a moça diz que sofria ainda mais perseguições.

O advogado Kevin Glory, que cuidou do caso, diz que casos assim são comuns, mas difíceis. “A maior dificuldade em processos deste tipo é provar que o indivíduo pertence a um grupo de risco que sofre com perseguições organizadas que não podem ser impedidas pela polícia local”, diz o advogado.

Glory diz que o caso da equatoriana foi mais complicado porque ela tentou entrar com um passaporte falso, e por isso foi presa no aeroporto. Ele diz que o pedido de asilo só pode ser requisitado antes do imigrante completar um ano em solo americano. Depois de concedido o asilo, começa um novo procedimento para a obtenção do green card. “O processo de asilo deve ser iniciado imediatamente após a chegada da pessoa no país. O indivíduo deve declarar que sofre com perseguições no seu país de origem e contratar o serviço de um advogado, que apresentará na corte as evidências do caso. O juiz decide com base nessas evidências se o imigrante poderá permanecer ou não no país”, explica Glory.

“É uma grande satisfação poder ajudar as pessoas. Ainda mais nessas circunstâncias, pois pessoas como Deisy sofreram muito, tanto física quanto emocionalmente. Fico feliz em trabalhar pela felicidade das pessoas.”

O advogado Kevin Glory faz parte da equipe da Total Help, empresa especializada no auxílio integral a imigrantes, atuando há 18 anos em vários estados americanos.

Grande maioria dos imigrantes presos não têm advogado, diz estudo

Um número pequeno de imigrantes que estão detidos em cadeias e prisões de todo país têm acesso a representação legal para ajudá-los nos processos. Apenas 14% dos detidos ameaçados de deportação, entre 2007 e 2012, tiveram advogados como auxílio, diz um relatório do American Immigration Council (AIC).

O processo de deportação é civil, e não criminal, e por isso o imigrantes ameaçados não possuem o direito garantido no Sexta Emenda da Constituição que garante a representação legal para casos criminais.

O advogado é fundamental para o imigrante detido. O processo é confuso e os imigrantes nem sempre são informados sobre seus direitos legais. O auxílio de um advogado dobra as chances de conseguir o asilo para quem o pede, por exemplo.

O relatório da AIC é primeiro estudo feito sobre a questão e as descobertas são alarmantes.

Nas cortes de imigração de Tucson (Arizona), por exemplo, nenhum imigrante teve assistência legal durante os processos, e um estudo da Arizona State University descobriu que os juízes do estado priorizam um “julgamento sumário”, realizado em apenas um dia. “Noventa e sete por cento dos casos julgados pelas cortes imigratórias do Arizona foram decididos em só um dia”, diz o relatório.

O relatório encontrou também enormes discrepâncias na representação para diferentes nacionalidades. Os mexicanos são os que mais conseguem advogados para defendê-los, enquanto os chineses quase não têm representação alguma.

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