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De joelhos, freira tenta impedir policiais de atirar em manifestantes em Myanmar

Mulheres assumem  protagonismo na resistência à volta dos militares ao poder no país asiático. Mais de 60 pessoas morreram em protestos desde fevereiro

Freira pede de joelhos para que a polícia parasse de atirar (Foto: Youtube)
Freira pede de joelhos para que a polícia parasse de atirar (Foto: Youtube)

Uma freira de joelhos diante de policiais implora pela vida de manifestantes que foram para as ruas de Myanmar protestar contra militares que tomaram o poder a força no país em fevereiro passado. A imagem capturada por um fotógrafo local nesta terça-feira (8), correu o mundo e também mostra dois policiais ajoelhados em aparente sinal de respeito às súplicas da mulher, enquanto outros dois estão indiferentes.

Poucos minutos após a cena ter sido registrada, três manifestantes foram baleados na cabeça, juntando-se aos mais de 60 mortos pela polícia desde 1º de fevereiro, quando estouraram as manifestações pelo país.

As Forças Armadas de Myanmar, antiga  Birmânia, justificaram o golpe argumentando que a Liga Nacional para a Democracia (NLD), partido que venceu as eleições legislativas em novembro de 2020, fraudou a contagem de votos para ganhar o pleito.

Aos jornalistas de Myitkyina, cidade que tem sido um dos principais palco de manifestações, a religiosa identificada como Ann Rose Nu Tawng, de 45 anos, falou que sua maior preocupação é com os mais jovens. “Eu supliquei que não atirassem […], que em vez disso me matassem. Levantei as mãos em sinal de perdão”, relatou.

Ela lembrou a jovem  Kyal Sin, de 19 anos, que  morreu após ser atingida com um tiro no peito enquanto participava de uma marcha pró-democracia em Mandalay, na semana passada.

No meio da multidão, Sin carregava uma bandeira com as cores do NLD e fazia a saudação de três dedos que virou símbolo da resistência pacífica. Pouco antes de morrer, ela foi filmada por um canal de televisão tentando se esquivar das bombas de gás lacrimogêneo atiradas pelos policiais. As imagens que viralizaram na internet mostram que ela usava uma camiseta com os dizeres “vai ficar tudo bem”.

A participação das mulheres e a brutalidade policial empregada contra elas, aliás, tem sido um caso à parte em Myanmar. Vale a pena destacar que a manifestação que vitimou três cidadãos neste 8 de março teve início justamente a partir de uma celebração do Dia Internacional da Mulher.

Determinadas a resistirem à volta do governo militar que representa o patriarcado e o retrocesso na luta pela igualdade de gênero, elas encontram estratégias criativas e desafiadoras para se inserirem na luta. 

Um varal com um tipo de saias conhecidas como sarongs foi usado como barreira para proteger uma zona feminina de protesto.  Por uma questão cultural, alguns homens relutam em passar por baixo dessas peças de roupas para atacá-las. Para completar, fotos do general Min Aung Hlaing, o chefe da junta militar que orquestrou o golpe foram penduradas no varal junto aos sarongs. 

Em entrevista ao jornal The New York Times, Ma Ei Thinzar, de 27 anos e ex-presa política que liderou o primeiro protesto em Yangon cinco dias após o golpe, disse que  as mulheres estão assumindo a causa porque são as que mais têm a perder com a retomada do poder  pelos generais.

“O Tatmadaw [como o poderio militar é conhecido] é profundamente conservador e se envolve em temas que incluem desde a vestimenta das mulheres a outros temas que sugerem repressão à classe feminina”, disse Thinzar ao NYT.

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