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Força-tarefa tenta reunir famílias separadas na fronteira

Relatório mostra que drama causado pela política de “tolerância zero” ainda não acabou e afetou inclusive crianças americanas

As manifestações contra a política de “tolerância zero” em comuns no governo Trump (Foto: Joe Mabel/Wikimedia Commons)
As manifestações contra a política de “tolerância zero” em comuns no governo Trump (Foto: Joe Mabel/Wikimedia Commons)

Um dos aspectos mais comoventes da crise imigratória norte-americana diz respeito às crianças separadas de suas famílias na fronteira. E um relatório publicado pelo jornal The New York Times deu contornos ainda mais dramáticos a esta situação: cerca de 1.000 destes menores nasceram nos Estados Unidos, de pais indocumentados, e muitos deles ainda estão em lares temporários ou adotivos. A atual administração tem tentado identificar os casos ainda pendentes, mas muitos registros não estão atualizados, o que dificulta a busca para reunir os familiares.

A política de imigração do governo Trump conhecida por “tolerância zero” e aplicada aos indocumentados na fronteira permitia que as autoridades tirassem seus filhos durante o processo criminal por entrada ilegal na América. Famílias foram deportadas para seus países de origem, sem as crianças – algumas delas ainda de colo. Estima-se que cerca de 5.500 crianças nascidas no exterior foram separadas dos pais entre 2017 e 2018, apesar de o então procurador-geral, Jeff Sessions, ter garantido que “apenas” 2.654 casos foram catalogados. Relatórios recentes do Inspetor Geral do Homeland Security (IG-DHS) mostram que o número total de separações provavelmente jamais será conhecido exatamente.

A matéria do NYT revelou a novidade da confirmação oficial de que crianças americanas também foram separadas à força de seus pais na fronteira com o México, no âmbito da política de “tolerância zero”. A base da informação é o trabalho de uma força-tarefa criada pela Casa Branca no início de 2021, cujo objetivo é reunir centenas de famílias ainda desagregadas. “Em muitos casos, menores nascidos nos EUA foram colocados em lares adotivos por longos períodos, e muitos ainda não foram devolvidos aos pais, já que as informações estão perdidas no sistema quase cinco anos após os acontecimentos”, explica o relatório, enfatizando que as separações poderiam durar dias, semanas e, até mesmo, anos.

Até agora, mais de 600 famílias foram reconectadas pela força-tarefa e outras 998 ainda estavam sendo localizadas. “Reconhecemos a dedicação daqueles que ajudaram a reunir essas famílias e reafirmamos nosso compromisso de trabalhar incansavelmente para juntar as outras famílias que sofreram por causa da política cruel e desumana do passado, uma política que não refletia os valores de nossos nação”, afirmou Alejandro Mayorkas, secretário do Homeland Security (DHS). Ele ressaltou que muitos dos envolvidos receberão cuidados de saúde comportamental “extremamente necessários para lidar com o trauma que vivenciaram”.

Especialistas na área jurídica afirmam que a situação das crianças americanas é ainda mais complicada: com o status de cidadania reconhecido, os menores foram colocados automaticamente sob a supervisão das autoridades estaduais de bem-estar e assistência social, complicando os esforços para rastreá-los e reunificá-los aos verdadeiros pais. Advogados lembraram que, em determinados casos, o tribunal poderia decidir que um lar adotivo seria o melhor caminho, levando em conta o interesse da criança. Em função disso, o trabalho da força-tarefa ainda pode demorar anos até ser concluído.

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