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Imigrantes apreensivos com próximo governo sobrecarregam advogados de imigração

Associação de advogados (AILA) registra aumento de 25% no número de consultas depois da eleição de Trump

Manifestantes contra as deportações (Foto: Daily Chalkupy/Flickr)
Manifestantes contra as deportações (Foto: Daily Chalkupy/Flickr)

DA REDAÇÃO, COM THE WASHINGTON POST – Graças às promessas do presidente eleito Donald Trump de endurecer as regras imigratórias durante seu governo, os escritórios dos advogados de imigração estão abarrotados de casos de imigrantes, legais e irregulares, buscando aconselhamento sobre o que lhes pode acontecer a partir de 20 de janeiro, quando Trump toma posse como presidente.

Uma reportagem do jornal The Washington Post listou alguns casos, como por o exemplo o de um africano naturalizado americano que está preocupado se a “triagem rigorosa” prometida por Trump prejudicará a entrada no país de sua esposa muçulmana. Em outro caso, um professor universitário portador de green card resolveu apressar seu requerimento à cidadania com medo que ela fique mais difícil no futuro – principalmente pelo fato de ele ser casado com outro homem.

Um casal morador de Washington está em dúvida se um dos cônjuges pede ou não um perdão provisional. Um dos cônjuges está irregularmente no país e teria que sair dos EUA para o procedimento e ser barrada na fronteira ao retornar caso o perdão seja negado.

“É arriscado”, diz o advogado do casal à reportagem do WP. “Mas não agir também não me parece uma boa opção.”

Os advogados de imigração em todo país têm registrado um aumento no número de consultas desde o dia da eleição, gerado pela retórica antiimigrante de Trump durante a campanha eleitoral e pelo crescimento da influência de Republicanos linha-dura no assunto.

A proposta de criar uma “força-tarefa para deportações” e adotar uma “triagem rigorosa” para imigrantes provenientes de países muçulmanos alarmou tanto imigrantes quanto advogados, que dizem não terem jamais visto tanto medo em pessoas nascidas na Europa, Ásia, África e América Latina, desde os meses que se seguiram aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

“As pessoas estão extremamente ansiosas”, diz uma advogada ao WP, com escritório em Baltimore. O trabalho simplesmente dobrou depois da eleição, com seis entrevistas de naturalização marcadas para um único dia na semana passada.

Joung E. Lee, diretor para a seção de Washington, D.C., da American Immigration Lawyers Association (AILA), disse que os associados do grupo viram um aumento entre 20 e 25% no número de consultas desde 8 de novembro.

Muitos clientes são pessoas que chegaram aos EUA ainda crianças e beneficiadas pelo programa de proteção contra a deportação DACA, assinado por Obama. A medida é uma ordem executiva que pode ser revogada com uma assinatura do novo presidente, deixando incerto o futuro desses indivíduos.

Pior que a anulação dessas ordens seria a adoção de uma lista com 79 medidas propostas do Center for Immigration Studies, um grupo conservador que visa limitar a imigração no país. As propostas da lista incluem testes obrigatórios de DNA para provar que o imigrante tem parentes sanguíneos nos Estados Unidos, redução no número de vistos temporários de trabalho e de au pair, e a proibição de soltura para menores capturados na travessia da fronteira para parentes que estejam irregulares no país.

Em uma nação com 14% da população composta de imigrantes, com cerca de 11 milhões deles irregulares no país, o impacto de tais medidas seria devastador.

O professor universitário, que não quis revelar o nome à reportagem do WP, disse que seus colegas estrangeiros têm debatido o assunto constantemente.”Há uma certa ansiedade no ar por causa dos comentários de Trump”, disse.

Até os portadores de H-1B, profissionais de alta especialização trazidos por empresas que não encontram cidadãos americanos com a mesma especialidade, sentem-se desconfortáveis. Algumas empresas estão preocupadas com a possibilidade desses vistos serem restringidos ou mesmo cancelados, baseado nas respostas dadas por Trump e seus aliados quanto à questão se os vistos tiram o emprego de americanos natos.

Enquanto os imigrantes esperam por uma definição na política imigratória do governo Trump, os advogados aconselham apressar o processo de naturalização e fazer planos para os filhos ou familiares em caso de prisão ou deportação, e sempre portar uma prova de residência, se tiverem.

Mesmo durante a campanha, marcada por uma agressiva retórica antiimigrante, o número de requerimentos para a cidadania ultrapassou as expectativas”, disse um porta-voz do USCIS, a agência de imigração americana, à reportagem do WP.

O Pew Research Center calculou em 26% o aumento no número de requerimentos nos primeiros nove meses (de outubro a junho) do ano fiscal de 2016, em comparado com o mesmo período do ano fiscal de 2015. Parte dessa procura foi por residentes legais em busca do direito de votar.

O medo da deportação não é novidade para os que entraram nos EUA sem a documentação necessária, ou que ficaram além do prazo estipulado pelos vistos. Nos últimos oito anos, 2,5 milhões de imigrantes foram deportados, de acordo com estatísticas federais.

Trump, que durante a campanha falou em deportações em massa para os imigrantes irregulares, disse em entrevista ao programa ’60 Minutes’ logo após a eleição que o foco seria nos envolvidos com atividades criminosas, entre “2 e 3 milhões” de indivíduos.

Qualquer ação no sentido de deportações em massa pode atrasar os casos de outras pessoas que aguardam decisões em diversas outras áreas do sistema imigratório, o que também é uma preocupação.

O grupo de apoio a imigrantes CASA, com sede em Maryland, disse ao WP que desde a eleição 1940 pessoas frequentaram o seminário “conheça os seus direitos”, de esclarecimento para questões imigratórias.

“A comunidade está desolada”, disse Fernanda Durand ao WP. “O povo está assustado e quer respostas.”

Nos seminários, advogados ligados ao grupo orientam os imigrantes sobre como lidar com abordagens da polícia ou agentes da imigração que eventualmente possam pará-los na rua ou baterem na porta de casa pedindo por provas de cidadania.

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