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Mãe e filho relatam momentos de terror ao tentarem atravessar a fronteira

Os dois passaram dias tentando chegar a San Diego, na Califórnia, mas foram pegos por agentes da patrulha de fronteira

Sueli e Wellington seguram documentos da deportação Foto Matheus Fazolin
Sueli e Wellington seguram documentos da deportação Foto Matheus Fazolin

DA REDAÇÃO, COM G1 – O perigoso e muitas vezes sem volta caminho pela fronteira dos EUA com o México tem se mostrado cada vez mais impossível de ser atravessado sob a administração Trump. Em menos de um mês, outro caso de brasileiros que se arrependeram de ter tentado a travessia é relatado pela imprensa.

Desta vez, mãe e filho de Sorocaba (SP) relataram ao G1 o pesadelo que foi tentar atravessar a fronteira em busca do sonho americano. No dia 17 de janeiro, o brasileiro Wellington Waldecy de Oliveira Aleixo, de 28 anos, revelou que sentiu na pele o drama de tentar desafiar a reforçada segurança da fronteira de Tijuana, no México, e foi capturado ao pular o muro. Ele ficou preso por três meses antes de ser deportado.

No caso dos sorocabanos, Sueli e Wellington foram flagrados por agentes quando tentavam entrar no estado da Califórnia, no ano passado. “Foi terrível. Quando a imigração nos pegou, me separaram da minha mãe. A partir daí, não a vi mais até chegar ao Brasil. Passei fome, sede e muito medo. Me davam cerca de 10 bolachas para passar o dia. Fiquei algemado nas mãos, cintura e pés”, lembra Wellington Oliveira, de 28 anos.

O rapaz foi transferido cinco dias depois. No estado do Arizona, o sorocabano ficou 22 dias preso com outros 100 imigrantes. “Para mudar de penitenciária, fiquei mais de 24 horas sem comer nem beber, algemado dentro de um ônibus que nos levava para a cidade de Laredo, no Texas”, conta.

Sueli passou por cerca de cinco penitenciárias dos Estados Unidos. “Foram tantos lugares que nem lembro o nome. Me garantiram que não ficaria longe do meu filho, mas fiquei. As celas eram superlotadas, horrível”, lamenta.

Os dois foram presos em 5 de outubro. A mãe ficou um mês presa até ser deportada. Já para o rapaz o retorno foi mais difícil: foram três meses passando de prisão em prisão até conseguir a deportação para o Brasil.

Segundo o Itamaraty, os dois estão entre os mais de 1,4 mil brasileiros que foram deportados dos EUA durante 2017.

Travessia

O voo que levou os sorocabanos à Tijuana, no México, cidade tradicionalmente escolhida por quem quer se arriscar a cruzar a fronteira, partiu do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, no dia 25 de setembro de 2017.

“Chegando lá, iríamos procurar ajuda em igrejas e hospitais até conseguirmos um emprego. Não tínhamos medo porque estes lugares têm um acordo de não denunciar imigrantes”, conta o rapaz.

Quando pousaram, Sueli e Wellington foram à praia de Tijuana. “Seguimos o muro que divide os dois países a pé. Ficamos dois dias andando e procurando um lugar para entrarmos no país. Durante o dia ficávamos todo o tempo escondidos. Só andávamos à noite, assim, a possibilidade de alguém nos ver era menor”, afirma Sueli.

“Não comíamos nem bebíamos nada. Para sobreviver, tivemos que beber nossa urina”, relata Wellington.

Eles contam que não conheciam o local nem o caminho exato. “Nós não participamos de nenhum grupo, fomos sozinhos. O nosso dia era subir e descer morro. Subir e descer montanhas intermináveis”, diz.

Cinco dias depois de sair do Brasil, os dois conseguiram entrar nos EUA. “Depois de passar pela fronteira, de madrugada, ficamos mais cinco dias andando rumo a San Diego, onde queríamos morar e trabalhar.” Mas a sensação de conquista durou pouco. “Depois de andarmos muito, até chegamos a ver a cidade de longe. Mas aí, de repente, fomos pegos pela imigração.”

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