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Nicarágua rompe relações diplomáticas com Vaticano após papa criticar ditador Daniel Ortega

O fechamento da embaixada do Vaticano em Manágua e da embaixada da Nicarágua no Vaticano, em Roma, ocorre após papa Francisco comparar o governo nicaraguense às piores ditaduras da história

Governo de Daniel Ortega é acusado de perseguição religiosa. Foto: Cesar Perez / Presidência da Nicarágua

O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, ordenou no domingo (12) o fechamento da embaixada do Vaticano em Manágua e da embaixada da Nicarágua no Vaticano, em Roma, cortando relações diplomáticas com a sede administrativa da Igreja Católica. A medida ocorreu alguns dias depois que o papa Francisco comparou o governo nicaraguense às piores ditaduras da história. “É como se estivesse trazendo de volta a ditadura comunista de 1917 ou a ditadura hitlerista de 1935 (…) É um tipo de ditadura grosseira”, comentou o papa referindo-se a prisão do bispo Rolando Álvarez, condenado a 26 anos de prisão após se recusar a deixar o país com 200 presos políticos enviados para os Estados Unidos. O ditador tem perseguido representantes católicos no país, fechando rádios e escolas, e expulsando padres, bispos e freiras do país.

A relação entre a Igreja Católica da Nicarágua e o governo está tensa desde 2018, quando o governo repreendeu protestos antigovernamentais. A Igreja, que a atuou como mediadora entre os dois lados, pediu justiça para as mais de 360 pessoas que morreram durante os conflitos. O bispo nicaraguense Silvio Baez, também crítico do governo, exilou-se em 2019. No ano passado, o Vaticano protestou junto à Nicarágua pela efetiva expulsão de seu embaixador, dizendo que a ação unilateral era injustificada e incompreensível. O arcebispo Waldemar Sommertag, que havia criticado o afastamento da Nicarágua da democracia, teve que deixar o país repentinamente depois que o governo retirou a aprovação do enviado religioso. Já o pastor protestante Wilber Alberto Pérez foi condenado a 12 anos de prisão, mantido em uma cela sem luz, acusado injustamente de vender drogas ilegais.

Brasil não assina carta contra Nicarágua

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se recusou a assinar uma declaração da ONU, feita por 55 países, denunciando os crimes cometidos pela ditadura de Daniel Ortega na Nicarágua. A recusa ocorreu na sexta-feira (3), durante reunião do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, na Suíça. Segundo o documento, o governo ditatorial de Ortega tem violado os direitos humanos e a liberdade religiosa, banindo inclusive mais de 2.600 ONGs, maioria de origem cristã e evangélica.

Diante das críticas, o governo brasileiro anunciou na terça-feira (7), que vai abrir as portas do país para cidadãos da Nicarágua que perderam sua nacionalidade após decisão de Ortega. “O governo brasileiro se coloca à disposição para receber as pessoas afetadas por essa decisão nos termos da Lei da Migração brasileira”, disse o embaixador do Brasil na ONU, em Genebra, na Suíça, Tovar da Silva Nunes.

Durante sua última campanha eleitoral, Lula minimizou a ditadura instaurada na Nicarágua por Ortega, que está em seu quinto mandato, e comparou a situação com a da primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, que completou 16 anos à frente do país europeu. “Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não? Qual é a lógica?”, questionou Lula em entrevista. 

Os presidentes Lula e Ortega são conhecidos de longa data. Durante os primeiros mandatos, o petista se encontrou diversas vezes com o nicaraguense para debater assuntos como integração regional. No poder desde 2007, o ditador mandou prender sete de seus opositores antes que a população fosse às urnas, em 2021, eliminando candidatos que pudessem ameaçar sua vitória. Na época, Lula aconselhou Ortega, a não “abrir mão da democracia”, em entrevista dada à uma rede mexicana de televisão. “Eu dizia Chavez, dizia ao Uribe: ‘toda vez que um governante começa a se achar insubstituível e imprescindível, está surgindo um pouco de ditadura naquele país”, comentou.

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