O presidente Donald Trump intensificou o cerco contra a Harvard ao exigir oficialmente que a instituição entregue documentos e registros disciplinares relacionados a estudantes estrangeiros supostamente envolvidos em manifestações pró-Palestina. O governo afirma que houve abuso de privilégios de visto e incitação ao extremismo. A universidade contesta a medida, alegando perseguição política e violação da autonomia universitária.
Na quarta-feira (9), o Departamento de Segurança Interna (DHS) solicitou documentos que envolvem dados pessoais, vídeos, áudios, comunicações internas e registros acadêmicos de estudantes internacionais que, segundo o governo, “participaram de ações antissemitas” no campus universitário, em Cambridge, Massachusetts. A medida gerou apreensão entre os mais de 6.800 estudantes estrangeiros atualmente matriculados em Harvard, incluindo brasileiros. Muitos temem a deportação, o cancelamento de visto ou represálias legais.
A instituição de ensino teve ainda seu certificado Student and Exchange Visitor Program (SEVP) revogado — impedindo, em teoria, que a universidade matricule novos estudantes estrangeiros. A decisão, no entanto, foi suspensa por uma liminar expedida pela juíza Allison Burroughs, que considerou que a medida causaria “danos irreparáveis” e “violaria garantias legais e constitucionais”.
Além da requisição de dados, o governo impôs sanções financeiras severas à universidade. Estão suspensos aproximadamente $ 3,9 bilhões em verbas federais, incluindo contratos de pesquisa, bolsas e subsídios. Harvard entrou com recursos judiciais em tribunais federais e deverá apresentar sua defesa formal à comissão de acreditação até o final do ano. Se perder o credenciamento, poderá ser impedida de acessar programas de financiamento federal e de receber alunos com auxílio estudantil do governo — pela primeira vez desde que foi fundada, em 1636.
O Departamento de Educação afirmou que a instituição tem sido “deliberadamente indiferente” ao assédio antissemita em seu campus. Para o governo, ela se tornou um símbolo do “progressismo excessivo” e da “tolerância com manifestações antissemitas e pró-terroristas” — acusações que a universidade nega veementemente.
Em nota oficial, a universidade informou estar cooperando com as autoridades “na medida em que a lei exige”, mas alertou que as exigências do governo são abusivas, inconstitucionais e motivadas por represália política. A reitoria nega qualquer omissão diante de manifestações antissemitas e sustenta que a liberdade acadêmica e de expressão está sendo ameaçada.
“Acreditamos que as ações tomadas pelo governo não apenas comprometem a autonomia institucional, mas também colocam em risco os direitos civis de nossos estudantes e a integridade do sistema educacional americano”, afirmou o presidente interino de Harvard, Alan Garber.