Pesquisadores da Universidade da Flórida desenvolveram uma vacina experimental baseada em RNA mensageiro (mRNA) — a mesma tecnologia usada nas vacinas contra a Covid-19 — que apresentou respostas imunológicas promissoras em pacientes com glioblastoma, um dos tumores mais letais. Nos primeiros testes, quatro pacientes tiveram reação imune significativa em apenas 48 horas, tornando tumores resistentes à ação do sistema imunológico mais suscetíveis ao ataque das células de defesa. O imunizante é personalizado e produzido a partir das células tumorais de cada paciente, programando o organismo para reconhecer e destruir o câncer.
Os estudos com base em mRNA já acontecem há mais de uma década. Mais de 120 ensaios clínicos investigam sua eficácia contra diferentes tipos de câncer, incluindo pâncreas, mama, pulmão, cólon, rim, linfomas e melanoma. Em um pequeno estudo com câncer de pâncreas, metade dos pacientes vacinados não apresentou recorrência da doença, mantendo resposta imunológica mesmo três anos após o tratamento.
Apesar dos avanços, nos últimos meses as autoridades federais e estaduais restringiram o uso das vacinas de mRNA contra a Covid-19, com reflexos na área oncológica. O governo de Donald Trump implementou cortes de mais de US$ 180 milhões em bolsas do Instituto Nacional do Câncer nos primeiros três meses de mandato, e a proposta é de redução de US$ 2,7 bilhões no próximo orçamento da instituição. Pelo menos 16 projetos de pesquisa envolvendo a palavra “mRNA” foram congelados.
O diretor do Centro de Avaliação Biológica da FDA, Vinay Prasad, limitou a aplicação das vacinas da Moderna a crianças acima de 12 anos e restringiu seu uso em menores com condições pré-existentes. O argumento é de que os riscos da Covid diminuíram, enquanto possíveis efeitos colaterais “conhecidos e desconhecidos” poderiam superar os benefícios. Já o atual secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., tem criticado abertamente a tecnologia. Em ao menos sete estados americanos, projetos de lei tentam proibir ou restringir imunizantes de mRNA, classificando-os incorretamente como “terapia gênica”.
Apesar da resistência política, projetos privados tentam manter o ritmo das descobertas. Em janeiro, o bilionário Larry Ellison, da Oracle, anunciou na Casa Branca o projeto Stargate AI, capaz de identificar cânceres e desenvolver vacinas de mRNA em poucos dias, utilizando financiamento privado.
Com informações do The Guardian.