Marcus Coltro

Adaptação em outro país

Adaptação
Adaptação

Estou montando uma filial do escritório no norte da Itália, fazendo ponte aérea entre São Paulo e Milão. A adaptação não só se resume ao idioma – aprender um novo depois dos cinquenta anos não é a coisa mais fácil do mundo, já não tenho tantos bytes de memória sobrando. Preciso liberar algum espaço no cérebro, talvez jogar fora alguma pornogr… digo, memórias inúteis.  E por experiência própria não adianta falar em português e agitar muito as mãos de forma a se fazer entender.

A desgraça de falar italiano (que arranho) é a similaridade com o espanhol (que já falo) – volta e meia estou “hablando” com os funcionários italianos que me olham com cara de ponto de interrogação. Aí de vez em quando tenho que ligar para clientes espanhóis e acabo “parlando” com eles! Cuernos, Porca miséria!

Estou morando em uma cidade minúscula, com menos habitantes que meu bairro em São Paulo. Tenho muito a se adaptar, e sinto falta de coisas que eu tinha em São Paulo que nem me tocava que eram regalias de megalópole… ah, que saudades da minha feira! Frutas do mundo todo, frescas e a um preço acessível. Aqui eu acho no supermercado maçã, pera, banana (e não é a preço de banana), laranja, mexerica, abacaxi e uma ou outra fruta da estação – na feira lá perto de casa eu encontrava frutas do outro lado do planeta que haviam sido colhidas uns dias antes. Em compensação aqui tem vinhos excelentes custando menos de 10 Euros!

A Europa evoluiu bastante no quesito facilidade de compras. Antigamente era difícil encontrar qualquer comércio aberto após seis da tarde ou aos fins de semana. Mas… em cidade pequena a coisa ainda é complicada. Dá para acreditar que no bairro onde tenho escritório até a padaria fecha para o almoço e só abre às três da tarde? Mesmo um Mini-Carrefour fecha para o almoço! O “shopping” perto de casa encerra as atividades (e morre totalmente) às oito da noite. Aí só indo para o centro de cidades maiores.

Estou na Ligúria–dizem que o lígure é o que tem mais cara fechada em toda Itália, sorriem como o Clint Eastwood nos antigos filmes de western. Aliás, as más línguas dizem que eu me mesclo bem, já que ando com cara meio amarrada o tempo todo…a bem da verdade, depois que você quebra o gelo eles se tornam muito amigáveis e simpáticos (mas em alguns casos o gelo é do tamanho daquele que afundou o Titanic).

Como disse, a cidade onde estou é muito pequena e não tem muita variedade de restaurantes, depois de umas semanas começa a enjoar um pouco – claro que comparar com São Paulo seria difícil na maior parte do mundo. Em compensação, tem um monte de cidades interessantes a poucos quilômetros de distância, cada uma com sua culinária, tipos de queijos e frios diferentes umas das outras – e a França fica a uma hora e pouco de carro daqui. Ah, e tem os vinhos, claro! A primeira vez que vi uma garrafa sendo vendida a três euros achei que era algum vinho vagaba para fazer sagú – mas até o aplicativo Vivino dava nota alta e acabei comprando, bem razoável mesmo!

Nem preciso enumerar as vantagens de estar aqui, o tipo de mentalidade civilizada se vê nas atitudes do dia a dia. Tem idiotas, claro – isso não é exclusividade do Terceiro Mundo. Muitos estrangeiros estão fazendo o caminho de volta das imigrações dos séculos passados. E os eles estão dando preferência para quem tem ascendência italiana!

Uma diferença gritante entre São Paulo e aqui é que eles têm estações do ano bem diferentes, verão, outono, inverno e polaramine (antialérgico): a quantidade de pólen no ar na primavera é impressionante, dá para ver uma camada amarela sobre os carros estacionados na rua! Atchim!

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