Marcus Coltro

Barbearia

Barbearia
Barbearia

Até os oito ou nove anos de idade, meu pai me levava para cortar os cabelos em uma barbearia perto da casa de meus avós, uma pequena garagem onde um velhinho atendia de avental branco. Nunca tinha nenhum cliente esperando, então era eu chegar e cortar os cabelos. Ele colocava um pedaço de madeira na cadeira para que eu ficasse mais alto (eu era minúsculo, tipo um girino albino), e em poucos minutos terminava o serviço. No fim do corte, ele afiava a navalha na tira de couro que ficava presa ao lado do assento e fingia que fazia minha “barba”. Aí passava Aqua Velva (googla aí se não souber o que é).

Quando mudamos de casa, ao lado tinha uma barbearia do mesmo estilo onde comecei a ir sozinho. E desde então, não lembro de ouvir o barbeiro perguntar como eu queria o corte, só sentava e ele cortava. Quando fiz dezesseis anos ele fechou – acho que deve ter sido pelo fato de ele ter morrido, sei lá. Por sorte (não ele ter morrido), eu havia comprado um carro em sociedade com meu irmão e podia rodar pelo bairro para procurar por outro lugar. Um dia vi um que parecia ser uma barbearia – mas estava escrito “salão”. Como já havia passado a hora de cortar os cabelos, entrei. Estranhei um pouco o lugar, tinha mulher junto! Barulho de secador de cabelos, cheiro de coisa química, urgh.

Outra coisa que me espantou foi ter que esperar minha vez, tinha fila de gente na frente. Como assim, esperar?? Depois de uma eternidade me chamaram (deve ter demorado um absurdo de uns 15 minutos, onde já se viu?) e um dos “barbeiros” perguntou se eu queria lavar os cabelos – olhei com cara de “está me estranhando???”, respondi que já havia lavado de manhã e thanks but no thanks. Aí ele veio com a frase “como quer o corte?” e eu “sei lá, corta aí”. 

Bom, sou caretão e tenho preguiça de ficar mudando o tempo todo, então cortei os cabelos lá por 36 anos. E eles todas as vezes perguntavam como eu queria o corte de cabelo… e minha resposta era “como o de sempre”. O “de sempre” é corte curto, para que eu não tenha que pentear de manhã.

Mencionei estes dias para uma funcionária que eu precisava novamente cortar os cabelos (que saco, todo mês…), e ela me disse que havia um barbeiro novo perto de minha casa – até aí não vi nenhuma novidade, na Aclimação onde moro tem um salão em cada esquina. Mas ela frisou que esse era um BARBEIRO de estilo antigo, com uma mesa de sinuca além de servirem cerveja!

Na hora do almoço fui lá: Meu! Eles NÃO lavam e NÃO pintam os cabelos, não têm manicure, só cortam cabelos de homens e fazem a barba!

E não querem que chamem o lugar de “salão”, é B-A-R-B-E-A-R-I-A! Não chegou ao ponto de ter um velhinho atendendo de avental branco, no lugar quem me atendeu foi um cara “moderninho” com barba de terrorista da Al Qaeda – mas muito mais meu estilo do que o que o salão que eu frequentava (ôrra, essa frase até soa bichola agora…). Só faltou o cheiro da Aqua Velva!

Aliás, o dude que cortou meu cabelo, disse que após fazer a barba, os barbeiros antigos perguntavam se o cliente preferia árco, tárco ou vérva!

PS. Quem morar aqui perto e quiser ir, o local se chama Hangar Barber Shop, na Avenida Lacerda Franco, 1465. (ôpa, vou pedir desconto na próxima vez!)

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