O jornal The New York Times destacou a mudança na postura do presidente Donald Trump em relação à prisão de Jair Bolsonaro e retomou o debate sobre a influência dos Estados Unidos na política brasileira, bem como seus limites no cenário internacional.
Em artigo publicado na segunda-feira (24), o jornalista Jack Nicas afirma que “o Brasil desafiou Trump — e venceu”, ao examinar episódios em que o governo brasileiro manteve posições próprias e conquistou avanços diplomáticos mesmo diante de tentativas explícitas de pressão por parte da Casa Branca. Nicas foi correspondente-chefe do jornal americano no Brasil por cerca de três anos.
A reportagem argumenta que o governo americano utilizou diversos recursos — de ameaças tarifárias a cartas diretas — com o objetivo de interferir em decisões estratégicas do Brasil em áreas como comércio exterior, agronegócio e relações multilaterais. Segundo o jornal, esses esforços não produziram os resultados desejados, e cita como exemplo a ameaça de retomada das tarifas sobre o aço e o alumínio brasileiros, que foi revertida após negociações com o presidente Lula.
O texto também cita que, enquanto o ex-presidente Bolsonaro cumpre prisão preventiva, Trump segue como figura central na política americana, apesar de enfrentar diversos processos. Segundo o New York Times, esse contraste evidencia que o Brasil reagiu com mais rapidez e eficácia na responsabilização de líderes ligados aos ataques à ordem democrática do que os Estados Unidos após os eventos de 6 de janeiro de 2021.
Essa análise é reforçada por outro artigo do próprio jornal, assinado pelos cientistas políticos Steven Levitsky e Filipe Campante, que afirmam que “o Brasil teve sucesso onde os Estados Unidos fracassaram”. Para eles, as instituições brasileiras aplicaram mecanismos de freios e contrapesos de maneira mais assertiva ao lidar com abusos de poder e tentativas de ruptura democrática.
