Histórico

ELEIÇÕES 2008: Pelas pesquisas, Obama está quatro pontos à frente de McCain

A poucos dias da eleição, vantagem é difícil de ser revertida, dizem especialistas

O candidato democrata à presidência dos EUA, Barack Obama, tem uma vantagem de 4 pontos sobre seu rival republicano, John McCain, na disputa pela presidência dos Estados Unidos, segundo um pesquisa da Reuters/C-SPAN/Zogby divulgada a poucos dias da eleição presidencial.

Obama tem 49% da preferência do eleitorado, contra 45% de McCain. O resultado representa uma pequena queda na vantagem de Obama, que na segunda-feira era de 5 pontos. A margem de erro da pesquisa, que ouviu 1.202 pessoas por telefone, tem margem de erro de 2,9 pontos.

McCain consolidou sua vantagem entre os eleitores homens e brancos, mas Obama manteve vantagem de dois dígitos entre as mulheres e os independentes, dois grupos-chave na eleição de 4 de novembro. “Faltando poucos dias para a eleição, McCain ainda não está onde deveria estar com alguns grupos importantes de eleitores. E ele está ficando sem tempo”, disse o especialista em pesquisas John Zogby. O independente Ralph Nader e o libertário Bob Barr receberam apoio de 1 por cento dos eleitores cada. Três por cento declararam-se indecisos.

Atrás nas pesquisas, McCain compareceu a um hotel de Cleveland ao lado de uma equipe de assessores em economia e prometeu adotar medidas imediatas para restabelecer a confiança no mercado de ações dos EUA, para impedir que norte-americanos percam suas casas e para criar empregos. Obama, que aparece à frente nas pesquisas de intenção de voto nacionais e de vários Estados decisivos, disse em um discurso a ser proferido em Canton (Ohio) ter chegado a hora de “virar a página” em relação às políticas adotadas pelo atual governo do país, liderado pelo presidente George W. Bush.

O voto dos brasileiros

Francisco Silva
“Não quero uma continuação do governo Bush. O meu primeiro voto na América será para o Obama, pois o considero um jovem inteligente e que tem carisma. Tenho esperança que o país vai melhorar com ele”

Jimmy Albuquerque
“Quem for eleito certamente terá que promover muitas mudanças, pois o país não pode continuar como está. Ainda não decidi em quem votar, mas tenho até o dia 4 para isso”.


O Direito de Opinar

É prática comum no jornalismo americano jornais e revistas endossarem a candidatura de determinados candidatos a cargos públicos. Isto vale desde o sheriff local até o presidente da República. Ou seja, o veículo de comunicação coloca sua credibilidade em jogo ao apoiar determinado candidato em detrimento de outro, o que se torna ainda mais evidente no sistema político bipartidário vigente nos Estados Unidos, no qual democratas e republicanos se revezam no poder e quase não abrem brechas para o surgimento de outros partidos. Quando muito, alguns candidatos independentes conseguem se eleger para algum cargo público, mas acabam sendo arrastados para um dos dois partidos gigantes por absoluta falta de opção.

No Brasil, também os veículos de comunicação têm suas preferências eleitorais, embora finjam ser imparciais. Não são. Ficam apoiando os candidatos com quem mais se identificam de uma maneira subreptícia, enfatizando suas qualidades e realçando os defeitos dos oponentes. Algo como ocorre com as redes de TV americanas que alegam ser independentes, mas, na verdade, estão ainda mais comprometidas com as candidaturas do que os próprios veículos impressos, uma vez que são mais assistidas e os telespectadores geralmente são mais manipuláveis dos que os leitores.

Vivendo no país constatamos ser a prática de se declarar a favor de um determinado candidato uma prática saudável. Afinal, ninguém pode acusar o jornal x, y ou z de bias, um termo em inglês que denota uma clara preferência por alguém ou por uma situação específica.
Entretanto, apesar da declaração ostensiva de apoio, as equipes de reportagem dos jornais e revistas continuam empenhadas na cobertura da campanha eleitoral sem oferecer matérias “editorializadas”, isto é, com viés favorável ao candidato encampado pelos conselhos editoriais.

Por estar sediado na Flórida – e integrando, portanto, o grupo de jornais americanos (embora editado em língua portuguesa)-, o AcheiUSA decidiu também assumir sua posição nesta eleição já considerada como histórica para os Estados Unidos e para o mundo.
Nossa escolha recaiu sobre Barack Obama. Muito se poderia falar sobre as razões desta opção. Mas, em nossa opinião, o editorial do respeitável “The New York Times” resume com propriedade os motivos pelos quais o senador democrata deve ser o novo presidente americano.

O editorial do NY Times foi distribuído para várias pessoas e entupiu e-mails entre aqueles que concordam com a análise. Por isto, tomamos a licença de traduzi-lo para o português e publicá-lo para que todos os leitores tomem conhecimento da seriedade na tomada de posição do conselho editorial de um dos maiores jornais do mundo.

A exemplo do NY Times, outros jornais de porte também estão endossando a chapa Barack Obama/Joe Biden: Los Angeles Times, Washington Post, Sun Sentinel, Miami Herald, Palm Beach Post e até mesmo o Chicago Tribune, que está apoiando um candidato democrata pela primeira vez em seus 161 anos de história.

Leia a seguir o editorial do NY Times. Se você tem direito a votar e ainda não decidiu pode ser útil. Mas, mesmo se você gosta de acompanhar a política americana, vale a pena entender o processo eleitoral (e político) que pode mudar a história dos Estados Unidos – e do mundo!

EDITORIAL DO THE NEW YORK TIMES

Barack Obama Para Presidente

Publicado originalmente no jornal The New York Times

Os Estados Unidos encontram-se combalidos e à deriva, depois de oito anos sob a liderança fracassada do presidente Bush. Ele deixa, como herança para o seu sucessor, duas guerras, a imagem global do país danificada e um governo sistematicamente desprovido de meios para proteger e atender a seus cidadãos – seja quando estes precisam de ajuda para superar inundações causadas por um furacão, ou quando buscam por assistência médica mais acessível, passando pelo esforço dos americanos para manter seus lares, empregos, economias e aposentadorias em meio a uma crise financeira que era previsível, e que poderia ter sido evitada.

Embora os tempos sejam difíceis, a escolha do novo presidente é fácil. Depois de quase dois anos de uma dura e desagradável campanha, o Senador Barack Obama, do Illinois, provou ser a escolha certa para tornar-se o 44º presidente dos Estados Unidos.

Mr. Obama superou desafio após desafio, cresceu como líder e trouxe vida para suas promessas iniciais de esperança e mudança. Ele mostrou discernimento e coerência em seus julgamentos. Acreditamos que ele possua força de vontade e capacidade para liderar o amplo consenso político que será essencial na busca de soluções para os problemas desta nação.

Ao mesmo tempo, o Senador John McCain, do Arizona, afastou-se progressivamente em direção aos extremos da política americana, regendo uma campanha calcada no conflito partidário, na luta de classes, com até mesmo alguns toques de racismo. Sua visão política e do mundo é focada no passado. A escolha de uma companheira de chapa tão evidentemente despreparada para o cargo foi um ato final de oportunismo, e um erro de avaliação que obscurece tudo que foi realizado por ele em 26 anos no Congresso.

Dada a natureza particularmente desagradável da campanha de Mr. McCain, é forte a tentação de basear nossa escolha na emoção. Mas vale mais a pena olhar atentamente para os fatos da vida na América de hoje, e para as receitas de cura que os candidatos nos apresentam. As diferenças são profundas.

Mr. McCain continua a nos oferecer a a ideologia republicana do “cada um por si”, hoje despedaçada nas calçadas de Wall Street e nas contas bancárias americanas. Já Mr. Obama faz outra idéia do papel do governo e de suas responsabilidades.

Em seu discurso na convenção de Denver, Mr. Obama disse: “O governo não pode resolver todos nossos problemas. O que ele deve fazer é aquilo que não podemos fazer por nós mesmos: proteger-nos de qualquer ameaça e prover toda criança de educação decente; manter nossa água limpa e nossos brinquedos seguros; investir em mais escolas, mais estradas, mais ciência e tecnologia.”

Desde o começo da crise, ele corretamente identificou a vergonhosa falta de regulamentação governamental como a origem dos acontecimentos que levaram os mercados à beira do colapso.

A Economia

O sistema financeiro americano foi vítima, durante décadas, das políticas republicanas desregulatórias e anti-tributárias. Essas idéias provaram-se erradas a um alto preço, mas Mr. McCain – um auto-proclamado “soldado da revolução Reaganiana”- ainda acredita nelas.
Mr. Obama sabe que reformas de longo prazo serão necessárias para proteger o povo americano e os negócios americanos dos problemas que vêm pela frente.

Mr. McCain fala bastante em reformas, mas sua visão é limitada. Sua solução para todas as questões econômicas se resume em eliminar alguns gastos do governo – algo como $18 bilhões em um orçamento de $3 trilhões –, reduzir impostos e esperar até que o mercado resolva o problema sozinho.

Mr. Obama está certo quando diz que a estrutura tributária da nação precisa mudar para tornar-se mais justa. Isto significa que os americanos privilegiados, que se beneficiaram desproporcionalmente com os cortes oferecidos por Mr. Bush, terão de pagar um pouco mais. Os trabalhadores americanos, que viram cair seu padrão de vida e diminuírem as opções para seus filhos, então serão beneficiados. Mr. Obama quer aumentar o salário mínimo e indexá-lo à inflação; deseja restaurar um cenário onde os trabalhadores poderão se organizar em sindicatos, se assim desejarem, e ainda quer expandir as oportunidades educacionais para todos.

Mr. McCain, que antes se opôs ao plano de corte de impostos para os mais ricos do presidente Bush, declarando-o tributariamente irresponsável, agora quer torná-lo permanente. E embora ele fale sobre manter baixos todos os impostos, seus cortes propostos beneficiarão somente a camada dos 1% mais ricos dos americanos, enterrando ainda mais o país na profunda vala fiscal em que se encontra.

A força militar americana – pessoal e equipamentos – está perigosamente sobrecarregada. Mr. Bush resolveu deixar em segundo plano uma guerra necessária no Afeganistão, que agora ameça espiralar em derrota. A guerra no Iraque, desnecessária e absurdamente custosa, tem que terminar o mais rápida e responsavelmente possíveis.

Enquanto os líderes iraquianos insistem numa progressiva retirada das tropas americanas e no estabelecimento de um prazo para o fim da ocupação, Mr. McCain continua falando em uma vagamente definida “vitória”. Por conseguinte, ele não tem apresentado nenhum plano para a retirada das tropas americanas, medida necessária para evitar um estrago maior ao Iraque e às nações vizinhas.

Mr. Obama foi um sensato opositor à guerra do Iraque desde o seu começo, e já apresentou um plano, tanto militar quanto diplomático, para a retirada das forças americanas. Mr. Obama também acertadamente alertou que enquanto o Pentágono não começar a retirar tropas do Iraque não haverá forças suficientes para derrotar o Al Qaeda e o Taliban no Afeganistão.

Mr. McCain, assim como Mr. Bush, só muito tarde percebeu o perigo crescente no Afeganistão e a ameaça de que o vizinho Paquistão possa seguir por esse caminho.

Mr. Obama terá de traçar uma curva de aprendizado em política externa, mas já mostrou mais sensatez em seus julgamentos que o seu adversário nesse assunto tão importante. A escolha do Senador Joseph Biden – que possui profundo conhecimento de política externa – como companheiro de chapa foi mais uma prova dessa sensata avaliação. O interesse de longa data que Mr. McCain tem pela política externa e os muitos perigos que ameçam hoje este país tornam a escolha da governadora do Alasca, Sarah Palin, ainda mais irresponsável.
Ambos candidatos falam sobre estreitar as alianças com a Europa e a Ásia, incluindo-se aí a OTAN, e em apoiar fortemente Israel. Ambos falam sobre a necessidade de restaurar a imagem da América diante do mundo. Mas parece claro para nós que Mr. Obama está muito mais próximo de cumprir essa tarefa – e não apenas pelo que representaria um presidente negro como uma nova face da América para o mundo.
Mr. Obama quer reformar as Nações Unidas, enquanto Mr. McCain deseja criar uma nova entidade, a Liga das Democracias – uma atitude que fomentaria ainda mais a fúria anti-americana pelo mundo.

Infelizmente, Mr. McCain vê o mundo dividido entre amigos (como a Geórgia) e adversários (como a Rússia). Ele propôs que se expulsasse a Rússia do G-8 (Grupo das oito nações mais industrializadas do planeta) mesmo antes da invasão da Geórgia. Não temos a menor simpatia pela belicosidade de Moscou, mas tampouco desejamos ressuscitar a guerra fria. Os Estados Unidos precisam encontrar um meio de conter os impulsos nocivos dos russos, mas ao mesmo tempo devem preservar as condições de negociação para o controle de armas e outras iniciativas vitais.

Ambos os candidatos falam grosso com relação ao terrorismo, e nenhum deles descartou o uso da força militar para por fim ao programa de armas nucleares iraniano. Mas Mr. Obama clama por um esforço sério de demover Teerã de suas ambições nucleares através de iniciativas diplomáticas mais eficazes e sanções progressivamente mais rigorosas. Por outro lado, a disposição de Mr. McCain de fazer piadas sobre bombardear o Irã é simplesmente assustadora.

A Constituição e a Soberania da Lei

Com Mr. Bush e o Vice Presidente Dick Cheney, a Constituição, o Bill of Rights, o sistema judiciário e a separação dos Poderes estiveram sob ataque incessante. Mr. Bush escolheu explorar a tragédia de 11 de Setembro de 2001, um momento em que ele parecia ser o presidente de uma nação unificada, para tentar colocar-se acima da lei.

Mr. Bush arrogou-se do direito de prender pessoas sem acusação e subjugou o Congresso para permitir-lhe garantias de autoridade para espionar os americanos. Criou um sem-número de programas obscuros, incluindo-se prisões secretas e torturas autorizadas. O presidente emitiu centenas, senão milhares, de ordens secretas durante seu governo. Talvez sejam necessários anos de pesquisa para se descobrir quantos direitos básicos foram violados nesse período.

Ambos os candidatos condenaram a tortura e se comprometeram a acabar com o campo de prisioneiros na Baía de Guantánamo, em Cuba.
Mas Mr. Obama foi além, prometendo identificar e corrigir os ataques de Mr. Bush ao sistema democrático. Mr. McCain permaneceu calado quanto ao assunto.

Mr. McCain melhorou a condição dos detentos. Mas em seguida ajudou a Casa Branca a empurrar o acintoso Ato de Comissões Militares de 2006, que nega aos detentos o direito de um julgamento, e colocou Washington em rota de colisão com a Convenção de Genebra, aumentando sobremaneira o risco para as tropas americanas.

O próximo presidente terá a oportunidade de indicar um ou mais juízes para a Suprema Corte, tribunal que está perto de ficar à mercê da direita radical. Mr. Obama poderá indicar juízes menos liberais do que alguns de seus seguidores poderiam desejar, mas Mr. McCain certamente escolherá os ideólogos mais rígidos. Ele já disse que jamais indicaria um juiz que acreditasse nos direitos reprodutivos da mulher.

Os Candidatos

Será um enorme desafio reconduzir a nação para onde ela estava antes de Mr. Bush, sem falar na necessidade de resgatar a imagem do país no mundo e restaurar a auto-estima e auto-confiança do povo americano. Para realizar tudo isso e liderar a América para a frente, serão necessários força de vontade, caráter e intelecto, julgamentos sensatos e uma cabeça fria, centrada.

Mr. Obama possui essas qualidades em abundância. Observá-lo sendo testado durante a campanha apagou há bastante tempo de nós as reservas que tínhamos anteriormente, quando apoiamos a Senadora Hillary Rodham Clinton nas primárias democratas. Ele aglutinou uma legião de novos eleitores, com mensagens poderosas de esperança, possibilidades, apelos para sacrifícios e responsabilidade social.
Mr. McCain, que escolhemos como a melhor possibilidade republicana nas primárias, gastou os últimos centavos da sua reputação de homem sensato e de princípios para aplacar as exigências infinitas e a visão estreita da extrema direita. Sua justificável fúria por ter sido posto fora de combate, nas primárias de 2000, por causa de um ataque racista dirigido à sua filha adotiva, foi substituída por uma comportada aceitação da mesma tática do ganhar-a-todo-custo.

Mr. McCain deixou sua postura de pensador independente para abraçar as politicas fiscais erradas de Mr. Bush, e abandonou a posição de liderança que mantinha em questões como imigração e mudança climática.

Mr. McCain poderia ter alcançado os mais altos patamares nas questões energética e ambiental. No começo da sua carreira, ele apresentou o primeiro projeto plusível para controlar a emissão de gases na atmosfera. Agora, suas posições são caricaturas daquelas antigas: basta imaginar Ms. Palin comandando o refrão “drill, baby, drill” `perfura, baby, perfura`.

Mr. Obama apóia algumas prospecções na plataforma submarina, mas apenas como parte de uma estratégia energética mais abrangente, que inclui expressivos investimentos em novas e mais limpas tecnologias.

Mr. Obama suportou alguns dos mais duros ataques em campanha já dirigidos a um candidato. Já foi chamado de anti-americano e acusado de professar secretamente a fé islâmica. Os republicanos tentaram associá-lo a terroristas domésticos, e questionaram sua mulher a respeito do amor que ela teria pelo país. Ms. Palin chegou mesmo a questionar o patriotismo de milhões de americanos, quando chamou os estados pró-republicanos de “pró-América”.

Essa política do medo, da cizânia e de atentados ao caráter serviu para Mr. Bush alijar Mr. McCain das primárias de 2000, e também para derrotar o Senador John Kerry em 2004. Ela foi a tônica da presidência fracassada de Mr. Bush.

Os problemas da nação são simplesmente muito graves para serem reduzidos a meros “torpedos eletrônicos” e publicidade negativa. Este país precisa de liderança perceptiva, liderança participativa, liderança honesta e liderança forte.
Barack Obama já mostrou que possui todas essas qualidades.

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