Histórico

Harvard pode ter primeira mulher na Presidência

A Universidade Harvard parece preparada para indicar uma mulher para o posto de presidente pela primeira vez nos 371 anos de história da instituição. Trata-se de Gilpin Faust, historiadora que dirige um dos institutos de pesquisa da universidade.
O Conselho de Supervisão de Harvard vai se reunir no domingo e deve ratificar a escolha, de acordo com dirigentes familiarizados com o processo.

A indicação de Faust surgiria um ano depois que o ex-secretário do Tesouro Lawrence H. Summers renunciou ao posto, em meio a sério descontentamento de parte do corpo docente. A oposição irrompeu em parte porque Summers sugeriu que a capacidade intrínseca poderia explicar por que o número de mulheres que chegam aos mais altos postos científicos e matemáticos nas universidades é inferior ao de homens.

Faust no momento dirige o Instituto Radcliffe de Estudos Avançados, de longe a menor das escolas que formam a universidade. Boa parte das pesquisas promovidas pelo instituto – cujo nome celebra o Radcliffe College, que no passado abrigava as mulheres que estudavam em Harvard- enfatizam os estudos femininos, sociais e de questões sexuais.

O instituto é uma organização de pesquisa, e patrocina o trabalho de cerca de 50 pesquisadores a cada ano. Com uma equipe de cerca de 80 pessoas e orçamento anual de US$ 17 milhões, Radcliffe mal responde por 0,5% do orçamento anual de US$ 3 bilhões da Universidade Harvard.

A despeito de sua falta de experiência no comando de uma grande organização, Faust aparentemente foi considerada pelo comitê de seleção de nove membros como uma administradora capacitada, e especialmente talentosa na construção de bons relacionamentos pessoais ¿um traço de comportamento valorizado, depois da polarização que surgiu durante o período de Summers como presidente, especialmente no que tange às mulheres do corpo docente.

A expectativa de que Faust seja indicada foi noticiada pelo Harvard Crimson, o jornal da universidade. John Longbrake, porta-voz de Harvard, não confirmou ou negou a informação.

Os colegas de Faust a descrevem como formadora de consensos, o que representa acentuado contraste com relação a Summers, que fez muitos inimigos entre os professores devido ao seu estilo enérgico e abrasivo, e ao seu esforço por promover mudanças na cultura do campus, vista por muitos como complacente em excesso.

Summers recorreu à Dra. Faust dois anos atrás para ajudar a acalmar a indignação causada pela sua declaração sobre as mulheres nos campos da matemática, engenharia e ciências. Ele pediu que ela presidisse dois comitês que criou para desenvolver novas maneiras de recrutar, reter e promover mulheres que trabalhem nesses campos, na universidade.

“Ela tem realmente o potencial de se tornar uma presidente sábia e bem sucedida”, disse Amy Gutmann, presidente da Universidade da Pensilvânia, ela mesma uma das dezenas de possíveis candidatos à presidência de Harvard, de acordo com uma lista divulgada em dezembro.

“Instituições complexas precisam de líderes sábios e dotados de visão, capazes de inspirar a colaboração necessária a promover mudanças”, disse Guttman, que anunciou repetidas vezes sua intenção de manter seu cargo atual. “E Drew tem tudo que é necessário para se tornar essa líder. Ela é muito determinada, muito sensata e muito sensível”. Harvard será a quarta das oito universidades que formam a chamada Ivy League – a elite do ensino superior americano – a apontar uma mulher para a presidência, e alguns integrantes de seu corpo discente esperam que isso ajude a derrubar as barreiras de sexo.

Nas últimas semanas, cresceram os rumores entre o corpo docente e o pessoal administrativo de que o comitê de seleção estava inclinado a escolher Faust. O interesse se intensificou na semana passada, quando outro candidato que era visto como um dos possíveis finalistas abandonou a competição.

Thomas R. Cech, bioquímico da Universidade do Colorado e também presidente do Instituto Médico Howard Hughes, uma organização filantrópica e de financiamento de projetos de pesquisa médica dotada de quase US$ 15 bilhões em capital, tomou a incomum decisão de anunciar publicamente que não desejava o cargo. O Dr. Cech telefonou ao Harvard Crimson, jornal produzido por alunos, e disse que estava decidido a abandonar a disputa devido aos seus compromissos para com o instituto médico e ao seu desejo de continuar suas pesquisas em laboratório.

Faust dirige o Instituto Radcliffe desde 2001. Antes disso, ela lecionou história dos Estados Unidos por mais de 20 anos na Universidade da Pensilvânia, onde ela fez seus estudos de pós-graduação. Especialista em história do sul do país e natural da Virgínia, ela escreveu livros sobre as mulheres sulistas durante a Guerra Civil norte-americana, sobre os intelectuais e a ideologia do sul confederado e também uma biografia de James Henry Hammond, um fazendeiro da Carolina do Sul na era da Secessão.

Alguns membros do corpo docente de Harvard, que pediram que seus nomes não fossem mencionados, disseram temer que Faust não tivesse a visão e a rigidez de espírito necessárias para se tornar uma líder forte.

A busca por um presidente começou pouco depois da renúncia de Summers, em fevereiro do ano passado, devido a uma rebelião na prestigiosa escola de artes e ciências, causada por seu estilo de gestão e por gafes como sua declaração sobre as mulheres. Derek Bok, ex-presidente da universidade, assumiu o cargo interinamente durante o atual ano letivo. A busca de um presidente se tornou um dos temas mais debatidos no mundo acadêmico, e chegou a gerar apostas em um site de jogo. O comitê de seleção inclui seis membros da Corporação de Harvard, que governa a universidade, e três membros do Conselho de Supervisão, um órgão consultivo muito mais amplo, cujos poderes formais são limitados.

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