Histórico

Imigrantes se recusaram a sair de Nova Orleans

Indocumentados têm mais medo do ICE do que de furacão

Por mais que a aproximação do furacão Gustav provocasse pânico, muitos indocumentados latinos se recusaram a deixar a Luisiana com medo de serem presos pelos agentes do ICE (Immigration and Customs Enforcement). Para estes imigrantes, lidar com um fenômeno natural seria mais fácil do que enfrentar a polícia de imigração.

Em Nova Orleans, por exemplo, muitas pessoas disputavam um lugar nos ônibus, caminhões e trens colocados à disposição daqueles que queriam deixar a região. A poucos metros de distância, no entanto, um grupo de trabalhadores da construção civil, todos de origem hispânica, acompanhava a movimentação exatamente de um local que normalmente serve de ponto de encontro para quem quer se oferecer para o trabalho.

Víctor Soto, um peruano de 44 anos, disse que havia ouvido o alerta pela televisão, mas não teve coragem de deixar a cidade. “O problema é que lá estão muitos agentes de imigração e todos aqui somos indocumentados”, confessou Soto.

No terminal principal de Nova Orleans, as filas de cidadãos à espera para embarcar num dos ônibus davam seis voltas no estacionamento. Era difícil, porém, encontrar algum imigrante. “Sabemos que muita gente morreu na passagem do furacão Katrina, mas não temos opção”, disse Carlos Mendoza, um imigrante hondurenho de 21 anos, que preferiu se juntar a outras sete pessoas em um pequeno apartamento nas redondezas durante o fenômeno. “Muitos ficaram aqui por medo, diria que mais da metade dos imigrantes”, acrescentou.
Na verdade, as autoridades prometeram ajuda a todas as pessoas, independente do status imigratório, em qualquer veículo que deixava a cidade ou mesmo nos abrigos montado para recolher a população, bem como garantiram que não haveria perseguição aos indocumentados nestes dias. Muitos, entretanto, preferiram não acreditar e ainda reclamaram que o serviço de emergência disponibilizado para quem desejava se cadastrar não foi oferecido em espanhol.

Quem ficou na cidade sequer deu as caras nas ruas durante a tormenta. José Gordillo, um mexicano de 50 anos, ficou em casa durante a tempestade com os dois filhos adultos, todos indocumentados, e recusou até o auxílio das equipes de assistência depois que Gustav se dissipou. Ele admitiu que viu bombeiros e médicos baterem à sua porta, mas preferiu abrir mão da ajuda. “Me deu um pouco de pânico, mas com a ajuda de Deus conseguimos passar por esta”, disse o mexicano.

Grupos defensores dos direitos dos imigrantes calculam que em Nova Orleans há aproximadamente 30 mil indocumentados, mas a maioria decidiu correr o risco com Gustav em vez de servir de alvo fácil do ICE. A população latina naquela area aumentou muito depois do Katrina, pois muitos trabalhadores se dirigiram para Nova Orleans e adjacências para ajudar na reconstrução das casas e comércio.

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