Marcus Coltro

Marc Vader e a Britadeira

Meu irmão mais velho, José, sempre roncou muito – dormíamos os três irmãos no mesmo quarto: o mais novo, Marcello, à minha esquerda, e o Zé à minha direita. Como eu sempre fui muito bom de cama – deito e durmo feito pedra instantaneamente – eu não ouvia quase nada, mesmo assim criei o hábito de dobrar o travesseiro sobre minha cabeça, tipo sanduíche para abafar o som. Já o Marcello se incomodava muito com a serraria noturna do Zé e essa técnica do travesseiro não era suficiente para ele. De vez em quando eu acordava e via objetos voando por cima da minha cama, que o Marcello jogava na direção do Zé para ver se ele parava – sem sucesso! Pela manhã, tinha um guarda-roupa espalhado no chão em volta de sua cama.

Depois que crescemos, o Marcello se mudou para os Estado Unidos (de lá ele não ouvia os roncos) e o Zé virou meu sócio nos negócios das conchas – viajamos muito ao redor do mundo desde o fim dos anos 80 e dividimos quartos de hotéis. Só então comecei a sentir o drama do Marcello. O Zé ronca tipo urso com asma, muito alto – e até eu comecei a me incomodar nas viagens. Aí comecei a recorrer a tampões de ouvido de espuma ou, mais recentemente, fones de ouvido da Bose com supressor de ruídos – só que é “um pouco” desagradável dormir com aquele trambolho na cabeça.

Nos meus poucos relacionamentos longos, minhas companheiras nunca reclamaram – mas eu era bem mais novo e mais magro, e certamente não roncava como hoje. Agora que eu cresci (lateralmente) a coisa mudou. Fiquei algumas semanas dividindo o quarto com minha mãe em Miami em uma viagem a trabalho, e ela reclamou da minha “serraria” noturna. Ela chegou a acender a luz do quarto para poder me acordar, já que só fazendo ruídos não funcionava. Para deixar minha mãe mais tranquila, dormi algumas noites no sofá na sala, mas eu quis entender o motivo (além da gordura) que estava me fazendo roncar mais. Li que uma noite de sono mal dormida piora o ronco, então reparei que tem um aplicativo no celular que é conectado com o relógio e registra o tempo e qualidade do sono, marca as fases de sono REM, leve, pesado e acordado no meio da noite – assim eu poderia acompanhar minhas noites e ver o que poderia estar causando tanto ronco. A desvantagem é que é necessário dormir com relógio no pulso, coisa que nunca gostei de fazer – me dá alívio tirar o relógio do pulso no fim do dia, tipo como as mulheres devem sentir quando tiram o sutiã para dormir.

Esse aplicativo tem até opção de gravar o ronco, mas tem que deixar o celular carregando e próximo da cabeceira. No dia seguinte fui conferir os resultados: durante a primeira noite fiquei acordado uma hora (espaçada), sono REM uma hora e cinquenta minutos, sono leve quatro horas e sono pesado uma hora (tudo aproximadamente). Admito que fiquei com receio de ouvir as gravações na primeira vez, principalmente pelo fato de ter sido mais de duas horas de ronco espalhados durante a noite!

Fiquei com pena da minha mãe na hora que ouvi as gravações – parecia o Dart Vader usando uma britadeira, droga. Tentei me controlar durante as noites seguintes, mas nem mudando de lado deu resultado – quando era mais novo, raras vezes roncava e só acontecia quando estava dormindo de barriga para cima, agora notei que a única posição que não ronco é de pé e acordado. E tanto faz para que lado a barriga está, aparentemente ela sendo maior não faz diferença se viro para o norte, sul, leste ou oeste.

Também notei que a intensidade piora de acordo com a dosagem alcoólica à noite, então aquele vinhozinho no jantar acaba causando uma sonorização maior. Após várias noites usando o aplicativo, cheguei à conclusão de que meu problema deve ser peso + jantar pesado + álcool + idade. Como preciso dar um jeito nisso, estou tentando encontrar uma forma de perder idade.

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