Marcus Coltro

Medroso!

Admito, sou um pouco medroso….

Só tive uma motocicleta, comprei em 1987 – minha mãe quase teve um treco, dizia que eu iria morrer, que era perigoso demais, que eu era muito desatento. Mas eu já tinha mais de 20 anos e acabei comprando a moto assim mesmo – depois de uns meses, bati e me machuquei um pouco – acabei vendendo, para o alívio de minha mãe. Droga, ela tinha razão! Mas mesmo depois de décadas eu ainda continuava sonhando que tinha a moto – na realidade eu só fiquei com o manual, que me esqueci de repassar para a pessoa que comprou. O engraçado é que a moto Yamaha (RD-ZII) ainda hoje vale quase o mesmo que uma moto nova.

Agora, um “pouco” mais velho, tive vontade de comprar outra – pode-se dizer que é crise dos ¾ de idade (se fosse crise de meia idade eu viveria até os 120 anos), mas mesmo me borrando de medo de andar em São Paulo, eu comprei. A maior diferença do momento é que além de minha mãe, tenho minha filha Bianca me atormentando, dizendo que quer que eu veja meus netos, que esteja em seu casamento, etc. Minha mãe ficou incomodada, mas muuuuito menos que a Bianca.

Bom, eu andei de moto várias vezes depois que vendi a minha primeira, mas muito esporadicamente. Minha decisão para comprar essa – uma Honda XRE 190 (motoquinha fraca) – foi muito bem planejada. Mentira. Eu passei na frente de uma concessionária um dia, entrei, perguntei quanto custava e comprei, depois de 5 dias estava com ela. Saí da concessionária pilotando como se já tivesse moto há mil anos! Mentira. Senti que precisava de rodinhas, mas acho que não vendiam na concessionária.

Depois de quase um mês andando de moto – bem pouco, só de casa para o escritório, quatro quadras, ainda estou meio inseguro mas não desisto. Esta semana instalei um baú para carregar alguma coisa e guardar o capacete. Ou virar motoboy, sei lá. Só esqueci do detalhe que para subir na moto agora preciso ser um pouco mais maleável, levantar muito mais a perna. Ou seja, eu saio da garagem de casa e vou direto ao escritório sem que ninguém me veja tentando desmontar a moto feito um retardado sem flexibilidade. Eu era bem mais flexível, deve ser o modelo da moto que faz isso com minhas pernas.

Minha família é formada de cabeças duras, isso vem desde a idade da pedra de acordo com as velhas escrituras. Desde pequeno eu tenho isso de morrer de medo de fazer algo e fazer assim mesmo. Quando comecei a viajar para o exterior com meu irmão, pensava “putz, acho que não terei coragem de viajar para outro país completamente sozinho…”. Além de fazer isso depois de uns anos, vou para lugares não tão seguros e onde sequer inglês falam. Nos primeiros mergulhos que fiz com Jacques Costeau (ok, não sou tão velho) eu ficava com receio de me afastar muito do dupla – atualmente só mergulho sozinho (não é o correto) em lugares ermos (não é correto), à noite (não é correto). E eu me borrava só de imaginar fazendo isso, imagine entrar no mar à noite sem ninguém por perto!

Recentemente comecei a me interessar por marcenaria. Comprei um monte de ferramentas, várias perigosas como tupia e uma mesa de serra circular. Cada vez que a uso fico me borrando de medo de ver meus dedos saírem voando!

Pois é. Sou um cagão. Mas enquanto tenho receio de usar qualquer coisa, fico mais atento. A partir do momento que criamos muita segurança com coisas perigosas é que os acidentes acontecem. Eu bati a moto porque já me achava um Evel Knievel (procure no Google se não souber quem é). Quase me afoguei mergulhando sozinho à noite a trinta metros de profundidade porque fiquei muito à vontade depois de mergulhar por quase quinze dias e acabei me esquecendo de ver se havia ar dentro do tanque. Com as ferramentas, me machuquei algumas vezes (bom, uso algumas desde pequeno), mas nada sério, tirando uns hematomas e queimaduras com ferro de soldar. Nas primeiras vezes que dirigi um carro sozinho, suor jorrava das minhas axilas, e quanto mais medo eu tinha de alguns caminhos, mais eu os fazia até perder o medo.

A questão é a seguinte, se o medo de fazer coisas novas ou perigosas me impedissem de fazê-las, eu não seria o homem que sou hoje. E as enfermeiras dos prontos-socorros do bairro não teriam me conhecido.

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