Opinião

O Dia das Mães e a síndrome do ninho vazio

Opinião

Por Irma de Mello*

Dizem que maio é o “mês das mães“, mas penso que mãe é todo mês, dia, noite, ano (…). Mãe é a sublime presença que, mesmo longe, acalenta os corações de seus filhos. Que bom tê-las e saber que se pode contar com seu “colo”. Os filhos usufruem do conforto de contar com esta fonte inesgotável de amor incondicional. Isto mesmo, não há no nosso planeta amor maior que o de mãe.

A mulher que é mãe, gera, nutre, cuida, guia e ama como ninguém. Por mais que isto tudo demande abrir mão de si mesma. Mesmo assim a mãe sofre quando já não se faz necessária na rotina de seus filhos e filhas. Mas chega um certo momento em que os filhos crescem, precisam traçar seus próprios caminhos. Sabemos que o ninho de amor familiar se assemelha ao ninho de pássaros e que, na hora certa, os jovens vão voar.

Para as mães, essa fase pode representar um sofrimento enorme. Recebo mães em meu consultório relatando imensa solidão física e mental quando os filhos deixam seus lares. Falo das mães, mas também incluo alguns pais e/ou tutores. É o que a Psicologia chama de síndrome do ninho vazio. Esta é uma doença das emoções, caracterizada por uma dor simbólica sendo, paradoxalmente, a presença viva da ausência. Essa etapa evolutiva dos filhos abate profundamente os pais. Claro que os sintomas variam de pessoa para pessoa, dependendo de sua personalidade.

Gostaria de trazer à tona uma situação aparentemente extrema, quando o ninho parece ficar literalmente vazio, que é quando o filho se muda para outro país. A sensação descrita pelas mães é de uma inutilidade ainda maior. Não é só dirigir algumas horas e já estar na casa do filho. Muitas mães não viajam de avião, não têm condição financeira ou disponibilidade de cruzar fronteiras para visitar seu filhote. Sendo tudo tão distante e diferente, não conseguem imaginar como eles estão vivendo. Resta, então, a espera por uma notícia, uma carta, uma foto ou telefonema, quem sabe uma visita.

Para o filho que se vai, tudo é novidade. Novos amigos, vida diferente, rotina pesada em busca de se adaptar e se estabelecer em outro pais. O tempo passa rápido, o cansaço do dia a dia, o estresse causado por tantas demandas em uma nova cultura. O contato com os pais é cada vez menor. Mas esta angústia de quem fica vai se tornando maior. Rever o quarto do filho, fazer seu prato preferido, enfim, tudo vai agravando o quadro daquela mãe com dificuldade de lidar com tanta mudança. Racionalmente, a mãe sabe que essa experiência é sem igual para seu filho, que é o desejo dele. Mas quem disse que amor de mãe habita a esfera racional?

É fundamental nessa etapa da vida o filho se lembrar que a ausência física não precisa   significar ausência de alma. Então deixo um recado: filhos, supram seus pais e, principalmente, as mães com informação, notícias, fotos, chamadas de vídeo, tudo que for possível. Isso fará seus pais se familiarizarem com seu novo estilo de vida, e sentir a sensação de estar fazendo parte, de pertencer. Todo contato irá amenizar o sofrimento.

Muitas vezes há uma inversão de valores, em que o filho precisa “consolar” os pais e isso é de extrema importância, principalmente para as mães. A síndrome do ninho vazio impacta a mulher em particular, pelo fato de que a maternidade ainda é vista como papel primordial ao qual elas se dedicam por, pelo menos, 20 anos. A transição de uma mãe para se tornar independente pode levar até dois anos. É preciso respeitar este tempo.

Quanto às mães, vejam a saída de seus filhos como uma oportunidade para se estabelecer uma nova ordem familiar, amando-os, claro, mas desapegando da utilidade que um dia tiveram em suas vidas. É preciso ter claro que há uma nova relação com o filho adulto, uma troca de experiências, um conselho e, muitas vezes, uma oportunidade de aprendizado com os filhos. Desapego não é ausência de contato, nem desamor. Desapego é saber que jamais deixarão de ser seus filhos, apenas cresceram e buscam seus propósitos de vida.

Mencionarei o trecho de um poema de Khalil Gibran, um poeta e escritor líbano-americano:

“Teus filhos não são teus filhos. São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma. Vem através de ti, mas não de ti. Embora estejam contigo, a ti não pertencem. Podes dar-lhes amor, mas não teus pensamentos. Porque eles têm seus próprios pensamentos (…)”.

*Psicóloga clínica graduada pelo Miami Dade College e Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Irma de Mello acumula mais de 18 anos de experiência em atendimento clínico.

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