Marcus Coltro

Reflexões pandêmicas

Pandemia

Nessa época de pandemia e tédio fico relembrando passagens de minhas viagens de mergulho.

Em 2007 fui mergulhar no lado caribenho do Panamá com meu amigo Tony McCleery em seu veleiro. Fomos para um grupo de ilhas chamado San Blas, lugar paradisíaco e isolado de tudo. Geralmente eu ficava entre dez e quinze dias nessas viagens, e era uma paz danada, raramente víamos outras embarcações.

Em um dos dias fomos até uma das ilhas mais afastadas do grupo, e eu iria mergulhar à noite em um ilhote na beira do drop-off. Eu só iria ficar no entorno do ilhote, que era raso e sem correnteza – mas o veleiro não poderia ancorar perto, então ele me levaria no bote e me buscaria depois de uma hora e meia, mais ou menos.

O local não era muito fácil de encontrar à noite, escuro como breu, o céu encoberto, sem casas ou outros barcos. O Tony me deixou lá e voltou para o barco, que estava ancorado a uns quinhentos metros.

A água estava clara e quente – não tinha correnteza, mas o mar estava bem crespo, com ondas batendo nas pedras e chacoalhando bastante. Eu só esperava não encontrar com os mesmos crustáceos vampiros que encontrei na Costa Rica uns meses antes, pequenos animais que são atraídos pela luz e se agarram à nossa pele para sugar sangue. Sem sinal deles, mas havia uns peixinhos bonitinhos, azuis e brilhantes que foram atraídos pela luz da lanterna. No começo tinha uns 10, 20, 30, um bilhão! Eles virtualmente bloquearam a luz, o que me fez desligar a lanterna para me afastar um pouco daqueles pentelheixes. Tentei me guiar por uma pequena bússola de pulso, que só lembro que não presta quando a uso. Ela trava na direção errada o tempo todo, e depois de alguns minutos eu estava encalhado no escuro em água rasa no meio de pedras!

Depois de alguns minutos. lá estava de novo, me arrastando nas pedras, com os maledetos peixinhos bloqueando a luz da lanterna! Desta vez era mais raso e quando movi meu braço para me levantar e me localizar, enfiei o pulso em um ouriço do mar. Sim, um daqueles com espinhos longos e venenosos… as mães dos ouriços no raio de 100 quilômetros ficaram com os ouvidos queimando do tanto que eu xinguei seus filhos de FDP. Fiquei em pé nas pedras para ver o estrago dos espinhos no meu braço fora da água, quando o tanque escapou do colete de mergulho – durante o dia eu usava tanques com dimensões um pouco diferentes uns dos outros, e não ajustei direito a fivela desse que eu estava usando.

Só havia passado meia hora e eu não havia produzido absolutamente nada, só estava ficando cada vez mais irritado. E o Tony só viria me buscar bem mais tarde… eu sequer podia chegar na pequena praia do ilhote, era muito raso e tinha muitas pedras no caminho. Sem falar que se eu desligasse a lanterna, a escuridão seria total – imagine entrar em um quarto sem janelas e fechar os olhos, escuro assim. O veneno do ouriço estava fazendo efeito, latejava pra dedéu. E quando estamos irritados, parece que tudo incomoda mais ainda.

Por sorte, o Tony viu meus movimentos fora da água com a lanterna e resolveu checar o que tinha acontecido – quando ele chegou eu expliquei meu mergulho estilo “Jerry Lewis”, e disse que preferia voltar ao barco e continuar o mergulho ali no dia seguinte.

Bom dito tudo isso, garanto que prefiro esse tipo de dia mergulhando a estar aqui no escritório escrevendo sobre o assunto…

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