Opinião

Rescaldo do primeiro turno eleitoral

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Antonio Tozzi*

Passado o frenesi do primeiro turno das eleições – e no aguardo do segundo turno -, algumas considerações devem ser feitas. Após o período de redemocratização do Brasil, estamos diante de uma escolha de Sofia: ou votamos no modelo que governou o país por 14 anos e jogou o país no caos, com exceção do primeiro mandato de Lula, ou apostamos no obscurantismo brandido por seu adversário, que provavelmente será o vencedor do pleito para presidente. Na maioria dos estados, porém, a agonia continua com a definição de seus próximos governadores.

Sem entrar no mérito de qual candidato é o melhor, até porque decidi anular o voto por não confiar em nenhuma das propostas, gostaria de analisar o pós-eleição e fazer uma radiografia sobre como ficou o cenário político brasileiro depois de 7 de outubro de 2018.

Inicialmente, vamos elencar quem foram os perdedores:

Partidos tradicionais – PSDB, MDB e PT foram os grandes derrotados nas urnas pelos eleitores cansados do jogo político destas siglas que se revezam no poder enquanto o país está em franco declínio econômico, social, cultural, educacional e de atendimento aos preceitos básicos proporcionados pelo Estado, como saúde, educação e segurança pública. Em função disto, PT e PSDB, embora ainda continuem sendo as maiores bancadas no Senado, perderam respectivamente 37% e 34% de representatividade, enquanto MDB caiu para o quarto lugar, com a perda de quase metade de sua bancada. Em contrapartida, o então minúsculo PSL cresceu 4.278%!

Apoio de artistas – Os artistas se acham os oráculos do povo. Com uma intensa campanha contra Bolsonaro, somente conseguiram angariar antipatia do eleitorado e ficou constatado que eles têm pouquíssima influência sobre os eleitores que dispensam sugestões deles.

Debates eleitorais e horário político – O fenômeno Jair Bolsonaro e sua até então irrelevante sigla SPL dinamitaram estes instrumentos. Por causa da facada, ele compareceu a poucos debates, que se revelaram enfadonhos, engessados e desinteressantes. Debate só funciona com dois e não com uma plêiade de desconhecidos, como é o caso do Cabo Daciolo, que só servem para melhorar o anedotário nacional.

Primeiro turno – Admito que fui entusiasta da instituição do segundo turno como uma maneira de os eleitores escolherem entre os candidatos restantes qual o que ficava mais próximo ao conteúdo programático de seu candidato derrotado. No entanto, a eleição de 2018 provou que o tal “voto útil” foi usado ainda no primeiro turno. Em consequência disto, candidatos como Geraldo Alckmin, Marina Silva, Álvaro Dias, Henrique Meirelles, João Amoedo e até mesmo Ciro Gomes fossem vítimas desta opção. Daí, chega-se à conclusão que o melhor a se fazer é acabar com a instituição do segundo turno para economizar tempo, dinheiro e paciência dos eleitores.

Institutos de pesquisas – A cada eleição, os tais institutos de pesquisas perdem mais credibilidade. E isto ocorre em escala mundial. Erraram aqui ao prever a vitória de Hillary Clinton, erraram na Europa com a derrota do Brexit e agora foi um vexame. Davam como certas as vitórias de Dilma Rousseff e Eduardo Suplicy para o Senado, e ambos não ficaram nem com a segunda vaga em seus estados; jamais anteciparam os crescimentos de Romeu Zema em Minas Gerais e de Wilson Witzel no Rio de Janeiro. Eles precisam rever suas metodologias ou vão virar motivos de piada. Aliás, já viraram com vários memes circulando nas mídias sociais.

Agora, vale destacar os vencedores:

Jair Bolsonaro – Fica difícil entender como um capitão reformado do Exército, membro do baixo clero da Câmara Federal e há 28 anos na vida pública conseguiu catalizar os corações e as mentes dos eleitores brasileiros propaganda ser contra “tudo que está aí”. Como desconfio de salvadores da pátria (os últimos exemplos comprovam isto: Collor e Lula), recebo com ressalvas a iminente vitória de Bolsonaro, embora respeite a escolha dos eleitores

PSL – Um partido inexpressivo, com apenas 7 segundos de tempo no horário eleitoral, saiu desta eleição com quatro senadores e 52 deputados federais, a segunda maior bancada da Câmara Federal.

Mídias sociais – A cada eleição vem-se comprovando o fenômeno das mídias sociais. Como mencionei, Bolsonaro tinha apenas 7  segundos, mas sua candidatura ganhou consistência entre seus admiradores e correligionários que não param de enviar notícias, vídeos e fatos sobre o candidato e procuram ao mesmo tempo desconstruir os adversários.

Fake news – É impressionante a resiliência destes exércitos de veiculadores de fake news que se escondem atrás de uma tela de computador ou de celular. Os simpatizantes dos dois candidatos (Haddad e Bolsonaro) enviam constantemente vídeos e informações a favor de seus candidatos e contra o adversário. E veiculam sem o menor pudor montagens mal feitas para disseminar ódio. Dois exemplos: Manuela D’Avila, candidata a vice na chapa de Fernando haddad, usava uma camiseta com esta inscrição: “Rebele-se”. Na montagem a inscrição se tornou “Jesus é travesti”. Do outro lado, Flávio Bolsonaro, filho de Jair, usava uma camiseta sem inscrição. A fake news criada pelos adversários pespegou “Movimento nordestinos voltem pra casa. O Rio não é lugar para jegue”.

Ódio – A disseminação do ódio talvez seja a face mais assustadora desta eleição. Os dois lados propagaram e continuam a propagar ameaças, calúnias e ataques. A cultura do ódio começou na época do PT, com Lula inflamando o povo com o discurso do “Nós x Eles”, referindo-se às elites brasileiras. Agora, vem revigorado com a turma de bate estacas de Bolsonaro a ameaçar grupos LGBT, esquerdistas e todos que pensam diferente de sua cartilha. Nem mesmo o astro Roger Waters, do Pink Floyd, escapou deste “linchamento”.

Democracia – Apesar de todos estes problemas, não se pode deixar de enaltecer a vitória da jovem democracia brasileira, que pode ver a alternância no poder. Democracia pressupõe exatamente isto mesmo. Aceitar a troca de guarda e cobrar resultados dos que estão no governo.

Agora, resta aguardar o resultado final para saber quem vai assumir a cadeira de Michel Temer no Palácio do Planalto a partir de 1º de janeiro de 2019. E todos brasileiros devem estar atentos para que a democracia continue intacta porque, com todos os defeitos, ainda é bem melhor do que a ditadura.

Para finalizar, apenas gostaria de dar uma sugestão. O Brasil carece de uma série de reformas, mas, ao meu ver, uma é fundamental: a reforma política. Hoje, no Brasil há 30 partidos políticos representados! É um saco de gatos. A reforma política deveria limitar a formação de partidos a cinco ou no máximo sete partidos – os quais abrangeriam todo espectro ideológico – extrema-esquerda, esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita, direita e extrema-direita. Pode-se até eliminar os dois extremos, mas todos devem acomodar-se neste universo. Senão, criamos profissionais para disputar eleições como vem sendo os casos de marina Silva e, pior ainda, José Maria Eymael, que passou a viver puramente do fundo partidário.

E também optaria pela substituição do presidencialismo pelo parlamentarismo. Se houvesse parlamentarismo no Brasil, as saídas de Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff do poder não teriam sido tão traumáticas. Para piorar, os vices de Bolsonaro e de Haddad são general Hamilton Mourão e Manuela D’Avila. Já pensou se o vencedor sofrer o impeachment…

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