Histórico

A escolha de Obama

Certamente você já ouviu falar da escolha de Sofia. Era uma judia na época do nazismo que tinha um casal de filhos. Quando tentava embarcar num trem, um soldado nazista a impediu de subir no trem com os filhos, a menos que ela escolhesse deixar uma das crianças.

Atônita diante do pedido inusitado, ela tentou argumentar, mas o soldado foi intransigente. Ou fazia a escolha ou ninguém embarcaria. Diante disto, ela acabou entregando a filha menor e embarcou com o filho no trem. Claro que sua atitude deixou uma sequela indelével dentro dela que a perseguiu até o fim da vida.

Traçando uma analogia com a situação de Barack Obama, podemos concluir que ele está diante de uma verdadeira “escolha de Sofia”. Logo, ele, Obama, que foi tão crítico de George W. Bush e seus falcões que jogaram os Estados Unidos em duas guerras – Iraque e Afeganistão – pode autorizar a invasão americana na Síria, contradizendo todo seu discurso pacifista.

Claro que ele não quer envolver o país em outra guerra. Pelo contrário, seu sonho como presidente é deixar a Casa Branca sem a presença de militares em zonas de guerra. Como então autorizar o bombardeio à Síria e entrar para a história como um dos iniciadores de uma guerra contra um país do Oriente Médio?

Apesar de seu viés pacifista, Obama está em um dilema. Se ele simplesmente fingir que nada ocorreu na Síria, passará uma imagem de governante fraco, que se curva frente à pressão de outros mandatários, sobretudo do arrogante Vladimir Putin, da Rússia. Depois do episódio com Eric Snowden, que vazou dados da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA, e conseguiu asilo político do governo russo, os dois mandatários estão em campos opostos na questão da Síria.

Putin deu ordem para que seu representante no Conselho de Segurança das Nações Unidas não autorizasse nenhuma ação militar contra a Síria, enfraquecendo qualquer ato mais efetivo por parte dos EUA, França e Inglaterra. E a Rússia ainda conseguiu cooptar um importante aliado, a China, para bloquear as pretensões das potência ocidentais.

Logicamente, isto tudo faz parte de um teatro geopolítico mundial. A Rússia e a China têm interesse em manter o ditador Bashar al Assad no poder porque isto representa bons negócios para eles. Afinal, são estas nações que se beneficiam da venda de armas para as força militares sírias, além de empresas e empreiteiros russos e chineses conqustarem lucrativos contratos para explorar o país.

Do lado ocidental, porém, o panorama é outro. A Síria é vista como um país fechado, aliado do Irã, inimigo de Israel, governado por um ditador e financiador de grupos terroristas islâmicos como o Hezbollah no Líbano. Para piorar, vem massacrando sua população civil que quer depor o ditador Assad, tentando aproveitar-se dos ventos mudancistas trazidos pela Primaver Árabe que tirou do poder vários ditadores da região, independente de serem de direita ou de esquerda.

Obama tem contra si uma aposta alta. Como num jogo de pôquer, ele talvez tenha tentado blefar para se livrar da incômoda situação em que estava, tanto no cenário internacional como no doméstico. Apostando no bom senso, ele declarou que somente atacaria a Síria caso ficasse confirmado o uso de armas químicas por parte do governo sírio contra sua própria população.

Entretanto, Bashar al Assad pagou para ver. Agora cabe a Obama mostrar que não estava blefando quando fez a advertência. Na verdade, as opções que surgem para o presidente americano são todas ruins.

Se decidir atacar a Síria, mete o país em outra guerra. Caso opte por recuar será duramente criticado tanto no plano externo como no interno, com os rivais republicanos aproveitando o momento para mostrar ao eleitorado americano que Obama não tem estatura para o cargo que ocupa. Se fornecer armas para os rebeldes, pode estar armando grupos extremistas que depois podem voltar-se contra o próprio ocidente. Quem não se lembra dos EUA armando o al Qaeda para combater os russos que invadiram o Afeganistão e depois se voltou contra o próprio EUA?

Claro que ele prefere uma solução diplomática, mas agora parece que a corda se estendeu muito para que os atores voltem à mesa de negociação. O momento agora é de decisão. O imobilismo passará uma imagem de debilidade que não combina com o mandatário da nação mais poderosa do planeta.

Pelo que parece, a alternativa deve ser o bombardeio a alvos estratégicos das forças militares leais a Assad, atingindo depósitos de armas e munições, reservatórios de combustível, centros de abastecimento, etc. Mas quem garante que os ataques terão esta precisão cirúrgica sem causar a morte de inocentes? Ou então que os próprios governistas coloquem crianças e mulheres junto a estes alvos tornando-os escudos humanos, para depois usar isto como propaganda política?

Realmente não tenho nenhuma inveja de Barack Obama neste momento. E você?

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