Histórico

A ressaca dos sete a um

Ana Paula Franco

“Acordei sobressaltado. Tive um pesadelo. Nele a Alemanha enfiou sete gols na Seleção Brasileira. Antes dos 30 minutos já estava cinco a zero”, postou o amigo jornalista Maurício Lara em sua página no Facebook, na manhã seguinte ao fatídico 7 a 1 que levou a Alemanha para a final da Copa do Mundo. Sete a um. Sete? Mas como assim sete? Com a mesma “ressaca” do amigo jornalista citado acima, acordou o brasileiro. Não, Felipão, sete a um foi humilhação demais. Não Bernard, não David Luiz, não Fred, sete a um não. Não, Neymar. Foi demais. Foi demais para o coração do brasileiro que estava lá no Mineirão, em todo o Brasil e em todas as partes do mundo torcendo por vocês. Como nós aqui no sul da Flórida.

Este jogo vai ser como a lembrança do campeonato perdido para o Uruguai em 1950. Lá em 2064, será lembrado. E quem assistiu a esse vexame vai se lembrar exatamente onde estava na hora que o juiz apitou o final da partida. Sete a um. Sete? Sete foi demais.

Eu sempre falei que o emocional é meio time em campo. E neste caso ficou mais que provado que o desequilíbrio emocional, aliado, claro, à falta de técnica e superioridade alemã em campo, falou mais alto. Felipão no alto da sua arrogância, a falta que o Neymar fez, são muitos porquês e senãos, mas nada justifica os sete. Ah, os sete.

É difícil aceitar a derrota. É muito difícil e por esse placar então nem se fala. Daí surgem diversas teorias conspiratórias, uma mais fantasiosa que a outra, de jogo comprado, jogo vendido e até que a fratura do Neymar foi uma farsa para isso e aquilo outro. “Tudo culpa da Fifa” e “Tudo culpa da Dilma e do PT”, para não aceitar o placar vexatório e a péssima atuação da Seleção e do Felipão.

Justo na Copa das Copas, a Copa no Brasil, a Copa que encantou a mídia estrangeira, que encantou os turistas do mundo inteiro, que colocou o Brasil novamente nas páginas de notícias positivas. Apesar de toda a torcida contra o Mundial antes de ele começar, a Copa das Copas aconteceu, deu tudo certo, com alguns percalços no meio do caminho, claro, num evento daquele tamanho. A queda de um viaduto em Belo Horizonte tirou a vida de duas pessoas, foi uma tragédia. Mas o Mundial aconteceu e a Seleção Brasileira, mesmo que aos trancos e barrancos, chegou à semifinal. E nós acreditamos, nós torcemos, nós choramos.

O brasileiro ficou com um gosto amargo na boca. Como uma ressaca mesmo desse jogo, a ressaca dos sete. Nós temos o direito de ficar tristes, temos todo o direito como torcedores. E se ficamos com vergonha, não foi vergonha do país, para nem começar a falar de política. Ficamos com vergonha porque perdemos de sete e poderiam ter sido oito, nove ou dez. Já virou piada, já virou meme, mas a lembrança de não ver nossa Seleção disputar a final da Copa, a Copa das Copas, em seu próprio país vai ficar para a história. Mas ressaca passa.

“O que nos fez passar vergonha foi o Brasil no campo e não o país que está sediando a Copa! São muitos os elogios feitos pela imprensa estrangeira e pelos turistas que aqui estão. Isto é fato, felizmente”, disse outra amiga da rede, Selmi Escobar. O repórter do Wall Street Journal,  Matthew Futterman, escreveu na quarta-feira (10) que o Brasil não precisa se preocupar, porque tudo vai ficar bem. E que a derrota que nos entristeceu e encheu de vergonha não será uma cicatriz. Que bom ouvir isso.

Sim, a Copa no Brasil arrancou elogios da mídia estrangeira, vídeos diversos, inclusive da Seleção Alemã, mostrando o que o Brasil tem de melhor. As belezas naturais, as praias, a hospitalidade do povo, a comida, a alegria e tudo mais que nós brasileiros sabemos que temos, mas tínhamos esquecido.

E se assim como eu você não pensou no lado do político e nas mazelas sociais da sociedade brasileira, que agiu com o coração, que torceu e que chorou, tem muita gente igual a você. Não se sinta mal por não ter torcido contra para deixar de eleger fulano ou sicrano. Se você gosta do esporte, ama a Seleção e ama o Brasil, sim, sofreu com os sete. Ah, os sete de novo! Se aquele seu amigo mala falar: “ah foi ótimo a Seleção perder porque blá, blá, blá”, releve. Deixa pra lá. Você é brasileiro, ama o Brasil, sofreu pelos sete e está feliz com a Copa das Copas. Levanta a cabeça, vamos torcer amanhã para o Brasil ganhar da Holanda e para a Alemanha repetir o feito de terça-feira contra a Argentina. Ressaca passa.

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