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Amargo regresso

Volta ao Brasil sem planejamento pode resultar em arrependimento

A crise nos Estados Unidos fez com que muitos imigrantes voltassem para o país natal nos últimos meses. Na nossa comunidade não foi diferente e há muitos casos de pessoas que interromperam o sonho americano em função do desejo quase incontrolável de retorno ao Brasil. Mas, infelizmente, quando a decisão é tomada sem planejamento e de maneira impetuosa, pode resultar em problemas e arrependimento.

Este foi o caso do mineiro Jefferson Couto, que em 2008 deixou para trás 12 anos de América (divididos entre Boston e Pompano Beach) e decidiu voltar para Minas Gerais quando perdeu o emprego como motorista de uma operadora de turismo. Em carta ao AcheiUSA, ele disse que não conseguiu se readaptar totalmente à vida em Belo Horizonte e, por isso, decidiu compartilhar sua experiência através de um e-mail. “Brasileiro se acostuma a tudo, mas sinto muita falta da minha rotina aí na Flórida. Por isso gostaria de dizer para os muitos amigos que ainda tenho aí para que pensem bastante antes de resolver voltar”, afirmou Jefferson, que hoje trabalha numa fábrica de isopor em Contagem.

Segundo ele, os maiores desafios que ele enfrenta são a violência crescente naquela região e o salário, que nunca paga todas as contas no fim do mês. Ele tentou entrar nos Estados Unidos, mas o visto foi negado porque ele ficou em situação irregular no país por muito tempo. “Se as coisas não melhorarem por aqui, vou tentar entrar pelo México. Estou cansado de passar necessidade”, lamenta.

 Eziel TavaresO retorno para a Flórida não foi problema para Eziel Tavares, que jamais ficou além do período de permanência estipulado em sua I-94. No ano passado, o gerente do Brazilian Depot decidiu retomar sua vida aqui em Deerfield Beach, depois de passar mais de um ano em Recife.

“Vivi sete anos na Flórida e sonhei em voltar para minha terra natal, mas não valeu a pena”, revela Eziel, que em pernambuco montou uma representação comercial. Hoje ele sabe que seu futuro está aqui, tanto que vai trazer mulher e os dois filhos para os Estados Unidos ainda este ano.

Na opinião dele, o segredo para quem pensa em voltar para o Brasil é uma boa reserva em dinheiro. “Sem capital ninguém consegue ter a mesma qualidade de vida que tem aqui na América, apesar de todas as dificuldades enfrentadas num país estranho”, conta Eziel.

O pastor Silair Almeida, da Primeira Igreja Batista Brasileira do Sul da Flórida e um dos representantes da América do Norte na conferência ‘Brasileiros no Mundo’, diz que tem acompanhado de perto muitos casos de conterrâneos que já estão arrependidos do retorno ao país. “Esta é uma decisão que deve ser tomada depois de muita reflexão e não nos momentos de impulso”, ressalta. Ele aproveita para citar uma pesquisa feita pela Prefeitura de Governador Valadares, mostrando que 80% dos repatriados perdem todo o dinheiro acumulado na América em apenas um ano e só pensam novamente no sonho americano. Talvez por isso, a cidade – conhecida pelo grande número de emigrantes – montou uma secretaria de recepção às pessoas que decidem voltar à terra natal, inclusive com atendimento psicológico.

Por isso, muita calma nessa hora. “Se eu pudesse voltar no tempo, jamais teria saído dos Estados Unidos”, afirma Jefferson, admitindo, porém, que cada pessoa tem sua história e que conhece muitos que retornaram e não têm do que reclamar.

NA FLÓRIDA:

A Rede de Brasileiros da Flórida se reuniu no último sábado para definir as propostas do grupo da região para a Conferência ‘Brasileiros do Mundo’, que acontecerá em agosto, no Rio de Janeiro. Com a presença de representantes de diversas entidades, associações e grupos ou mesmo de membros da comunidade interessados em participar e opinar, o encontro foi mediado pelo vice-cônsul Roberto Parente e pelo pastor Silair, um dos representantes da América do Norte para o congresso organizado pelo Itamaraty.

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